Mesmo com o retorno do Campeonato Carioca sem público, os jogos do Flamengo no Maracanã têm chamado a atenção de profissionais que trabalham no estádio pela quantidade de pessoas do clube nas arquibancadas. O local, em teoria destinado a membros da comissão técnica que não ficam mais no banco de reservas das equipes, reuniu nos últimos jogos dirigentes e convidados que, segundo relatos, não tinham funções específicas na partida.
O protocolo Jogo Seguro, aprovado pela Federação de Futebol do Rio de Janeiro, com aval dos clubes, indica em seu item número 2, chamado “Delegação”, que o número máximo permitido para cada equipe é de 40 pessoas, “incluindo atletas, comissão técnica e todo staff envolvido”. Segundo a reportagem apurou, 40 é o número de pessoas que apenas o departamento de futebol leva para os jogos.
Na lista, são 21 atletas e 19 membros da comissão técnica, incluindo o diretor Bruno Spindel, o vice de futebol Marcos Braz, além do presidente Rodolfo Landim e do vice Rodrigo Dunshee. Mas não há nela os integrantes do Conselho do Futebol – dois deles estavam na arquibancada nos últimos jogos. Um familiar de dirigente também não está na relação dos 40 e estava no jogo contra o Boavista, ainda pela primeira fase.
Para se ter uma ideia da rigidez das regras, no jogo entre Flamengo e Boavista, o presidente do clube adversário foi a única pessoa de fora do departamento de futebol na lista dos 40 presentes do time de Saquearema. Para se adequar ao número do protocolo , um auxiliar-técnico do treinador Paulo Bonamigo teve que ficar em casa. Antes da partida, um membro do clube de Saquarema questionou o diretor de competições da Ferj, Marcelo Viana, que retrucou: “Quer contar?”.
No Fla-Flu houve a mesma lógica, com a presença de algumas pessoas que estiveram ou no jogo com o Boavista ou foram vistas contra o Volta Redonda. Na foto tirada no dia da final da Taça Rio, é possível identificar 24 pessoas na arquibancadas usando a camisa do Flamengo, sem contar pessoas com camisa social. Algumas estão credenciadas em outras listas que não a do clube, como imprensa e organização da partida, mas não poderiam ficar no lugar destinado à comissão técnica, segundo o protocolo.
Ferj diz ter lista, mas não informa
No Ninho só são testados os 40 da lista que vão credenciados para o jogo. Quem não é da lista do futebol do Flamengo é testado às quartas-feiras na sede da Gávea. Segundo o clube informou, lá são feitas as avaliações na quantidade de pessoas que vão para o estádio. O clube não informou quantas são. Em função disso, a reportagem enviou tanto para o Flamengo quanto para a Federação um pedido de esclarecimento sobre o total de pessoas autorizadas a entrar nos últimos jogos, somando a delegação do futebol e da diretoria.
O Flamengo alega estar dentro do regulamento da entidade. “A quantidade que a Ferj estipula é a quantidade que está no estádio”, disse via assessoria institucional, sem esclarecer também critérios para que os credenciados ficassem na arquibancada, lugar destinado à comissão técnica que não fica no banco de reservas, segundo o protocolo.
Também não foi passado pelo Flamengo quem realiza os testes no grupo de dirigentes e profissionais credenciados pelo clube, já que o futebol só os realiza em atletas, comissão técnica e funcionários. O Flamengo não respondeu se entrega os laudos individuais dos membros da diretoria credenciados para a Ferj no dia dos jogos.
A Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro informou, por sua vez, que tem a lista dos presentes no Maracanã, com a documentação necessária. Mas não revelou qual foi essa quantidade no jogo entre Flamengo e Boavista, por exemplo, quando houve o questionamento de integrantes do clube adversário.
A reportagem questionou em seguida se a Ferj checou quantas pessoas a diretoria do Flamengo levou neste dia para a arquibancada. E qual o critério que usado para liberar o espaço para pessoas dos clubes que não sejam da comissão técnica. A entidade não se pronunciou.
Clube não é cobrado por custos de testes e tem maior controle
Outro fato que chamou a atenção na retomada das partidas do Carioca é a ausência de cobranças financeiras ao Flamengo pelos exames de Covid-19 realizados sob coordenação da Ferj. Nos borderôs, o clube da Gávea é o único zerado na linha que trata do assunto, enquanto as demais equipes têm despesa alta. O motivo é que o Flamengo comprou todo os seus exames chamados PCR.
Essas análises moleculares em atletas e estafe são feitas pelo laboratório que atende à Ferj, que também comprou uma carga de testes considerável. Por isso, o custo dos testes em si é cobrado diretamente a todos, menos ao Flamengo. A realização dos testes é feita por um fisiologista do clube, no dia do jogo, e verificada pelo laboratório.
Na hora do jogo, os laudos individuais dos exames são guardados com o supervisor de futebol do Flamengo, e o médico que vai para o jogo entrega para a Ferj um atestado de que seu grupo está todo negativo. Nesse termo, aparece a relação dos 40 nomes testados negativos, com número da documentação de cada um.
O Flamengo também adquiriu a máquina que faz os testes sorológicos semanalmente. Ela fica no Ninho do Urubu.
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