Entre a sinceridade e a "marra", Gabigol dribla a praia e abraça o Flamengo: "Coração falou mais …

Não são poucos os atrativos de jogar no Flamengo. Um deles é morar no Rio de Janeiro. Cartão postal do Brasil, a cidade, suas belezas e tentações são uma espécie de oásis para nove em cada dez jogadores. Seriam os ares cariocas um dos motivos de Gabriel Barbosa ter optado por vestir rubro-negro? Surpreendentemente, não.

– Olha, para ser bem sincero, não gostei muito das outras vezes que vim ao Rio. Santos é bem tranquilo. Aqui tem muita gente na praia, no carro, no trânsito… No Rio, do CT até o hotel, são 40 minutos. Em Santos eu ficava a cinco minutos do clube. Estou conhecendo melhor a cidade, e as coisas estão sendo bem legais. É uma cidade maravilhosa, e é claro que vou me adaptar e também curtir um pouco – aposta o novo camisa 9 do Flamengo.

Na expectativa para o encontro com a torcida do Fla, Gabigol já ensaia as músicas: “Quero ouvir ao meu favor”

Fica claro que a sinceridade é uma característica de Gabigol. Seria muito mais fácil e comum elogiar o Rio de Janeiro, sua nova casa até dezembro. Mas Gabriel é assim. Comunicativo, gente boa, sem medo de mandar na lata. Personalidade forte que, segundo ele, puxou de Dona Lindalva, sua mãe. E muitas vezes confundida com marra.

– Não consigo me ver como marrento (risos). Mas tenho muita personalidade. Se eu tiver que falar algo na sua cara, vou falar. Sou assim. Dentro de campo, seu eu tiver que discutir com zagueiro, vou discutir. Se tiver que dar risada, vou dar risada. Se tiver que dar chapéu, vou dar chapéu. Não sei perder. Então apelo às vezes. Isso está melhorando com o tempo, tento ser mais calmo.

Gabigol já está bem à vontade no dia a dia do Ninho do Urubu: "Parece que estou aqui há muito tempo" — Foto: André Durão

A pinta é de boleiro moderno. Tatuagens, roupas ousadas, cabelo platinado… Gabriel Barbosa, no entanto, foge um pouco estereótipo do jogador brasileiro. Samba, vida noturna agitada e praia não são exatamente as preferências.

– Gosto mais de Rap e Hip-Hop. Não sou muito chegado à praia (risos). Gosto mais de sair para jantar, conhecer restaurantes, com a minha família e meus amigos. Tenho 22 anos, mas sou bem velhinho em relação a isso (risos). Sou um cara mais tranquilo, que fica em casa. Em algum momento terei que ir à praia, porque está calor pra caramba. Mas meu foco é ser feliz no Flamengo.

Gabriel não é fã de samba, praia e Rio de Janeiro. O que não significa que jogar no Flamengo não fosse uma tentação. Em bate papo de cerca de 30 minutos com o Globo Esporte, ele falou não somente de seus gostos pessoais, mas também sobre o que o atraiu no Rubro-Negro, abordou a passagem frustrante pela Europa, seleção brasileira, Zico, torcida, cobranças e até cantou… Confira abaixo a conversa e assista no vídeo acima o bate papo com o novo camisa 9 rubro-negro no Esporte Espetacular.

"Tenho tudo para dar certo no Flamengo"

É um momento especial para mim, dentro e fora de campo. Estou muito feliz. Fico feliz pelas pessoas que falam bem e mal. Vejo as críticas como construtivas. Tenho tudo para dar certo no Flamengo. Quero retribuir o carinho da torcida.

Cobranças

Estou em foco desde os 16 anos quando subi para profissional do Santos. Estou acostumado. Apesar de novo (22 anos), já passei muitas coisas boas e ruins no futebol. É uma cobrança constante, e levo isso numa boa. Estou sempre próximo dos meus amigos e dos meus pais. Pessoas que realmente querem me ajudar. Levo isso numa boa e confesso que até gosto.

