Desde 1999, o Flamengo não conquista um título internacional. Em 17 anos, nunca teve uma oportunidade tão grande como nessa Copa Sul-Americana. Mengo à parte, os maiores clubes brasileiros do torneio são Coritiba e Sport. Entre os estrangeiros, destacam-se Independiente, Estudiantes, San Lorenzo e um Atlético Nacional campeão da Libertadores há menos de um mês, possivelmente ainda na ressaca da conquista.
Nos atuais moldes, para o Flamengo disputar a Sul-Americana, é que algo deu muito errado lá atrás. Não se chega a ela sem passar por um vexame na Copa do Brasil. Racionalmente injusto tal “prêmio de consolação”, mas é assim que funciona. Pois bem, passamos pelo nosso em maio e desde então alimentamos a vontade de voltar a triunfar no cenário internacional. Alimentamos nós, torcedores. Zé Ricardo não.
Foi necessário levar um banho de um combalido Figueirense, no 1° tempo, para Zé entender que o objetivo do Flamengo é ser campeão. Inacreditavelmente, até as 22:30 da quarta-feira, ele não sabia.
A primeira prova da ignorância do treinador é a escalação, aberta pelo goleiro reserva Paulo Victor. Na lateral direita, abriu mão de um Pará que vem jogando bem por um Rodinei que não entrava em campo desde o dia 3 de julho. Na zaga, simplesmente trocou a dupla titular. Saíram Réver e Vaz, que vêm atuando, para a entrada de Donatti – que não tinha 40 minutos jogados com a camisa do Flamengo – e Juan, que não consegue se livrar das lesões. Fechou a linha defensiva com o horroroso Chiquinho, que já provou por A+B que deve ser tratado como terceira opção para a lateral esquerda, atrás de Jorge e Éverton.
Do meio pra frente, até houve coerência, coisa que faltou na montagem do banco de reservas. O volante era Ronaldo, o meia Adryan, o centroavante Felipe Vizeu e o segundo atacante Fernandinho. Nenhum titular no último domingo, contra o Grêmio. Márcio Araújo, Diego, Leandro Damião e Éverton – além de Gabriel – sequer foram relacionados.
A segunda prova é a postura do time, que fez seu pior jogo na temporada. Dos 11 escalados, 10 entraram encarando a partida como um jogo-treino. Apenas Cuéllar foi a campo pensando em vencer. Desesperado pela passividade dos companheiros, o colombiano subia, buscava algo, abandonando sua função de marcador. Cabia a Juan dar o combate na intermediária, deixando a zaga desprotegida. Aí o Figueirense deitava e rolava. Isso com a bola rolando. Com ela parada, era ainda pior. Foram 4 cruzamentos perigosos na nossa área – 1 quase gol, 2 gols e 1 gol anulado. Paulo Victor entregou o último dos caras, Donatti o terceiro. Impressionante a falta de reação do argentino no lance. Quem acompanha o blog sabe que sou crítico da dupla Réver-Vaz. Depois de hoje, não há como não defendê-la.
Demos sorte de acharmos 1 gol e “só” sofrermos 3 no primeiro tempo – 3×1 foi pouco. Aparentemente, Zé Ricardo foi descobrir no intervalo que a Copa Sul-Americana é importante para o Flamengo, e passou isso aos jogadores. A equipe voltou para o segundo tempo mais comprometida. Na etapa final houve equilíbrio: 3 chances claras e 1 gol pra cada lado.
“Foi um dia ruim, em que não nos recuperamos nos primeiros momentos da partida. Acreditamos que o segundo jogo vai ser bem melhor e que vamos reverter a situação. Fica uma lição para que em todos os jogos o time entre ligado, sempre se condicionado ao trabalho de competitividade que faltou hoje. Mas a responsabilidade é da comissão, é minha. De forma geral a gente não repete essa atuação de hoje.”
Palavras de Zé Ricardo após a derrota por 4×2. Sincero. Assumiu a culpa pelos erros, ressaltando a falta de competitividade e o “desligamento” do time no primeiro tempo. O que dá raiva é essa história de “fica uma lição”.
Precisava mesmo tomar um passeio do Figueirense pra aprender que o Flamengo tem de levar a sério todos os jogos? Era necessário lidar com a frustração do torcedor pra entender que a Sul-Americana não é brincadeira e que temos de encará-la com o mesmo espírito do Brasileiro? Rubro-Negro quer ser campeão sempre, professor!
Zé Ricardo poupou titulares porque considerava a partida contra a Chapecoense mais importante. Não era, e agora só é por ser a próxima. A verdade é que os 90 minutos na Arena Condá serão os únicos, nos próximos 7 dias, em que o flamenguista não estará pensando no confronto da volta com o Figueirense.
Fomos presenteados com o segundo gol no Orlando Scarpelli. O tento da esperança, que nos fez voltar a crer que é possível, sim, avançar na Sul-Americana. Acreditamos não pelo time – que tem imensa dificuldade de vencer por mais de um gol –, mas porque somos apaixonados pelo Flamengo. Zé Ricardo e jogadores, respeitem nossa paixão. Na quarta-feira, em Cariacica, se entreguem pelos 90 minutos, mais pelos 45 deixados de lado em Florianópolis.
Mordido de raiva e banhado de fé, saudações Rubro-Negras.
Fonte: Nosso Flamengo
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