No Al Hilal desde o segundo semestre de 2023, Jorge Jesus teve uma passagem de muitos títulos no futebol brasileiro, mais precisamente no Flamengo. Entre 2019 e 2020, em um curto espaço de tempo, o técnico português deixou a sua marca no país e levantou cinco taças, entre elas a da CONMEBOL Libertadores e a do Brasileirão. E na opinião de alguns, o Rubro-Negro nunca mais foi o mesmo desde a sua saída.
Campeão da América com o Internacional em 2006, o ex-meia Márcio Mossoró, hoje também treinador, trabalhou com o Mister no Braga, de Portugal, entre 2008 e 2009, e conhece bem o seu trabalho. E mesmo agora fora das quatro linhas, segue acompanhando o futebol nacional.
Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, Mossoró, lembrou do time marcante do Flamengo comandado por Jesus e afirmou que, desde então, mesmo com a chegada de outros treinadores – a maioria de nome – e até outros jogadores estrelados ao elenco, o Rubro-Negro até hoje ainda não voltou a apresentar o mesmo futebol.
O ex-meia ainda teceu muitos elogios ao trabalho de Jesus, o colocando na prateleira dos melhores que o comandaram e revelou que foi o próprio Mister que o fez ter vontade de seguir carreira como técnico após pendurar as chuteiras.
“Trabalhar com o Jesus me fez despertar o desejo que tenho, hoje, de ser treinador. É um cara muito inteligente, que realmente tira o melhor dos seus atletas, consegue identificar o potencial de cada um, os trabalhos… se eu fosse falar do trabalho dele, de ter trabalhado com ele, passaria o dia todinho falando, de uma forma bem especial. Tenho gratidão a muitos com quem trabalhei. Sebastião Lazaroni, Abel Braga, Muricy, mas ter trabalhado com o Jesus foi muito especial, mesmo. É diferente. ‘Ah, mas foi porque o Flamengo tinha um time bom em 2019’… o Flamengo continuou tendo time, melhor do que aquele de 2019, mas nunca mais jogou igual, e nem vai jogar. E se o Jesus voltar? Ele vai fazer o time jogar da mesma forma, na mesma intensidade. Com outros jogadores, mas com a mesma identidade que ele cria e que ele tem nos times que comanda. É impressionante, o trabalho dele realmente é diferente”, disse.
Atualmente com Tite no comando, o Flamengo ainda teve Domènec Torrent, Rogério Ceni, Renato Gaúcho, Paulo Sousa, Dorival Júnior, Vítor Pereira e Jorge Sampaoli como treinadores após a saída de Jesus, que à época deixou a equipe carioca para retornar o Benfica, em meio à pandemia de COVID-19.
Jogador do Braga de 2008 a 2013, Mossoró passou pouco tempo no clube português com Jorge Jesus, mas ainda assim teve a sua carreira impactada por JJ. Até porque foi o próprio treinador que pediu a sua contratação por lá, à época se tornando a compra mais cara da história dos Arsenalistas.
“Trabalhar com o Jorge Jesus foi muito especial. Primeiro porque foi ele quem me contratou. Ele quem fez o primeiro contato, me ligou, falou do interesse, perguntou se eu também teria o interesse, até porque eu estava no Marítimo. Tinha acabado o meu empréstimo, e ele me queria no Braga, porém, o Internacional só me liberava se fosse em definitivo, então o Braga teria que me comprar. Na altura, eu fui o jogador mais caro da história do Braga, pagaram 750 mil euros pelo meu passe, comprado diretamente do Internacional e do Paulista de Jundiaí, que ainda tinha uma porcentagem”, lembrou.
Jesus, inclusive, o marcou por conta de um episódio em especial. E tudo isso após fazer uma comparação inusitada em uma conversa a sós com o jogador, com o intuito de apontar no que o brasileiro ainda precisava melhorar em campo. E a lição, até os dias de hoje, é lembrada com carinho por Mossoró.
“Teve um jogo onde fui um dos destaques, e ele falou: ‘Mossoró, eu não tenho nada para falar para você, do meio-campo para frente. Diagonal, chega perto da área, dribla, dá passe, é um cara diferenciado, mas para jogar no futebol de hoje também tem que ajudar na marcação. Você é um meio-campo, tem que ser um 10 diferente, além de jogar você tem que ajudar a marcar porque tem potencial para isso, você é rápido, inteligente, tem uma boa leitura. Eu só quero que você ajude em determinados momentos da partida'”, disse.
“Aquilo foi bem diferente, me marcou e eu me tornei o jogador que eu fui muito graças também aos conselhos, à orientação, à forma como eu trabalhei com ele. Ele foi um dos responsáveis. Ele usou até uma comparação entre o diesel e a gasolina. ‘Daqui para frente, você é gasolina. Mas, na hora de marcar, de vir para trás, você está igual diesel’ (risos). O Jesus é um cara espetacular, um cara realmente diferente”, finalizou.
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