Quem olha Jorge Jesus comemorando com irreverência o quinto título no comando do Flamengo em oito meses de trabalho enxerga um treinador europeu de 65 anos livre, leve e solto com o sucesso alcançado no Brasil.
O entrosamento com a torcida rubro-negra, que o salda a cada jogo no Maracanã como um ídolo, é nítido também na relação com os jogadores. Os mais de 200 dias de convivência desde junho de 2019 o tornaram mais próximo de seus comandados.
Hoje, é possível dizer que o Mister, como é chamado pelos atletas mais por carinho do que por hierarquia, é amigo de grande parte de seu elenco, sem deixar as cobranças de lado.
– Nunca compartilhei tanta emoção e tanta amizade como compartilho com os jogadores do Flamengo. Me sinto bem, me sinto solto, me sinto mais um mesmo sendo líder. Há uma ligação muito forte entre todos – admitiu o português.
As comemorações com Gerson e Gabigol após a conquista da Recopa, na última quarta-feira, com direito a coreografia do “vapo” e do “muque”, indicam um técnico que se moldou ao ambiente sem abrir mão de suas convicções.
De acordo com membros do departamento de futebol, o português é o mesmo em termos de rigidez e disciplina nos treinamentos e no comportamento do dia a dia. Também mantém controle sobre o que pede para o time fazer nos jogos.
Mesmo assim, consegue apresentar mais leveza no dia a dia. Sobretudo depois do semestre praticamente perfeito em 2019, com os títulos do Brasileiro e da Libertadores.
Mas para lembrar do método de Jesus, basta olhar para o campo. As cobranças desde sua área técnica, com direito a braços erguidos e pulos de revolta, são constantes, principalmente durante as vitórias. Ali, não há espaço para brincadeira.
A obsessão por orientar os jogadores sobre o que devem fazer a todo minuto é uma marca. Poucas vezes se vê Jesus apenas andando de um lado para o outro, ou até parado. Muitas vezes, porém, nota-se que o português se entrega para o clima de euforia das conquistas no Maracanã. Se úne às correntes e abraça a todos sem cerimônia após o resultado.
Mesmo os poucos momentos mais tensos já são administrados pelo grupo. Nos bastidores, os jogadores já sabem lidar com as cobranças. E entendê-las. E Jorge Jesus sabe que pode cobrar mais forte primeiro para depois dar um carinho além. Percebe também quem precisa de um choque maior para pegar no tranco. Entendimentos que apenas o tempo de relação e convivencia permitem.
Além de Gerson e Gabigol, outro jogador que ganha muito carinho do Mister é Arão. Mesmo expulso, foi aplaudido pelo torcedor após a Recopa, e teve o reconhecimento do técnico. Questionado sobre qual era o dedo de Jesus no Flamengo, Gabigol brincou:
– O dedo, a mão, o braço, ele é nosso comandante, a gente segue o que ele fala.
Renovação em pauta
O Flamengo quer estender o contrato de Jesus até o fim de 2021. Representantes do técnico chegam ao Rio nos próximos dias para tratar sobre o novo vínculo, já que o atual vence em maio. Até agora, houve sinalização das duas partes para a continuidade do projeto. Mas sem tratar de valores de salários e eventuais multas por rescisão do contrato caso surja algum interessado com apelo na Europa.
— As coisas tem andado dentro da confiança que eu a direção temos no Flamengo. Não quis nunca participar diretamente, tem as pessoas que falam primeiro por mim, mas depois eu tomo a decisão. Nas próximas semanas, quando meus agentes vierem ao Brasil, isso pode ficar resolvido —acredita o o Mister, que tem oito profissionais na comissão.
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