Renato Gaúcho convive até hoje com avaliações não muito generosas a respeito de seu tamanho como treinador. Não chega a ser um “burro com sorte”, como Levir Culpi ironicamente chamava a si mesmo, mas também dificilmente arranca maiores elogios da crônica. Talvez porque seu estilo fuja completamente do tom professoral no trato com os jogadores. À imprensa, então, oferece quase nada em termos de conceitos, de estratégias, escolhas. A desculpa é quase sempre a mesma, de que não pode revelar seus segredos aos adversários. É como se até hoje aparecesse para as entrevistas coletivas de óculos escuros, disfarçado.
Cabe então aos analistas tentarem entender quem é o técnico Renato Gaúcho a partir dos times que ele coloca em campo. E nesta hora seu Flamengo é um intrigante quebra-cabeça porque ele oferece poucos padrões além das goleadas sucessivas.
Contra o Grêmio, o time foi melhor com dez jogadores em campo do que com 11. Contra o Santos, tinha uma atuação meio modorrenta até que desandou a fazer gols. Quatro, três de Gabigol.
Não se trata de um time de linhas muito altas, de marcação sob pressão ainda no campo do adversário. Também não é uma equipe reativa como todo mundo sabe que o Palmeiras é, à espera do contra-ataque mortal.
O Flamengo cria chances de gol com fluidez em meio a padrões não muito claros, de maneira que induz à conclusão de que tudo é basicamente fruto da qualidade individual do time titular e do elenco, bem acima da média para os padrões do futebol brasileiro. Mas seu antecessor, Rogério Ceni, muitas vezes teve os mesmos recursos nas mãos e não conseguiu fazer o time golear tanto.
Seria Renato Gaúcho então apenas mais um burro com sorte, no melhor estilo Levir Culpi? Não creio. Renato Gaúcho tem méritos nos números que conseguiu até aqui à frente do Flamengo: são 12 vitórias, um empate e uma derrota, 45 gols marcados e dez sofridos. Mas é preciso humildade da crônica para reconhecer que ainda não foi capaz de identificá-los.
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