Gol do Pet – A crônica reescrita

Gol do Pet! Embora o Flamengo seja um clube centenário com muitas glórias no futebol, poucos gols se tornaram icônicos a ponto de receber um nome próprio. Gols como o do Valido, do Rondinelli, do Zico, do Nunes e do Gabigol são exemplos disso. Isso acontece quando um gol é tão memorável que ganha vida própria, tornando-se a imagem que vem à mente ao se recordar de uma partida histórica. O Gol do Pet é precisamente isso.

Assim como uma obra de arte, o gol é a pintura, e todo o resto é a moldura. Se comparássemos ao corpo humano, aquele gol seria um organismo vivo, e, para ilustrar essa analogia com a anatomia, o Gol do Pet representaria o coração! Pulsante! Vibrante! É a lembrança mais marcante e aquela que provoca a maior comoção.

É importante destacar que essa conquista possui várias camadas e emoções profundas! Como não recordar de Zagallo, que, munido de toda a sua sabedoria e experiência, soube conduzir um ambiente extremamente desafiador? E das defesas milagrosas de Júlio César — especialmente na final, quando parecia intransponível? Como esquecer da força, audácia, coragem e qualidade de Beto; da juventude vibrante de Juan e Reinaldo; e, sem dúvida, do impressionante poder de decisão de Edilson, uma figura que, injustamente, ainda é subestimada nessa conquista monumental?

Retornando à final, naquele inesquecível 27 de maio de 2001… pode parecer injusto descrever tudo que não foi o gol decisivo apenas como moldura, mas cada detalhe foi essencial para essa obra-prima. Primeiramente, a determinação daquela equipe, que, precisando vencer por dois gols de diferença, partiu com todo o ímpeto contra um Vasco extremamente forte. Em seguida, o primeiro grito de gol: Edilson, com a frieza de um verdadeiro artilheiro, converteu o pênalti após uma bela jogada de Cássio pela esquerda, que foi derrubado com falta. Então, o segundo gol, já na segunda etapa: uma jogada mágica de Petkovic e a cabeçada certeira, de qualidade e talento, que apenas um atacante da estirpe de Edilson poderia executar. Cada um desses momentos poderia servir como mote para contar a história daquela decisão.

Mas chegou o momento decisivo. Aos 42 minutos do segundo tempo, Leandro Ávila partiu pelo meio e tocou para Edílson, que, bem marcado por Fabiano Eller, teve dificuldade para girar e lançar Jorginho. Falta marcada por Léo Feldman a favor do Flamengo.

O Galinho de Quintino foi lembrado naquele lance. Aos 43 minutos, com o Flamengo precisando de um gol para conquistar o título, quem se apresenta para a cobrança é o camisa 10.

Naquele momento, enquanto a torcida do Flamengo erguia as mãos no Maracanã, concentrada e em silêncio para não atrapalhar Pet na cobrança que se aproximava, nenhum rubro-negro deixava de recordar Zico. Também se lembravam de Valido, que fez um gol aos 43 minutos do segundo tempo na decisão contra o Vasco em 1944, conquistando o primeiro tricampeonato carioca. Lembravam ainda da cabeçada de Rondinelli em 1978 contra o mesmo Vasco, aos 42 minutos da etapa final.

Apolinho clamou por São Judas Tadeu. Era o momento decisivo. Zagallo segurava Santo Antônio, que estava em suas mãos. Alessandro estava em oração! Torcedores faziam o sinal da cruz nas arquibancadas, utilizando toda a fé possível e até mesmo aqueles que eram agnósticos ou ateus clamaram a algum santo naquele instante.

Pet, que até aquele momento não havia causado perigo ao goleiro vascaíno com suas cobranças de falta, respirou, avaliou como seria a cobrança e executou. Com habilidade e força, ele colocou um efeito tão magnífico na bola que ela descreveu um arco no ar, caindo no ângulo esquerdo de Helton, que conseguiu tocar na bola com os dedos. A trajetória da bola parecia ter sido cuidadosamente colocada com as mãos. Aquilo parecia humanamente impossível, mas não para Petković, que creditou a espetacular batida à energia da torcida.

O Maracanã explodiu em euforia! Dirigentes, comissão técnica, jogadores e até Zagallo comemoraram como nunca. Pet correu como um louco, parecendo atravessar um portal que o levaria para a história do Clube de Regatas do Flamengo e para a eternidade.

Publicado em colunadofla.com