Separados pela camisa! Fla x Flu no Carioca coloca gêmeos Luan e Lucas frente a frente
Um é destro o outro é canhoto. As diferenças (quase) acabam aí. Melhores amigos, colegas de quarto, parceiros de vida, adversários em campo. Esses são Lucas e Luan, gêmeos idênticos, zagueiros de Flamengo e Fluminense, respectivamente. Titulares dos rivais cariocas, enfrentam-se neste sábado, às 10h, nas Laranjeiras, no primeiro jogo das semifinais do estadual sub-17.
Um é o reflexo do outro. Quando criança, inclusive, costumavam confundir a própria imagem no espelho com o irmão. Nasceram, foram criados e começaram a carreira juntos. Nunca se desgrudaram. Há quase um ano, no entanto, o futebol os reservou caminhos diferentes. Sem espaço no Flamengo, Luan – desde os 9 anos ao lado do irmão na Gávea – foi para o Fluminense, em janeiro.
– No início foi um pouco complicado porque a gente vivia junto, fazia tudo junto, o dia todo. E agora eu estou bem no Fluminense. O Lucas está bem, graças a Deus, lá no Flamengo, e vida que segue. Sabíamos que uma hora íamos nos separar. A hora chegou e seguimos em frente – conta o tricolor Luan.
Quadro na sala de casa retrata o duelo em campo entre os irmãos. Nos primeiros clássicos, dois empates — Foto: Marcelo Baltar
A separação nos gramados, segundo a família, surpreendentemente acabou sendo boa para os dois.
– Evoluíram muito. Tanto na vida profissional quanto na pessoal. Agora um vai para praia o outro para casa da namorada. Eles cresceram absurdamente. Tomamos um susto. Pensamos que seria o contrário, que eles teriam um prejuízo muito grande em campo. Mas foi o contrário. O Luan seguiu a vida dele e está bem demais no Fluminense. E o Lucas continua bem no Flamengo – ressalta Luis Cláudio, pai dos garotos.
Empurrãozinho de Egídio
Voz, jeito, timidez… Só as camisas dos clubes ajudam na hora de diferenciar Lucas de Luan — Foto: Marcelo Baltar
O futebol sempre foi uma paixão de família, mas quem deu um belo empurrão no início da carreira foi o lateral Egídio, do Cruzeiro. Vizinho de condomínio dos gêmeos, foi ele que levou a dupla para o futsal do Flamengo, clube que defendia na época.
– Morávamos em um condomínio na Praça Seca (Zona Oeste do Rio de Janeiro). Os dois estavam brincando. A tia Ana (mãe do Egídio), uma pessoa maravilhosa, viu da janela os meninos jogando na quadra. Ela os achou diferentes e falou com o Egídio, que estava em casa.
– Olha, tem dois gêmeos que jogam direitinho. Quem sabe você não leva eles para um teste no Flamengo.
Quando criança, Lucas e Luan costumavam confundir a própria imagem no espelho com o irmão — Foto: Tatiana Zanatta
– Ele nos chamou em casa e marcou um teste no Flamengo. O Lucas está até hoje, vai completar 10 anos. E o Luan saiu no fim do ano passado e está no Fluminense – recorda Luiz Cláudio, pai da dupla.
Semelhança quase os tirou de um jogo
Fotos da dupla com a família espalhadas pela casa. Difícil saber quem é quem — Foto: Marcelo Baltar
Luan é destro, Lucas é canhoto. Mas não é fácil diferencia-los. Voz, jeito, timidez… tudo é muito parecido. O que, obviamente, causou várias situações curiosas no futebol. Desde da constante confusão entre os treinadores ao caso das chuteiras, na base do Flamengo.
– Meu pai tinha acabado de comprar a mesma chuteira para os dois e fomos direto para o jogo. O treinador não queria nos deixar jogar porque não conseguiria nos identificar. Coloquei uma meia branca (por cima da meia do Flamengo) e jogamos. No próximo jogo meu pai pintou uma chuteira. Era azul, e ele pintou uma de vermelho. Aí deu para diferenciar (risos) – recorda Lucas.
Os irmãos nasceram prematuros e ficaram internados na UTI por dois meses — Foto: Marcelo Baltar
“Lucas nasceu praticamente morto”
Desde cedo os gêmeos aprenderam a lutar. Um ano antes de nascerem, a mãe deles sofreu um aborto de outra gestação gemelar. O próprio nascimento deles não foi simples. Vieram ao mundo prematuros, com 28 semanas de gestação. Lucas, por exemplo, nasceu com menos de 1 kg. Eles ficaram dois meses internados na UTI.
– Nasceram muito pequenininhos. Foi uma luta. Foram ganhando 10 gramas por dia até receberam alta do hospital. O Lucas nasceu praticamente morto e foi reanimado duas vezes. Sofreu muito no parto.
Rivais em campo, os irmãos dividem o quarto em casa — Foto: Marcelo Baltar
Até por isso, a rivalidade entre Flamengo e Fluminense, em casa, fica em segundo plano. Ver os filhos saudáveis, no futebol, já é uma vitória para a família.
– Só deles hoje estarem saudáveis e atletas, isso para mim já é tudo. Sou muito grata por Deus pela vida deles. Mesmo que não deem certo no futebol, já deram certo – comemora Paula, cheia de orgulho dos filhos.
Lucas e Luan voltam a se enfrentar neste sábado, no jogo de ida das semifinais do Carioca sub-17 — Foto: Arquivo pessoal