Renato Gaúcho, Romário e Túlio Maravilha. Três personagens emblemáticos e uma disputa particular: a busca pela simbólica coroa da cidade. Assim foi feita a propaganda do Campeonato Carioca de 1995, que completa 25 anos nesta quinta-feira e ganha o livro reportagem ‘Reis do Rio’, escrito pelo jornalista André Baibich. Ele relata como o gol de barriga que selou o título do Fluminense foi apenas uma das várias histórias curiosas ao redor do torneio.

Maracanã 70 anos:Os 10 maiores jogos do Fluminense no estádio

— Tinha vontade de escrever um livro reportagem há bastante tempo, mas não encontrava o tema. Os anos 1990 foram marcantes por ser a minha passagem de criança e adolescente e o futebol foi mais intenso. Me veio a memória do Carioca de 1995 e a disputa entre Renato, Romário e Túlio me deu a certeza por ser algo rico pelas diversas histórias. Havia a recuperação do Fluminense, a contratação do Romário considerada a maior de todos os tempos e vínhamos de uma época onde o São Paulo do Telê e o Palmeiras do Luxemburgo dominavam o futebol — conta o jornalista.

RANKING:Os 30 maiores ídolos da história do Fluminense; veja a lista

Nascido em Porto Alegre (RS), André se mudou para o Rio de Janeiro em 2018, e, do amor pela cidade, surgiu a ideia de retratar um dos vários períodos em que o Rio e o futebol viveram uma feliz lua de mel. Entre as várias histórias citadas no livro, ele destaca o encontro de Renato Gaúcho com a drag queen ‘Isabelita dos patins’ como a sua preferida.

— Quando o Fluminense estava mostrando recuperação no octogonal final, o Renato foi convidado a participar de um desfile de moda, mas acabou se atrasando e não conseguiu desfilar. Lá, ele encontrou uma drag queen chamada ‘Isabelita dos patins’. Ela tinha ficado famosa por ter se encontrado com o Fernando Henrique Cardoso (presidente eleito em 1994 e 1998) e dado um beijo nele. Ela ficou uma fama de dar sorte às pessoas com quem se encontrava. O Renato ganhou um beijo e disse que era “mais um sinal que o Fluminense seria campeão” — conta André, lembrando que o Tricolor era azarão no torneio.

— O Fluminense passou toda a primeira fase confirmando o seu status de azarão. Ele foi muito mal, apesar de ter ido bem nos Fla-Flus. Começou o octogonal com um empate e uma derrota, a medida que o Flamengo era líder com duas vitórias. Ele estava oito pontos atrás do líder na terceira rodada. O Fluminense chegou a jogar a toalha, as declarações do Joel Santana mostravam isso. Até que ele ganhou do Vasco de forma improvável.

A arrancada do Fluminense até o título com gol de barriga é lembrada por Renato Gaúcho, um dos personagens entrevistados pelo jornalista, assim como Túlio Maravilha, artilheiro do Botafogo. O único que não quis falar foi Romário, que na época defendia o Flamengo, mas teve a sua história contada por outras maneiras.

Livro 'Reis do Rio' Foto: Reprodução

— O Romário não quis falar, procurei a assessoria, mas ele não estava dando entrevistas sem ser sobre a atuação parlamentar. Contei muito com depoimentos de pessoas próximas a ele e deu para construir quem ele era. O Renato estava decidido a se aposentar e já tinha comunicado à família após estar mal na “Sele Galo”. Ele fala que o interesse do Fluminense acendeu uma chama. Túlio foi o artilheiro do Campeonato Carioca e fala de uma vontade de querer voltar para 1995 para desfazer a bobagem que ele fez na final da Taça Guanabara, contra o Flamengo, onde foi expulso aos 32 minutos do primeiro tempo.

O livro está à venda no Clube de Autores, plataforma para autores independentes, no link bit.ly/reisdorio. A versão impressa custa R$ 40,41, enquanto o E-book está a R$ 12,92. Devido à pandemia do novo coronavírus, ainda não há uma data para o lançamento acontecer de maneira presencial. A obra é fruto de um ano e meio de trabalho, dividida em pesquisa em material da época, como jornais diários e vídeos, e entrevistas com 28 personagens – incluindo Renato e Túlio, dirigentes, técnicos, jornalistas e amigos próximos dos protagonistas foram entrevistados. As ilustrações são de Gilmar Fraga.

— Talvez o ponto principal do livro seja essa volta ao passado do futebol, que hoje não existe. Com todo o controle que há sobre as declarações dos atletas, com toda essa preocupação com a imagem e com a interpretação de provocações como algo ofensivo, isso acabou. Esse jogo de alfinetadas bem humoradas, promessa de gol, são temperos que existiam no jogo e que deixavam mais saboroso. Isso chamava gente para o estádio e o Carioca de 1995 foi o auge desse movimento e desse clima de provocações com bom humor. De encarar o jogo de futebol como um divertimento.