Contratado pelo Flamengo no começo deste ano, o atacante Michael é uma das opções do técnico Jorge Jesus para a vaga de Bruno Henrique, lesionado, no jogo pela Copa Libertadores contra o Junior Barranquila-COL, nesta quarta-feira.

No último fim de semana, o treinador português reconheceu que o ex-Goiás ainda tem muito a “aprender”, mas ressaltou que é dotado de “muito talento”.

A carreira do jogador de 23 anos, porém, tinha tudo para dar errado. Conhecido como “Porrinha”, ele teve envolvimento com bebidas, álcool, drogas e criminalidade.

“Eu já o conhecia jogando na várzea e em 2015 ele jogou no Monte Cristo-GO, na terceira divisão, mas sem responsabilidade. Ele não tinha contrato. Não tinha obrigação de treinar nem nada e não recebia. Não era de fato um profissional”, contou o técnico Fabrício Carvalho, ao ESPN.com.br.

Quando comandava o Goiânia Esporte Clube, em 2016, o treinador recebeu um pedido do cunhado Samuca, que jogava com Michael na várzea e queria ajudá-lo.

“Eu liguei para o Porrinha [apelido de Michael] e perguntei se queria uma oportunidade porque tinha passado por um ano complicado. Em 2016, ele sofreu seis tentativas de assassinato e tinham matado o ‘Mãozinha’, um rapaz que andava muito com ele”, recordou.

Fabrício combinou que iria de carro todos os dias à casa de Michael para levá-lo buscá-lo nos treinos e jogos. A condição seria que o jovem tivesse comprometimento.

“Indo para o treino já tive que tirá-lo da mão da polícia várias vezes. Uma vez, a polícia foi atrás dele no treino. Meu carro tinha vidro fumê e fui parado na rodovia. Ele gostava de sentar na cadeirinha do meu filho que ficava no banco de trás”, contou.

Quando a atacante completou 20 anos, o treinador pediu para fazer um contrato profissional.

“Goiânia não queria porque ele tinha fama de peladeiro, drogado e tudo mais. Eu bati o pé e o profissionalizamos. Me disseram que todas as responsabilidades em termos financeiros seria minha. Qualquer coisa que ele fizesse de errado. Eu coloquei na cabeça que tinha potencial, mas tinha que levar à sério porque era a única chance de vida dele. Ou ele ia ser morto ou ia ficar preso”, falou.

O treinador conta que mais difícil do que tirar o jovem do caminho errado era não deixa-lo jogar nas equipes de várzea, que o ajudavam financeiramente.

“Eu fui atrás de alguns parceiros meus para que ficassem o vigiando não deixá-lo jogar pelada por ai. Queria que ele tivesse total comprometimento com o time. Foi difícil, mas conseguimos. Ele chegou a jogar uns minutos e eu peguei no pé dele. Fizemos uma força-tarefa que deu certo”, contou.

Fabrício deixou o time em julho de 2016, mas Michael permaneceu até o final do ano.

Em 2017, o atacante ia para um clube perto de Barra do Garça-MT e ficaria mais perto de sua cidade natal. Fabrício, porém, recebeu uma ligação de Roni (ex-zagueiro do Atlético-MG), que queria levar Michael para o Goianésia.

O técnico incentivou o antigo pupilo a ir para a equipe goiana. A escolha não poderia ser mais certeira. Michael se destacou, foi para o Goiás e brilhou por duas temporadas antes de ir para o Flamengo.

“Acredito que vai dar certo porque onde ele passou conseguiu jogar bem. Ele veste a camisa, se doa ao máximo. Muito habilidoso no um contra o um, ainda mais com o Flamengo. O que ele fazia no terrão faz agora no profissional. Com o apoio da torcida, que terá paciência com ele”, afirmou Fabrício.

Mesmo com a distância, Fabrício procura conversar com o ex-comandado.

“Ele sempre me escutou e tem gratidão por mim, da mesma forma eu tenho gratidão por ele. O maior trabalho com ele foi fora de campo, não dentro de campo”, finalizou.

O Flamengo estreia na Copa Libertadores nesta quarta-feira, às 21h30 (de Brasília), na Colômbia, contra o Junior Barranquilla.

Fonte: https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/6716126/ou-ia-ser-morto-ou-preso-ex-tecnico-conta-como-michael-deixou-fama-de-peladeiro-e-drogas-para-ser-elogiado-por-jesus