Os valores cobrados pelo Flamengo na Ilha do Urubu tornaram-se alvo de críticas de boa parte da torcida desde o primeiro jogo. Na última quinta-feira, o clube reformulou os descontos para sócios-torcedores, limitando a meia-entrada a quem tem o direito por lei para a partida com o Grêmio, na quinta-feira. Mesmo assim houve protestos. Dentro do clube, inclusive, o desconforto é grande.
O diretor-geral Fred Luz detalhou ao GLOBO o que pensam os dirigentes sobre o tema. Segundo ele, a ideia é acreditar que o torcedor do Flamengo quer um time forte, mesmo que para isso a Ilha do Urubu seja um estádio apenas para sócios e a maior parte do torcedor veja mais jogos pela televisão.
Quais os critérios para o Flamengo cobrar o que vem cobrando nos ingressos dos jogos na Ilha? O preço chegou a R$ 200, no mínimo, agora caiu para R$ 150.
Fred Luz: Toda questão de precificação nunca é estável. Os valores dos jogos variam. Ela depende muito do interesse do jogo. O objetivo é precificar para ter o estádio lotado. E não ter cambista. Mas isso é fácil de falar. Tem variáveis e incertezas sempre presentes. O que mais define o valor de um jogo? O estágio do time. O interesse é baseado em quando o time está. E na importância do jogo, se é eliminatório, final… No horário do jogo, o dia, também muda. Um jogo dia de semana de noite tem interesse diferente.
Os dados mostram que o valor está adequado, então?
Fred Luz: A gente está buscando, e estamos sendo bem sucedidos, a ocupação máxima do estádio. Até agora, não tivemos lotação inferior a 80%. E está crescendo. Fizemos um primeiro pacote de jogos. Precificamos com antecedência. Antes do jogo com a Ponte, o time estava com uma campanha não tão adequada. Parecia que o jogo do São Paulo estava ficando caro. Mas a performance melhorou. Foi o primeiro jogo na Ilha de tarde. Apesar de ser o mais caro, foi o que mais lotou.
Com o ticket médio por volta de R$ 60 vocês acreditam que a Ilha vai sempre lotar?
Fred Luz: A gente acha que essa faixa de preço é adequada. O preço oficial, infelizmente no Rio de Janeiro, diz muito pouco sobre o valor. O ticket médio é menos da metade do valor. Fizemos uma correção do sócio-torcedor para equalizar. Todos têm o mesmo desconto. Com exceção do Tradição, que pelo modelo tem desconto menor.
Não temem que o número de sócios diminua?
Fred Luz: Não estamos contando com perda do número de sócios. Está aumentando todo dia. O desconto é expressivo. O ST não é motivado só pelo estádio. Até porque não cabe todo mundo. A motivação do sócio-torcedor é ver o Flamengo forte. Temos elenco em condições de disputar qualquer campeonato.
No Maracanã o ingresso seria mais barato?
Fred Luz: No Maracanã, como tem mais lugares disponíveis, provavelmente poderíamos operar com ticket médio um pouco mais baixo. O desafio é não dar margem para o cambista ganhar dinheiro em cima do Flamengo. Porque o investimento do clube não vem pra gente. O torcedor não quer isso.
Então o preço seguirá assim na temporada?
Fred Luz: A tendência hoje, até surgir um fato novo, é de certa estabilidade. Tem um fator que a gente não sabe direito. A gente observou contra o São Paulo uma mudança no perfil do torcedor. Muitos que iam ao Maracanã, da Zona Sul, não iam muito na Ilha. A ocupação do setor oeste também era baixa, e ficou assim mesmo com preço igual ao da Leste e a Sul. Agora a procura pelo Oeste está aumentando.
Acha que a Ilha vai emplacar mesmo com dificuldade de acesso?
Fred Luz: A medida que o torcedor conhece a Ilha, o trabalho de segurança e acesso, facilita. E o torcedor ganha confiança. Isso é unânime, que a experiência é legal. Ainda vamos ter mais demanda por aquilo ali. E vamos ficar administrando o preço. Acho que chegamos a uma situação de estabilidade para jogos nesse nível de desempenho.