Gabigol passa pelo trote no primeiro treino com o grupo completo do Flamengo — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Você se cobra muito?

Todo dia quando acordo penso que tenho que ser melhor do que ontem. E amanhã quero ser melhor do que hoje. Penso sempre que tenho que melhorar. Melhorar em tudo. Não só como jogador, mas como ser-humano, amigo e filho. Tento sempre melhorar e ser uma pessoa do bem, que ajuda ao próximo. Tento sempre ser melhor, independentemente se é dentro de campo ou fora.

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Opção pelo Flamengo

Sentei com a minha família, conversamos e vimos onde eu poderia ser feliz. Acho que no Flamengo isso tem tudo para acontecer. Fui recebido muito em pela torcida, pela diretoria e até pela imprensa. Foi uma decisão unanime. Meu coração falou mais alto. Quando você faz uma escolha pelo coração, as coisas acabam acontecendo.

Tentação de jogar no Flamengo

Quando eu falei, tinha contrato com a Inter de Milão. O Santos não fez proposta alguma. Realmente eu não sabia o que aconteceria.

Acho que todos jogadores querem jogar no Flamengo. A torcida é imensa, te apoia, canta músicas maravilhosas. Você quer sentir isso. A estrutura do clube é sensacional. É um time que quer vencer, e jogadores vitoriosos querem estar aqui. O clube já tem grandes jogadores. É uma tentação muito grande. Está sendo um sonho para mim.

Qual música da torcida vem à cabeça?

Olha, algumas. Gosto bastante dessas coisas de torcida e estou sempre pesquisando. Todas as vezes que fui ao Maracanã, estava cheio. Fui no jogo (de despedida) do Léo Moura, joguei um jogo contra o Flamengo quando o Guerrero tinha acabado de chegar e também esse último jogo, pelo Brasileiro (Flamengo 2 x 0 Santos), o estádio estava lotado.

Agora que sentir isso ao meu favor. Gosto de várias, mas a que gostaria de ouvir a meu favor é “Em dezembro de 81, botou os ingleses na roda… (cantarola)”. Mas deixa isso para torcida.

Gabigol tem o Maracanã, o Cristo Redendor e os anéis olímpicos tatuados na perna em homenagem ao Ouro nas Olimpíadas do Rio — Foto: Reprodução

Maracanã

Jogar no Maracanã é especial para mim. Foi onde fui campeão olímpico. Estou ansioso para jogar ao lado deles (torcida do Flamengo).

São muitas coisas boas no Maracanã. É um estádio especial para mim. Tenho o Maracanã tatuado na perna, fiz quando fui campeão olímpico, em 2016. Vai ser muito emocionante agora sentir isso a meu favor.

Gabigol e Arrascaeta. Reforços badalados do Flamengo para 2019 — Foto: André Durão

Cobranças por gols

Todas torcidas do Brasil cobram. A do Flamengo cobra mais porque é a maior. Vou usar camisa 9, que não sou acostumado a usar. Mas fui campeão olímpico com ela. Mas não sou aquele centroavante de área que joga só para fazer gol. Jogo para o time, gosto de dar passes, sair da área, criar espaços.

Expectativa em relação ao “novo” Fla

O peso é divido por todos. Até porque eu e Arrascaeta acabamos de chegar e não vamos resolver tudo. Estamos chegando em um time que brigou por todos os títulos, brigou até o fim pelo Brasileiro e é muito qualificado. Com ou sem a gente, creio que o Flamengo irá ter um ano maravilhoso

Flamengo e Palmeiras

Acho que todos os elencos são muito bons no Brasil. É um pouco precipitado falar que Flamengo ou Palmeiras são melhores. O Brasil é cheio de grandes times. Sabemos que a expectativa é muito grande. Acho que temos condições de brigar por todos os títulos.

