Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a vossa vã filosofia. A frase da tragédia Hamlet, de Shakeaspeare, ilustra o que será do Flamengo após a disputa da final da Copa do Brasil hoje, a partir de 21h45, no Mineirão, contra o Cruzeiro. O tetracampeonato pode coroar a retomada do clube à rotina de briga por grandes conquistas, reiniciada em 2016, mas sem apagar problemas na atual temporada, como a queda na Libertadores. O grande objetivo do ano ficou pelo caminho e aumentou a cobrança na Copa do Brasil. Mas a meta de longo prazo projetada internamente é se manter em novo patamar daqui em diante e aumentar a média de títulos de maior expressão disputados. Portanto, um revés logo mais não será encarado como fracasso, apesar do caráter de obrigação propagado pelos torcedores.
– O Flamengo tem uma mística ganhadora. Como mandante ou visitante. Vamos por esse caminho. A diferença das grandes equipe do mundo é ganhar sempre – resumiu o técnico Reinaldo Rueda, a grande aposta do clube para voos mais altos, nacional e internacionalmente.
A “filosofia” da gestão Bandeira de Mello teve início em 2013, quando, mesmo em recuperação financeira e com um time remendado, o Flamengo foi campeão do torneio quase ao acaso. Quatro anos depois, já foi eliminado três vezes na Copa do Brasil (2014, 2015 e 2016) e agora volta a disputar uma final com uma equipe mais qualificada e um clube mais estruturado. Até agora foram as duas únicas decisões a nível nacional. No ano passado, mesmo em ascensão, o tombo foi para o Fortaleza. E 2016 terminou sem títulos, só no cheirinho do Brasileiro. Vieram mais contratação de peso e mais investimento em tecnologia e profissionais.
Nem tudo deu certo. Há ajustes a serem feitos no departamento de futebol. Mesmo com cinco goleiros, o clube chega á final com Alex em baixa, apesar do carinho da torcida. E deposita as fichas em Diego e Guerrero novamente, já que a principal contratação, Everton Ribeiro, não fechou a tempo. A aposta é também no técnico Reinaldo Rueda, que chegou só há um mês e já tem a responsabilidade de levar o Flamengo ao título em uma temporada com troca de treinador. O colombiano dividiu o feito com Zé Ricardo e deixou claro que é preciso ter convicção no trabalho independentemente do resultado.
– Queremos que a torcida possa comemorar esse título, porque seria muito gratificante. Essa é a grande esperança. Mas não significa que garanta estabilidade e projeto longo no Flamengo. Renovamos contrato a cada 24 horas. Hoje estamos, amanhã não estamos. Dependemos da convicção, dos projetos, e trabalhamos para isso. Estamos em uma grande instituição que valoriza isso, e seria muito importante essa conquista coroar – definiu o técnico, já acostumado com a pressão da torcida.
– É alto cultural, brasileiro, viver o futebol como paixão. No Rio e no Flamengo isso é multiplicado por três – completou Rueda.
Entre o céu e a terra, há muitas coisas. E o Flamengo é uma das maiores. Ciente disso, o experiente comandante mexeu com os brios dos atletas para a decisão.
– Hoje no futebol não vale somente o nome. Tem que ter comportamento. Ser competitivo, intenso. Evitar excesso de confiança. A equipe está melhorando mais nesses jogos importantes, decisivos – diagnosticou Rueda, que viu de longe este elenco se perder em jogos eliminatórios. Hoje é o teste final.
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