A psicologia explica: revolta de familiares é normal após tragédias como a do Ninho do Urubu

Por: Venê Casagrande

O futebol viveu momentos de grande tristeza na última sexta-feira (08). Em um dos alojamentos do Ninho do Urubu, dez jovens perderam suas vidas após incêndio no local, iniciado ainda pela madrugada. As famílias das vítimas, pegas de surpresa em meio à tragédia de grandes proporções, demonstraram revolta com o ocorrido. A reportagem do Coluna do Flamengo conversou com Rodrigo de Vasconcellos Pieri, mestre em Psicologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), para entender detalhes sobre o comportamento dos familiares.

Segundo Pieri, que chegou a trabalhar nas categorias de base e profissional do Madureira e Olaria, explicou que o processo de luto divide-se em etapas, em que uma delas pode ser considerada a raiva. Os diferentes comportamentos apresentados pelos parentes das vítimas envolvidas na tragédia foram detalhados pelo psicólogo. Confira abaixo a entrevista completa.

Como as pessoas geralmente se sentem quando se perde um filho ou um familiar próximo?

É muito difícil precisar como será a reação de uma pessoa em uma situação tão extrema como essa. Cada subjetividade pode reagir de uma forma. Cada um reage dentro de suas possibilidades e contextos dentro daquele momento. De toda forma, é muito importante que a pessoa que perdeu um ente querido possa vivenciar e elaborar o luto. A psicologia clássica diz que há cinco etapas neste processo de luto: negação, raiva, depressão, negociação e aceitação. Cada indivíduo o vivencia dentro de suas possibilidades psicológicas.

A revolta é algo normal?

Se considerarmos a raiva como uma das etapas da elaboração do luto, pode-se dizer que sim, que pode ser esperado algum comportamento de revolta. Nesta etapa da raiva, a pessoa que teve uma perda tão grande pode se perguntar o porquê de tal perda, se ela é justa e quem são os culpados por ela, por exemplo. Entretanto, é importante ressaltar que cada pessoa elabora isso de uma forma muito particular e as reações podem ser distintas.

Sabe de alguma assistência que o flamengo está prestando às famílias das vítimas na área psicológica?

O Flamengo é um clube de futebol que possui três psicólogos: Alberto, Michelle e Duda, além de três estagiários, entre eles o Vinicius. Tenho contato direto com Alberto, com a Duda e o Vinícius, os dois últimos foram meus alunos. Como vice-presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte (ABRAPESP) e membro fundador e diretor executivo da Associação de Psicólogos do Esporte do Rio de Janeiro (ASSOPERJ), tenho acompanhado os esforços que o departamento de psicologia do esporte do Flamengo tem dedicado para acolher os que foram direta e indiretamente afetados por esse triste episódio. Além disso, psicólogos e psicólogas de todo país têm se colocado à disposição de forma extremamente solidária.

Há algum protocolo de como lidar com esse momento?

O principal protocolo é acolher o sofrimento psíquico de cada um. Entender que cada pessoa vivência episódios de luto dentro de suas possibilidades. O acompanhamento agora deve ser contínuo e respeitando as individualidades e o tempo de elaboração de cada um. As perdas foram enormes e provavelmente não serão cicatrizadas de um dia para outro.

As explicações do psicólogo Rodrigo de Vasconcellos Pieri vão de encontro com o comportamento apresentado por Sebatião Rosa e Simone de Souza, tio de Samuel Thomas e tia de Jorge Eduardo, respectivamente, que demonstraram insatisfação com o clube da Gávea após o incêndio.

– Com certeza (fiquei decepcionado). Poderia acontecer tudo, menos o Flamengo ter uma ‘estruturinha’ dessa. Quem é para ter esses containers para jogador dormir é time pequeno. O Flamengo, com a estrutura que tem, colocar os atletas em um lugar desse, é lamentável -, disse o tio de Samuel Thomas, enquanto Simone de Souza se queixou da falta de assistência do Fla ante a documentação de seu sobrinho.

– O Flamengo não tem a arcada dentária, o Flamengo não tem nada do Jorge Eduardo. Nós, de Além Paraíba, que estamos trazendo isso aqui. A arcada dentária que eles falam que têm é o orçamento do dentista, foi o que apresentaram pra gente. E isso não é suficiente. Estão dando todo o apoio, mas para liberar o corpo, é a gente. Preferiram que ele morasse em um contêiner, onde ele morreu queimado. Depois vamos ver. A única que eu quero é tirá-lo daqui. Aqui está toda a documentação que eu preciso para levar meu sobrinho embora. O Flamengo não está trazendo nada, quem está trazendo sou eu, toda a documentação dele -, revelou a tia de Jorge Eduardo, antes da retirada do corpo do jovem.

Tio-Samuel A psicologia explica: revolta de familiares é normal após tragédias como a do Ninho do Urubu

Em nota oficial divulgada neste domingo (10), o Flamengo ressaltou que a prioridade é “amparar as famílias de forma material, moral e psicológica”, bem como também dar assistência aos feridos que se encontram em recuperação e demais sobreviventes da tragédia ocorrida no Ninho do Urubu.

Fonte: https://colunadoflamengo.com/2019/02/a-psicologia-explica-revolta-de-familiares-e-normal-apos-tragedias-como-a-do-ninho-do-urubu/

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