A decisão de Jorge Jesus por trocar o Flamengo pelo Benfica foi estritamente pessoal. Amigo pessoal do presidente Luis Filipe Vieira, com quem mantinha contato direto, o treinador deu resposta positiva antes mesmo de comunicar aos membros de sua comissão técnica e aos responsáveis por sua carreira.

Auxiliares do treinador no Flamengo, os sete portugueses que trabalham com Jesus não estavam cientes do destino. Tanto que alguns estão viajando fora do Rio de Janeiro, e acabaram surpreendidos com o noticiário. O mesmo aconteceu com o agente do técnico, Bruno Macedo, que tinha a impressão que ele ficaria no Flamengo.

Todos tomaram conhecimento da decisão de Jesus através da imprensa portuguesa, com quem Jesus mantém grande proximidade. Mas ninguém pode dizer que foi surpreendido com o adeus. Principalmente no Flamengo. Ao renovar por uma temporada, com multa baixa, de apenas 500 mil euros, Jesus deu sinais de que não tinha planos a longo prazo no clube. A diretoria tinha noção disso, mas preferiu avaliar um passo de cada vez.

O acerto no mês de junho foi com certo desgaste em relação ao valor salarial acordado, mas Jesus firmou seu compromisso com o grupo de jogadores e seguiu em frente. Com a diretoria, havia um combinado particular. O vice de futebol Marcos Braz tinha a promessa de ser avisado primeiro caso Jesus fosse embora. Para que a reposição pudesse acontecer de forma menos trautmática. O dirigente acabou sabendo da decisão do técnico na manhã desta sexta-feira, em sua casa, também pela imprensa.

Jesus tinha boa relação com os membros do departamento do futebol, mas não era de hoje que torcia o nariz para comportamentos do restante da diretoria. Especialmente o vice de relações externas, Luiz Eduardo Baptista, que chegou a irritá-lo com declarações sobre a escalação do time no Mundial de Clubes.

Ao longo da última semana, Jesus se manteve isolado no Ninho do Urubu, o que intrigou os jogadores. Mas nem para seus comandados o Mister revelou que pensava em sair. Suas atitudes e comportamentos fizeram os atletas prometerem o título do Estadual por ele, e a comemoração jogando Jesus para o alto foi como uma despedida, apesar de no momento todos preferirem interpretar também como um novo “fico”.

Jesus tinha saudade da família e de seu país. Esteve com a mulher e os filhos poucas vezes no Rio. E os levou para as decisões da Libertadores e do Mundial de Clubes. Ao longo da temporada, a convivência era restrita, e a atenção toda voltada ao trabalho no Flamengo. Também por isso, o técnico indicava um prazo de validade no Brasil.