Há quase uma semana no Rio de Janeiro, Alejandro Donatti fez força e conseguiu a transferência para cumprir o maior desafio de sua carreira: jogar no Flamengo. Não que o Rosario Central seja pequeno ou tenha pouca tradição na Argentina, mas não tem o peso em seu país do Rubro-Negro carioca – o quinteto dos maiores hermanos tem Boca Juniors, River Plate, Racing, Independiente e San Lorenzo. A ascensão do jogador, que completa 30 anos em outubro, é lenta e gradual na carreira. No currículo, times pequenos e médios antes do Rosario até chegar à primeira divisão argentina em 2012 pelo Tigre, onde foi vice-campeão da Sul-Americana em 2013, em polêmica final com o São Paulo.
A contratação pode ser, finalmente, selada nesta quarta-feira. E pode-se dizer que durou de seis a sete meses no total. Afinal, em janeiro o Rubro-Negro fez as primeiras tentativas. Através do empresário Léo Rabello, que intermediou a chegada de Mancuello, do Independiente, o Fla mostrou interesse em Donatti, que chegou a comentar ao GloboEsporte.com:
– Houve contato com o Flamengo. Eles estão falando com meu representante – disse o atleta, que teve contratação indicada este ano por Edgardo Bauza, técnico do São Paulo.
Conheça um pouco mais do jogador, suas características, a personalidade e um pouco mais do 13º reforço rubro-negro nesta temporada.
Donatti em ação: jogador esteve cotado para substituir Lollo, que foi para o River (Foto: Divulgação Rosario Central)
"Zagueiro top"
Foram muitas ofertas e algumas tentativas frustradas – Cleber e Polenta, por exemplo – até chegar a Donatti, que era um dos nomes preferidos da diretoria do Flamengo. Quarto zagueiro contratado no ano, o argentino é o maior investimento e a maior esperança de retorno técnico. O clube vai pagar – metade este ano e o restante ano que vem – cerca de R$ 5 milhões por 100% dos direitos do jogador, que vai assinar por três temporadas. No Rosario, fez quatro gols na última Libertadores. O time foi eliminado nas quartas de final.
– É um atleta que vínhamos monitorando faz tempo e que estava na mira dos principais times argentinos. A performance dele na Libertadores, combinada com a relutância do técnico e clube em liberá-lo, ratifica todo o prestígio que o atleta goza junto aos torcedores de Rosário. Espero que ele possa colocar em prática no Flamengo o perfil de liderança, bom jogo aéreo (defensivo e ofensivo), combinado com boa colocação e bom aproveitamento nas cobranças de falta – disse o vice-presidente de futebol Flavio Godinho, um dos entusistas do reforço.
Loco Abreu: "Ótima contratação"
Carrasco do Flamengo em 2010, Loco Abreu conviveu por mais de um ano com Alejandro Donatti no Rosario Central, nas temporadas de 2013 e 2014. Procurado pelo GloboEsporte.com para comentar do novo reforço rubro-negro, ele foi só elogios:
– Donatti é um zagueiro completo. Tem tudo. Chuta com a perna direita e com a perna canhota, é excelente no jogo aéreo, bate forte as faltas e faz gols. É um dos melhores zagueiros que disputou esta Libertadores. A contratação que o Flamengo fez é ótima.
Polêmico? Não, apenas "argentino"
No início da carreira, Donatti levava mais cartões. Chegou a receber 10 em 32 jogos na Segundona da Argentina pelo Boca Unidos na temporada 2011/2012. Mas, no geral, são poucas advertências e expulsões. Em 109 partidas pelo Rosario Central, apenas um cartão vermelho. Mas foi na final da Sul-Americana de 2012, contra o São Paulo, que ele ficou um pouco conhecido por aqui. Donatti se envolveu em confusão com… (adivinha?) Luis Fabiano e os dois foram expulsos. Em entrevista na Argentina, ele disse que não era um jogador violento e apresentou explicação curiosa sobre o episódio.
– Somos argentinos e esse é nosso estilo de jogo. Jogamos muito forte, pressionamos bastante. Peço desculpas se eles se sentiram ofendidos, mas o Tigre é coração e garra. E é assim que devemos jogar em uma final – disse, antes de mostrar arrependimento pela confusão. – Fiquei muito mal com isso. O Luis Fabiano também ficou porque estamos fora da final. Me arrependo muito, porque não sou assim. Peço desculpas aos meus companheiros e também ao Luis Fabiano, que é um grande jogador e uma grande pessoa.
Coudet, técnico do Rosario, não queria perder Donatti para o Flamengo (Foto: Divulgação/Rosario Central)
"Caudillo", bom de clássico e sincero
A liderança é uma característica fácil de encontrar entre as definições sobre Donatti. É discreto fora de campo, do tipo "bom de vestiário", que conquista o grupo, a torcida e tem a confiança do técnico. Coudet, do Rosario Central, não queria perder "El Flaco" – o magro, na tradução livre em português – de jeito algum, mas Donatti fez valer sua vontade. O jornalista argentino Frederico Colmán lembrou que o temperamento do novo rubro-negro é de "caudillo" (líder, em espanhol) – uma liderança que ele vai exercer também no Flamengo – e que ele não foge da raia quando erra.
Ambidestro
Donatti também era um dos nomes de preferência do Flamengo porque tem facilidade de jogar dos dois lados do campo. Embora seja destro, atua dos dois lados da defesa. Ou seja, pode jogar tanto com Juan como com Réver. No Rosario, marcou época ao lado de Javier Pinola, zagueiro com passagem pela seleção argentina. Donatti esteve presente em cinco clássicos consecutivos de vitória do Rosario sobre o Newell´s Old Boys, o grande rival da cidade.
Nas partidas das quartas de final, em cada jogo atuou de um lado da zaga (Foto: Reprodução)
Pontos fracos
Colocar Donatti, um jogador de 1,92m – 84 kg, no um contra um com atacante adversário pode ser perigoso. Zé Ricardo deve armar bem a equipe, com cobertura, para evitar duelos deste tipo. Nico Filomeno, jornalista da rádio LT3, de Rosario, faz diversos elogios ao novo zagueiro do Fla, lembrando que ele chega no melhor momento da carreira ao Brasil, mas faz ressalva.
– Não é um defensor rápido nem tem grande controle de bola. Ele se destaca pela firmeza, agressividade na marcação, posicionamento e jogo aéreo – comenta Filomeno.
Apesar da ascensão da carreira e de todas as características positivas, Donatti pode precisar de um tempo de adaptação e, também, da paciência de torcedores. Não tiveram, por exemplo, com o equatoriano Erazo, que fez sete partidas em 2014 e, depois, cumpriu boa passagem no Grêmio. Hoje é titular do Atlético-MG.
Para quem tem Juan e Rafael Vaz, dois jogadores de técnica apurada, é bom se acostumar: Donatti é mais rebatedor do que de sair jogando. Aliás, era uma característica que não agradava Muricy Ramalho, ex-treinador do Flamengo.
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