Haverá ingressos populares em algum momento?
Fred Luz: Popular são as gratuidades. Isso no Estado não tem cunho social, não importa a renda. Poderia ser mas não é. Quando o jogo não tem interesse elas não são todas usadas. Quando tem, esgota. Deveria ser o social, é 10% da capacidade do estádio.
A Ilha do Urubu, então, seria só para sócios-torcedores?
Fred Luz: Acredito que sim (só sócio). No jogo contra o São Paulo, para não sócio foram apenas 597 ingressos. Quase todos para sócio-torcedor. A tendência, mesmo no Maracanã, quando tiver uma solução, é que seja lotado por sócios-torcedores. Na Libertadores foram 90% de sócios em alguns jogos. Como é no mundo todo.
Pode haver desconto progressivo para os sócios mais presentes, como é feito em outros clubes brasileiros?
Fred Luz: É uma possibilidade, mas não tem definição. Temos sistema de pontuação que dá benefícios, mas não ingressos. O modelo tem categorias com prioridades diferentes. Está havendo uma migração de sócios do Raça para categorias mais altas. Por isso não é simples dar pontuação para ter ingresso. Mas não está descartado.
A Ilha está orçada para dar retorno financeiro a ponto de o ingresso não poder diminuir?
Fred Luz: A Ilha foi orçada, a bilheteria também foi considerada. Naturalmente quando compara perspectiva de receita na Ilha e um estádio de grande porte, a projeção é menor. O Flamengo vai ter que se superar. Claro que o ticket médio vai ser maior, do que o do Maracanã, por exemplo.
Você atribiu o cambista apenas ao sinal de que o preço está baixo?
Fred Luz: Atribuo o cambista apenas ao preço. Ele existe por preço e conveniência. Consegue pegar e vender por um preço maior. O cara que não comprou no site, vai tentar comprar na porta, porque vai ter alguém vendendo.
O torcedor do povão, que forma a maior parte da torcida do Flamengo, vai ter que se contentar com a televisão?
Fred Luz: Sempre tem possibilidade do cara comprar o ingresso. Se pegar o torcedor que vai a todo jogo no Maracanã, ele tem que ter uma certa renda. Por mais barato que seja tem que ter para ver alguns jogos. Temos esse dilema. O desafio é conseguir estádios maiores. A CBF estabeleceu que sem o Maracanã não podemos jogar em outros estádios de grande porte. Poderíamos atender nosso torcedor, com preços menores. Em um estádio menor, tem problemas. Mas não adianta ir para uma situação irreal. Acreditamos que acima de tudo o que torcedor quer é o time forte. É ter Diego, Guerrero, Márcio Araújo, Éverton Ribeiro. A gente já teve uma linha mais populista que não levou o Flamengo ao lugar que tinha que ir, de construir times robustos. O jogador por mais que ele ganhe chega sabendo que vai ser mantido no ano seguinte, não com a faca no pescoço. Isso depende do valor do ingresso, da bilheteria. Fui aos clubes agora da Europa e um terço da receita vem do conjunto estádio, televisão, sócio e bilheteria. No Flamengo não chega a 15% ainda. Esse componente tem que ganhar.
O sócio Tradição paga mais que quem paga meia-entrada, isso vai ser revisto?
Fred Luz: A gente fez uma mudança, pode ter um efeito colateral. Nesse jogo do São Paulo, foram 106 ingressos do Tradição. Não tem conseguido comprar por causa dos demais planos. Tem que pagar menos. Mas o objetivo não é ir ao estádio. Ele paga menos de 10 reais e tem desconto 50% menor do que os demais planos. É mais para experiência dos sócios fora do Rio.
Se o Flamengo for para as finais da Copa do Brasil e da Sul-Americana o preço pode aumentar?
Fred Luz: A filosofia é precificar em cima do interesse do jogo. Se tiver disputando um campeonato, como a Copa do Brasil… E ali ainda teve cambista, em 2013. Não temos nenhum interesse em elitizar. O interesse é no torcedor do Flamengo que quer o Flamengo forte. E temos que impedir que pessoas ganhem dinheiro às custas do que o clube está fazendo.
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