Não é possível ter certeza se o Flamengo cansou ou tirou o pé em vitória que parecia caminhar para uma goelada, mas por pouco não escapou diante do Fluminense.

Ficou claro em campo, no entanto, que o primeiro tempo de supremacia em todos os quesitos e o 3 a 0 no placar levaram a um comportamento mais relaxado na etapa final.

Foram 60 minutos de supremacia e espetáculo, e o restante com sucessivos apagões, com direito a muita cera no fim para manter o resultado positivo que deu a classificação à final da Taça Guanabara.

Mesmo que Jorge Jesus tenha tentado ajustar o time defensivamente, se esgoelando na beira do campo, os jogadores quebraram uma regra básica de sua filosofia. Deixaram de buscar os gols, e acabaram levando.

È difícil atribuir a queda de desempenho tático, físico e técnico a um motivo apenas, tampouco a um ou outro jogador. Só que o Flamengo ideal, com os jogadores titulares, chega ao terceiro jogo, e ainda não havia apresentado tal comportamento. Não desarrumado como se mostrou. Talvez circunstancial.

Como no domingo o time tem a Supercopa do Brasil, em Brasília, pareceu se poupar, tentar controlar o resultado. Acabou, por pouco, indo à final, mas fazendo uma exibição no Maracanã que teve duas caras.

A primeira, com intensidade, entrosamento e sem brechas para o adversário. O gol de Bruno Henrique pelo alto, no passe de Arrascaeta, demonstrou todo o poderio aéreo do ataque rubro-negro, e de seu atacante principal em clássicos.

Gabigol não ficou atrás. Enquanto teve fôlego, ou quis, correu por todo o campo. Fez o segundo gol em arrancada típica, teve calma e finalizou com precisão.

No terceiro, a dupla tabelou, e Filipe Luis recebeu passe de calcanhar de Gabigol para fazer o terceiro, no começo do segundo tempo. Foi a senha para o apagão começar.

O próprio lateral, até então inteiro na marcação, passou a atuar mais por dentro, e deu muitos espaços. A cobertura ficou deficiente com Gerson, que acabou dando lugar a Diego. O cenário não melhorou muito.

O meia não conseguiu fazer uma boa transição. E o Flamengo perdeu o meio-campo. Com a entrada de Fernando Pacheco pelo lado direito do ataque do Fluminense, a defesa rubro-negra abriu buracos. Ou foi vazada, para ser preciso.

Em bobeada pelo alto, Luccas Claro diminuiu. Em seguida, Evanilson teve espaço para finalizar sem marcação dentro da área. O Flamengo ainda levou dois gols, ambos anulados pelo árbitro de vídeo. Poderia ter feito o quarto, mas Éverton Ribeiro chutou em cima do goleiro, livre.

O time rubro-negro passou metade do segundo tempo tentando reter a bola, sem trocar passes, sem conseguir controlar o jogo. Apenas se defendeu em alguns momentos. Situação atípica para o trabalho de Jorge Jesus. Entraram, além de Diego, Michael e Pedro, desta vez sem efeito algum.

Os minutos finais de cera de Diego, Bruno Henrique e até de Jorge Jesus, com a substituição de Pedro, ajudam a explicar que o comportamento não foi ideal desta vez. O técnico chamou atenção de Diego, de Arão, e não conseguiu se fazer entender pela reação do time em campo.

Como já dito, a terceira partida da equipe principal foi o primeiro clássico, o teste mais difícil, antes de encarar o Athletic-PR no domingo. E mostrou que o Flamengo precisaria sim de uma pré-temporada para entrosar ainda mais seu elenco. E vai fazer isso nos jogos que valem.

Gustavo Henrique e Léo Pereira, que começaram bem, se perderam no meio do jogo. A volta de Rodrigo Caio promete moralizar o posicionamento tático. Para não perder o padrão, Jorge Jesus tem colocado os reforços aos poucos.

Thiago Maia até entraria, mas o jogo exigiu de Arão, que faz o balanço defensivo e era necessário para manter o resultado. Falta Pedro Rocha, que concorre com Vitinho e outros atacantes.

Os testes no Estadual até agora deram bons ensinamentos para o Flamengo. O mais importante é não esquecer as lições de 2019. O elenco encorpado parece estar se reconectando, e são normais alguns curtos-circuitos por enquanto. O brilho da equipe segue ainda mais forte com os conceitos consolidados. Falta estar pleno fisicamente.