Aos 19 anos, o atacante Felipe Vizeu vive, no Flamengo, o melhor momento da sua curta carreira no futebol até aqui. Recentemente, devido às boas atuações, renovou contrato com o clube carioca até 2020. No último jogo do Rubro-Negro, contra o Atlético-MG, pelo Campeonato Brasileiro, Vizeu marcou dois gols (veja no vídeo acima) e foi o principal nome da partida, garantindo a vitória por 2 a 0. O jogador, porém, está envolvido em outro tipo de disputa com outro clube mineiro: o América-MG. Vizeu foi jogador do Coelho nas categorias de base, antes de se transferir para o Flamengo em 2013, e tem uma ação judicial em andamento em Cabo Frio-RJ – sua cidade natal – contra o Coelho. Neste processo, o atacante conseguiu uma liminar, garantindo a ele acertar com outro clube por alegar falta de condições de trabalho como justificativa por sua saída de Belo Horizonte. O América-MG, por sua vez, entende como absurda a acusação e estuda entrar com uma ação cobrando indenização por participação na formação do atleta, não sem antes tentar um acordo amigável com o Fla.
Pelo lado americano, quem está à frente da situação é Anderson Racilan, um dos presidentes do conselho administrativo do clube – que conta com nove presidentes. Em entrevista ao GloboEsporte.com, ele explicou o imbróglio com mais detalhes.
– O Felipe foi
atleta nosso nas categorias de base por aproximadamente um ano. Houve aqui em Belo Horizonte um torneio
sub-17 no fim de 2012, e tive a informação que o Felipe Vizeu foi, na ocasião, assediado
pelo pessoal das categorias de base do Flamengo. Terminado esse torneio, o
América entrou de férias. Ele é de Cabo Frio e foi
para lá. Nós retornamos no início do ano (de 2013), e o menino não
voltou. Aí tivemos a informação que ele já estaria treinando no Flamengo.
Quando foi em março, ele entrou com uma ação lá em Cabo Frio pedindo a
liberação dele (do América-MG) sob alegações absurdas no tratamento que ele tinha aqui, alegando falta de condições de trabalho, sendo
que na verdade ele já estava treinando no Flamengo. Tem postagens dele no Facebook
comentando com amigos que já estava no Flamengo, feliz com a nova casa. Logo
que ele conseguiu a liminar, quatro dias depois, ele fez um jogo oficial pelo Flamengo como titular. Isso prova que
ele já estava treinando lá. Houve a audiência na quinta-feira passada, nós
levamos nossas testemunhas, atletas contemporâneos dele no América, dizendo
que são absurdas as alegações dele. Nosso coordenador das categorias de base também foi e mostrou para a
juíza quais são as situações que ele viveu lá.
Essa audiência citada pelo dirigente era da fase de recolhimento de alegações finais e deve ter resultado em breve, mas a disputa judicial não termina aí. O clube mineiro alega que tem, por direito, uma indenização a receber do Flamengo por ter participado da formação profissional do atleta. Segundo o clube, os valores giram em torno de R$ 10 milhões.
– Nós precisávamos formar provas para a gente entrar cobrando
a indenização que a Lei Pelé garante. A indenização que prevê a Lei é de até 200 vezes
o que o clube gastou com a formação do atleta. A gente está fazendo o levantamento
dos valores com a formação e está, a princípio, apurando que o valor da multa deve girar em torno de R$ 10 milhões. O América não
está inventando nada, chorando, só porque hoje ele é titular do Flamengo. Este
assunto vem se arrastando há mais tempo. Não é porque agora o menino está em
evidência que a gente está correndo atrás, chorando, de olho ou nada disso. O
menino é do Flamengo, vai continuar sendo e tem contrato com o Flamengo. Nós
precisamos é que o América seja reparado com uma indenização prevista em Lei.
Na verdade, o que a gente precisa é banir do futebol
brasileiro esse tipo de atitude. Clubes coirmãos, de uma forma ou de outra,
assediando atletas e permitindo que atletas que tenham contratos com outros clubes sejam assediados. A gente tem que acabar com
isso no futebol brasileiro. Hoje aconteceu com o América, amanhã pode acontecer
com o Flamengo, Atlético ou Cruzeiro – disse Anderson Racilan.
Por fim, o presidente do Coelho adiantou que há uma intenção do clube em resolver a questão da indenização sem envolver a Justiça, já que existe uma boa relação entre as duas diretorias.
– Temos uma relação
muito boa com o Flamengo, estive com o presidente Eduardo Bandeira na última
segunda-feira em uma reunião dos clubes da Série A e Série B, em São Paulo.
Tivemos uma conversa inicial sobre o atleta. O América gostaria de não ter
problemas com o Flamengo. Ele ficou de conversar com o departamento jurídico e
de futebol pra gente voltar a conversar sobre o assunto. O América não tem
interesse em brigar com o Flamengo na Justiça, mas se não houver um diálogo ou
um acordo com o Flamengo, vamos ter que entrar e pleitear os nossos
direitos.
Procurado pela reportagem, o departamento jurídico do Flamengo informou que o caso não envolve o clube, mas sim o atacante e o Coelho, e que está sob segredo de justiça. Mas, de acordo com o Rubro-negro, quando contratou o atacante, foram tomadas todas as precauções para contratar o jogador, que estava livre na época. Também procurado pelo GloboEsporte.com, o empresário do atleta, Carlos Eduardo Baptista, informou outra situação. Segundo ele, os envolvidos no caso são os dois clubes e que nem o jogador, e nenhum de seus representantes irá comentar sobre o assunto.
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Anderson Racilan ainda questiona a forma como a Justiça de Cabo Frio concedeu a liminar para Felipe Vizeu romper com o América-MG e poder assinar com o Flamengo, em 2013.
– Um absurdo maior ainda: ele só conseguiu essa liminar
porque o juiz de Cabo Frio disse que, tendo em vista a dificuldade de intimação
do América, concedeu a liminar. Como que um juiz não vai conseguir intimar um
clube de futebol como o América? Se fosse um time de várzea, tudo bem. Ele alega
dificuldade de intimar o América para que a gente conhecesse a existência da
ação. Deve ter sido colocado lá um endereço errado ou um endereço de um local
que não tinha ninguém. O juiz me dá o despacho falando que, como não conseguiu
intimar o América, ia deferir a liminar. O América não é um clube qualquer, que
não tem uma sede, que está escondido.
(*) colaborou Richard Souza, do Rio de Janeiro
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