O Flamengo tenta encerrar nesta terça-feira — contra o Unión La Calera, pela Libertadores, às 19h15 — uma sequência de seis jogos em que seu sistema defensivo tem sido vazado. Tal retrospecto fez com que muitos atribuíssem a fragilidade à adaptação de Willian Arão na zaga, o que resulta num time sem volantes de origem em campo. Mas as razões para o problema vão muito além da opção por um ou outro nome.

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A vulnerabilidade se explica principalmente pela dificuldade da equipe de Rogério Ceni na transição defensiva, no momento em que perde a posse de bola e precisa recompor. Esse mecanismo, tão bem executado com Jorge Jesus, tornou-se frágil na gestão de Domènec Torrent e ainda precisa ser aprimorado por Ceni.

— O time não vem conseguindo mais exercer aquela pressão no adversário. Esse sufoco ajudava tanto a dar tempo para a defesa lá atrás se organizar como muitas vezes acabava numa falta e evitava o perigo — analisa Leonardo Miranda, do blog “Painel Tático” no ge.

Para a pressão ser eficiente, é preciso ter movimentos bem definidos e aperfeiçoados nos treinos, bem como a atenta mobilização dos homens de frente. Nesse sentido, é possível destacar as fases menos participativas de Everton Ribeiro e Bruno Henrique.

Pesam também outras escolhas de Ceni, que usa dois laterais mais experientes. Filipe Luís, de 35 anos, é um dos mais técnicos e inteligentes do time, mas não exatamente um jogador rápido. Isla, de 32, sobe com frequência ao ataque e nem sempre recompõe a tempo. A própria opção por Diego Ribas, já com 36, reforça a escolha por mais qualidade no passe pelo meio em detrimento de mais “pegada”.

— A defesa está mais exposta, então o Diego acaba ficando mais exposto num modo geral. E, como não é volante de origem, ele vai sofrer toda vez em que estiver muito exposto — completa Miranda.

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Outro calcanhar de Aquiles, a bola parada, tem uma solução que, se não é fácil, ao menos parece clara, como o próprio Ceni afirmou após bater o Volta Redonda:

— Temos que continuar repetindo, trabalhando outras vezes. Só a repetição vai fazer com que melhore.

Cada escolha tática representa a busca de uma vantagem e a aceitação de um risco. Jorge Jesus também corria os seus: embora usasse Arão como volante, apostava em uma linha defensiva alta. No início de sua passagem, o time sofreu muitos gols por conta desse comportamento. Mas os mecanismos de pressão foram aprimorados com o tempo e se tornaram uma arma do time, exímio goleador ao recuperar a bola ainda no campo de ataque.

Com Dome, o expediente não funcionou, o que ajuda a explicar alguns dos revéses mais simbólicos daquele time, dentre os quais os diante do São Paulo. O time à época comandado por Fernando Diniz, consciente do que fazer com a bola, escapava com facilidade da frágil pressão rubro-negra. Ceni tem o desafio de reaperfeiçoar essa habilidade, agora sob seu modelo.

Mas o torcedor pode esperar que Willian Arão oscile entre a zaga e o meio-campo durante a temporada. Afinal, as exigências do calendário em meio à pandemia e os perfis dos adversários devem levar Rogério Ceni a mudar com frequência a escalação.