A gente fala que quer ganhar todos, mas todo mundo quer ganhar todos. Mas temos que brigar para chegar, que um dia isso vai vir para nós. Temos um elenco muito bom e uma torcida muito grande para nos apoiar. Então temos que estar focados, trabalhar bastante, ter um bom ambiente e seguir nesse caminho.

Posicionamento

Cada treinador tem sua maneira de pensar e escalar. Eu já joguei de meia, na direita, na esquerda… O que gosto mesmo é de ajudar os companheiros. Não gosto de ficar marcado como jogador que só faz gols. Gosto de dar passes, driblar, criar espaços. Eu não jogo para bater metas. Jogo para o time vencer, independentemente de quem fizer o gol

Saída do Santos para o Flamengo

É lógico que o Santos está guardado no meu coração. Devo tudo ao Santos, não vou esconder. Nesse último ano me aproximei ainda mais. Mas não houve contato com o presidente, não fizeram contato com meus pais. A história acabou por aí. Confesso que quando sai para a Inter de Milão e para o Benfica estranhei um pouco, sempre usava branco. Depois me adaptei.

Mas no Flamengo é diferente, estou me sentindo em caso, parece que estou aqui há muito tempo. Todos me acolheram muito bem.

Seleção

Me sinto muito bem também (risos). Minha estreia foi com gol. Sei que o Flamengo pode me proporcionar isso, pela magnitude do Flamengo. Mas procuro pensar devagar, primeiro quero ajudar o Flamengo. As coisas acontecem naturalmente.

Neymar, Gabriel Gabigol e Luan com o ouro olímpico no Maracanã, em 2016 — Foto: Reprodução/Instagram

Ficar no Brasil teve relação com a Seleção?

Sim. Tinha algumas propostas. Sentei com meus pais e com as pessoas que trabalham comigo. Eu agi muito com o coração. As pessoas esquecem que tenho 22 anos. Tenho muito tempo para jogar no Brasil …

Primeiros dias de Flamengo

Tenho saído bem pouco. O Arrascaeta é um cara bem tranquilo, que se parece comigo. Saímos para jantar. Tem um pessoal na frente do hotel que já nos descobriu lá. Então fico mais tranquilo com meus pais, comemos no hotel, que é mais tranquilo. Estamos esperando minha irmã chegar.

Todos me tratando muito bem, a parte da torcida… Não que eu não fui feliz em outro clube, mas no Benfica e na Inter também fui muito feliz, independentemente de jogar muito ou não. Eles foram muito legais comigo. Obviamente que as coisas não aconteceram em campo como eu esperava, mas fui muito feliz. Mas acho que no Flamengo estou com uma coisa especial, estou sentindo que vai ser muito legal.

Passagem apagada pela Europa

Estou tranquilo. Nos dois clubes onde pude desempenhar meu futebol não tive tantas oportunidades e por isso não demonstrei mais. Quando tive oportunidade, ao meu ver, fui muito bem.

Se a Inter renovou comigo por mais um ano é porque confiam em mim. Ainda sou muito novo, as pessoas esquecem que tenho só 22 anos (risos). Dá para ir, voltar, ir, voltar, várias vezes ainda. Mas meu foco hoje é o Flamengo, principalmente esse ano, depois a gente vê o que acontece.

Gabigol Flamengo — Foto: Pedro Martins / Foto FC

Mudanças (constantes) no cabelo

Mudo muito, sou muito de lua. Às vezes eu raspo, faço dread, deixa para um lado, para trás, para frente, preto, loiro… Acho que tenho que me sentir bem, e aqui estou me sentindo bem. Então o que der na telha aí eu vou fazer (risos).

Ganhar o Brasileiro ou a Libertadores?

Olha, muito difícil. São duas grandes competições. Impossível escolher uma. O Campeonato Brasileiro é uma coisa muito grande. Mas acho que é a Libertadores

banner flamengo — Foto: Divulgação

Fonte: https://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/entre-a-sinceridade-e-a-marra-gabigol-dribla-a-praia-e-abraca-o-flamengo-coracao-falou-mais-alto.ghtml

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