Flamengo: Willian Arão brilha com Jorge Jesus depois de superar dispensas e ficar na reserva

“Tá mal, Arão! Tá mal!”.

Essa foi a primeira interação do técnico Jorge Jesus com o volante Willian Arão ouvida pelos brasileiros.

Num amistoso contra o Madureira, em julho, com seu caraterístico sotaque, o português queixava-se do posicionamento do jogador. A frase logo se popularizou e inspirou até funk.

Mas, de “meme”, Arão evoluiu rapidamente para peça-chave do Flamengo. Com a saída de Cuéllar, ele assumiu a função de primeiro volante da equipe e até ostentou, em mais de um jogo, a faixa de capitão.

A “reconstrução” de Arão pode até ter surpreendido muita gente, mas não Sergio Baresi, seu treinador no São Paulo, nas categorias de base.

Embora tenha sido no Corinthians que ele apareceu para o grande público, foi no clube do Morumbi, vindo do Barueri, que Arão deu seus primeiros passos em um gigante do futebol brasileiro.

“Eu nunca entendi porque ele não teve seu contrato renovado e permaneceu no São Paulo, em 2010”, disse Baresi, em entrevista ao ESPN.com.br.

“Eu fiz o relatório de avaliação técnico e tático dele e recomendei ao (presidente) Juvenal (Juvêncio) que ele ficasse. Era um jogador ‘padrão São Paulo’, bom cabeceador, com boa técnica. Não sei o que houve. Sua saída foi uma surpresa”, afirma o técnico, que atualmente trabalha no Guarani.

Um problema chamado Casemiro

Arão chegou ao São Paulo com 15 para 16 anos. Nascido em 1992, ele tinha como companheiros de categoria o atacante Lucas Moura, então ainda chamado de “Marcelinho”, o meia Bruno Uvini e dois volantes que complicaram sua vida na época: Casemiro e Jefferson.

“Ele já se destacava, mas o Jefferson e, principalmente, o Casemiro, que já era um monstro, estavam um pouco à frente dele”, conta Baresi.

Sabendo disso, Arão trabalhava dobrado. “Ele sempre fazia um pouco a mais, sabia que tinha que trabalhar mais para conquistar seu espaço”, diz o técnico.

Isolado na Catalunha

Willian Arão foi dispensado do São Paulo, mas chamou a atenção do poderoso empresário italiano Mino Raiola, que cuida da carreira de jogadores como Ibrahimovic, Balotelli e De Ligt, só para citar alguns. O agente entrou em contato com o pai do atleta, Flávio, e o levou ao Espanyol, da Espanha.

Flávio foi junto.

Na equipe catalã, Arão acredita que evoluiu com o trabalho realizado com o técnico Maurício Pochettino, hoje no Tottenham.

Mas a experiência não foi tão boa quanto parecia: por conta de problemas com sua documentação, Arão passou oito meses em Barcelona sem poder jogar.

Pior do que isso, ele não conseguiu se enturmar. Em especial porque os jogadores o isolavam.

“Os catalães só falavam espanhol com os estrangeiros. Entre eles, só em catalão. Ficavam olhando para nós e davam risada. Até hoje não sei se eles estavam falando bem ou mal”, disse ao Globoesporte.

Mas o tempo não foi perdido. Além de aprender a falar espanhol, Arão afirma ter evoluído na Espanha.

“Aprendi muito sobre o estilo de jogo, a disciplina tática e o toque de bola rápido. São coisas que até hoje tento implementar no meu jogo”, afirmou à ESPN.

Mas chegou a hora de voltar. E Arão foi para no Corinthians.

Campeão Mundial

Quando criança, Arão era fã de Vampeta. Via, no estilo moderno do ex-corintiano, um exemplo a seguir dentro de campo.

A chegada ao Parque São Jorge estava carregada de expectativas. Mas, uma vez mais, ele acabou se frustrando.

Sim, ele conquistou Campeonato Paulista, Copa Libertadores da América, Recopa Sul-Americana e Mundial de Clubes. Mas também não se firmou.

Como Paulinho e Ralf viviam grande fase e quase nunca se ausentavam por lesão ou suspensão, ele fez apenas 18 partidas pela equipe, que deixou em 2014.

Em busca de mais mais espaço, ele foi primeiro para a Portuguesa. Depois, atuou pela Chapecoense (quando fez o primeiro gol como profissional), Atlético-GO e Botafogo, onde, enfim, despontou.

Destaque e polêmica

No Clube da Estrela Solitária, Arão brilhou. Na Série B de 2015, o volante foi o maior destaque do time, que queria sua permanência no final do ano, para jogar a primeira divisão.

Dessa vez, porém, Foi Arão quem não quis ficar. Ao término de seu contrato, o Botafogo tentou renovar automaticamente com o jogador, exercendo uma cláusula contratual.

Em duas oportunidades, o clube depositou os R$ 400 mil da cláusula na conta dele, para renovar automaticamente seu vínculo e elevar sua multa para R$ 20 milhões. Arão devolveu o dinheiro nas duas oportunidades.

Foi em meio a uma briga jurídica com o clube alvinegro que Arão desembarcou na Gávea e começou a trilhar o caminho que hoje pode levá-lo, de novo, ao título sul-americano e Mundial.

Recentemente, Arão foi condenado a ressarcir o Botafogo em R$ 3,9 milhões pela transferência. Mas a fase é tão boa, que nem isso parece abalar seu momento.

Primeiro volante rubro-negro

Willian Arão viveu altos e baixos desde que chegou ao clube rubro-negro. Porém, sob o comando de Jorge Jesus, desde a parada para a Copa América, o volante se firmou definitivamente entre os titulares e conseguiu conquistar a Magnética.

Pelas mãos do Mister, Arão foi recuado para primeiro volante e se encontrou definitivamente, recuando para recompor a linha defensiva, como um terceiro zagueiro, e infiltrando as defesas adversárias.

“Arão era bom jogador quando garoto, mas mudou, evoluiu muito”, diz Sergio Baresi. “No São Paulo, eu cobrava muito que ele infiltrasse a área, algo que ele não tinha facilidade de fazer”, diz o técnico. “Hoje, ele tem presença de área, presença de gol”, diz.

Mais do que isso, Willian Arão tornou-se um símbolo deste Flamengo.

Fonte: https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/6331398/flamengo-willian-arao-brilha-com-jorge-jesus-depois-de-superar-dispensas-e-ficar-na-reserva

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