Faz pouco mais de uma semana de um dos dias mais felizes da vida de vocês. Tempo suficiente para assimilar tudo que aconteceu, tanto aí quanto aqui do lado das três cores. Se a ficha demorou a cair para quem foi campeão, imagina para quem torceu fervorosamente contra (sem hipocrisia, o texto vai ser franco). Estava tão perto e, de repente, tudo foi pra longe: o Flamengo conquistou a América e mais um pouco. Um muito, na verdade.
Não tenho a pretensão de falar pela torcida do Fluminense. Eu falo por mim, Rodrigo, tricolor desde 1987, ano em que nasci e que vocês foram campeões brasileiros (lembra da promessa do texto franco?). Com os ânimos mais serenos, agora consigo enxergar melhor o tamanho de tudo. E também o quanto pode ser bom, no meio do caos de ser rival direto, o que vem pela frente para nós. Sou velho demais para não perceber e admitir que hoje vocês estão de fato num outro patamar, mas jovem o suficiente para ter o verde da esperança de acreditar que por outro lado o futebol é cíclico, sobretudo o brasileiro. O dinheiro e a organização fora de campo são muito importantes, mas basta um detalhe (ou uma barriga) para trocar a ordem das coisas e os gritos de gol. Vocês mesmos se lembram de 2013. A bola não costuma seguir uma lógica. Ainda bem.
Agora voltemos ao Flamengo. A sua vitória mostrou um lado que muitas vezes não se enxerga, muito porque vocês têm o hábito – por vezes irritante, é verdade – de sacanear sem motivo, de secar o time dos outros até as últimas consequências e depois falar que não se importa. Vocês também sabem criar uma aura de vencedor de tudo, mesmo em momentos de criiiiiiiiiiiise na Gávea. Ser campeão da Copa Libertadores e, 24 horas depois, do Brasileirão foi tão chocante, que até vocês se impressionaram. Vejo nesse impacto um lado mais humano. Vocês estão em comemoração e ao mesmo tempo incrédulos. Gente como a gente.
Quando olhei a festa que foi feita nas ruas, no tamanho do sorriso das crianças imitando o Gabigol e na espontânea manifestação popular dessa nação tão repleta de diversidade é que percebi que, no fim das contas, o clube de vocês é o que é devido à sua simplicidade de ser. O Flamengo é simples. Nelson Rodrigues falava em “força da natureza”, mas o aquecimento global do futebol deixou um pouco esquecido o seu tamanho, a sua grandeza.
flamenguista se deixa levar dms por ódio de vascaíno kkkkFla-Flu é de longe o maior e mais histórico clássico. virou uma expressão pra rivalidade. a história de um se confunde com a do outro. nd nunca mudará isso
— D (@danielcriador) November 27, 2019
Parabéns pelo ano mágico, foi muito merecido, mas chega de rasgação de seda. Desde a Lagoa, passando por recordes no Maracanã, até chegar a algumas dores de cabeça de Zico, Romário e o melhor ataque do mundo, no fundo todo flamenguista sabe que o Fluminense estará sempre ali para manter a tradição de no Fla-Flu ser um “ai, Jesus”. Eu teria um desgosto profundo se não fosse assim.
Fonte: https://www.90min.com/pt-BR/posts/6508589-carta-aos-flamenguistas-de-um-tricolor?utm_source=RSS
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