Em futebol, quase todas as avaliações sobre decisões que fogem ao lugar comum são muito influenciadas pelos créditos que seus autores acumularam. Diante de tudo que sempre se difundiu sobre a importância da pré-temporada, o natural seria encarar como uma pequena loucura a decisão de Jorge Jesus de usar seus titulares com menos de uma semana de treino. Ainda mais sob forte chuva, campo pesado e desgaste naturalmente maior.
Mas Jesus vem de um 2019 em que diversas decisões, em especial o uso contínuo da base titular, rasgaram cartilhas vigentes no país. E foi vitorioso. Então, ganhou os tais créditos. Nesta segunda-feira, acumulou novos. Seu time teve ritmo e virou o jogo quando as pernas deveriam pesar: construiu os 3 a 1 após os 72 minutos de jogo. Ali, já turbinado pela entrada de Michael e Pedro, que tiveram um pouco mais de tempo de preparação. A continuidade da temporada, que será pesada, dirá se o português acertou em sua nova aposta contracultural.
Eram 53 mil pessoas no Maracanã, muita gente dadas as condições. Gente ansiosa pelo reencontro com o time campeão de quase tudo em 2019. Claro que tudo era muito precoce, mas o time mostrou a habitual volúpia pelo gol e a mobilidade ofensiva, com diversos desenhos ao longo do jogo.
Um deles, muito usado ontem, teve Arão na saída de bola entre os defensores, Diego logo adiante e os dois meias, Éverton Ribeiro e Arrascaeta, atuando mais pelo centro. Como Filipe Luís também atacava prioritariamente pelo meio e ao menos um dos atacantes também buscava a ponta, em muitos momentos o Flamengo teve pouca profundidade. Uma questão natural do início de temporada: recuperar a sincronia de movimentos.
Tanto que demorou a criar chances reais, mas elas vieram, em especial em combinações de Éverton Ribeiro e Rafinha na direita.
Outra característica que o time reeditou foi a pressão ofensiva, responsável por uma bola recuada para o goleiro Ranule, que pegou com a mão. Mas a cobrança da infração terminou com chute de Arrascaeta para fora. Outra retomada de bola na frente deu a Bruno Henrique ótima oportunidade. O mesmo Bruno Henrique, da entrada da área, acertou o travessão.
Num início de temporada e com dupla de zaga nova, Jorge Jesus se esgoelava para coordenar os momentos em que a linha defensiva deveria se adiantar ou recuar, algo vital em seu modelo. Nem sempre houve acerto. O Resende quase marcou com Caio Cezar.
Curioso que o Flamengo tivera bons momentos no segundo tempo e até uma chance em cabeçada de Gustavo Henrique quando sofreu o gol. Justamente numa perda de bola que resultou em passe às costas da linha defensiva: Alef Manga bateu Diego Alves.
Jorge Jesus já fizera trocas e mudara o desenho do time. Primeiro para um 4-3-3 após trocar Diego por Michael. Depois para um 4-2-4 com Pedro na vaga de Arrascaeta. Michael abria o jogo pela direita e Bruno Henrique pela esquerda. Mas foi com Gabigol que Filipe Luís fez inteligentíssima combinação pelo lado esquerdo no lance do gol de Pedro, em chute desviado.
No lugar de se mostrar cansado com a passagem do tempo, o Flamengo fazia a virada parecer questão de tempo. E ela chegou aos 38, em cruzamento de Bruno Henrique para Gabigol.
Para completar a festa, dois estreantes construíram o terceiro gol: Michael lançou, Pedro tocou para o meio e Bruno Henrique fechou a conta.
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