João Luis Jr.: “O Flamengo precisava mesmo vender Lucas Paquetá?”

É claro que não podemos negar a realidade econômica e até mesmo sociopolítica em que vivemos. Da mesma maneira que no período colonial as potencias europeias exploravam os países sul-americanos e africanos em busca de riquezas, deixando para trás apenas miséria, tragédia e doenças que os nativos nunca tinham visto antes, atualmente os clubes europeus tem todo o capital financeiro para abordar os países periféricos levando todos os craques, revelações e deixando para trás apenas os jogadores que não tem ou nunca tiveram condições de jogar na Europa – não que eu esteja comparando Geuvânio com uma doença ou uma tragédia. Talvez só um pouco.

Mas ainda que Lucas Paquetá seja apenas mais um no constante fluxo de revelações que abandonam os clubes brasileiros para tentar a sorte no futebol europeu – que esse ano já causou ao Flamengo baixas como Vinícius Jr e Vizeu – e não exista nada de absurdo num jovem promissor decidir parar de passar raiva na Libertadores pra passar raiva na Champions League – afinal, ele deve ir para o Milan – a saída do nosso jogador mais diferenciado acaba, é claro, nos fazendo mais uma vez questionar se realmente não tem nada que possamos fazer para reter nossos valores por mais tempo.

Não poderia um plano de carreira ter seduzido Paquetá e garantido sua permanência por ao menos mais um ano? Afinal, se o Santos conseguiu reter Neymar entre 2010 e 2013 através de parcerias de marketing, garantia de um time competitivo e possibilidade de ir para a Europa numa posição de protagonismo e não de revelação, não poderia o Flamengo ter feito o mesmo com Paquetá? De que vale o Flamengo se dizer um clube numa situação financeira tão estável e segura se continuamos precisando vender nossas revelações assim que elas começam a oferecer uma contribuição real para os resultados do time?

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Agora é tarde demais para descobrir, claro, já que a transferência parece já estar definida e dependendo apenas de exames médicos para se concretizar. Mas para duas coisas com certeza ainda temos tempo. A primeira delas é realmente pensar em como o Flamengo pode tentar manter por mais tempo suas revelações, como podemos aproveitar melhor esses talentos e até mesmo como conduzir melhor essas negociações – a reta final de um Brasileirão onde ainda temos chances de título é realmente a melhor hora para definir a venda de um dos melhores jogadores da equipe?

E a segunda delas é como vamos repor esse buraco – em forma de drible mais ou menos necessário – que Paquetá irá deixar não só no meio campo do Flamengo como em nossos corações. Se por um lado não temos hoje no elenco jogadores com as mesmas características que ele, sendo talvez Diego o que mais pudesse se aproximar da função de volante-meia, por outro lado não existem muitas razões para acreditar que o clube vai usar com sabedoria os 100 milhões obtidos com a transferência (“Precisamos de um substituto pro Paquetá, dois laterais e um atacante pela ponta? Ok, já estou negociando com mais centroavante que não faz gol e soube que o Marlos Moreno tem um irmão, vamos contratar”).

O que sobra agora pra gente é, como sempre, torcer. Torcer pra que Paquetá dê seu máximo nas últimas partidas e possa se despedir do Flamengo com um título brasileiro, torcer para que o clube saiba investir o dinheiro da venda nas peças que a equipe realmente precisa, torcer para que as próximas jóias rubro-negras consigam passar mais tempo vestindo o nosso manto sagrado. Porque quando lembramos que vendemos Vizeu e Vinícius Jr mas temos no time Uribe e Marlos, fica quase possível imaginar como se sentiam os índios depois de entregar seu ouro e receber em troca espelhinhos e miçangas.

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2018/10/joao-luis-jr-o-flamengo-precisava-mesmo-vender-lucas-paqueta/

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