Seis meses após o incêndio que matou dez atletas da base do Flamengo e deixou outros três feridos, poucas respostas foram dadas. E para não deixar o assunto cair no esquecimento, o grupo "Flamengo da Gente", formado por conselheiros, sócios e torcedores do clube, lançou a campanha "Nós não esquecemos", que cobra mais transparência e agilidade na investigação interna do caso.
– Nos últimos anos, o clube se estruturou, montou um estrelado elenco de futebol profissional e ganhou o status de milionário do esporte. Isso só aumenta nosso desejo de que crianças nunca mais precisem dormir em alojamentos improvisados ou sejam submetidas a situações que ponham em risco sua vida, dignidade, saúde ou desenvolvimento psicológico – diz um trecho do manifesto do "Flamengo da Gente".
Além da campanha, um site oficial com um texto-manifesto foi publicado, um abaixo assinado foi escrito e um cartaz foi disponibilizado para ser baixado pelos torcedores. A ideia é que a ação esteja no Maracanã nos próximos jogos do Flamengo e outras estão sendo preparadas pelo grupo.
Procurado pelo EXTRA, o grupo também revelou que foram produzidos adesivos para distribuição aos torcedores custeados por conta própria, e explicou a sua motivação nesta causa.
– A campanha visa manter essa pauta no ar. É uma questão que não se esgotou no ponto de vista de responsabilidade. Nossa ideia é que a gente lembre que tem muita coisa interna a ser resolvida. Queremos manter essa pauta no ar porque temos a ideia de que, se a gente esquece de algo, pode se repetir. E nao queremos nada igual no Flamengo ou em qualquer outro clube. O que nós queremos é transferência e rapidez – declarou Guilherme Salgado, conselheiro do Flamengo e integrante do "Flamengo da Gente".
Anteriormente, dois meses após a tragédia, Guilherme lembrou que diversos sócios assinaram um requerimento para que o Flamengo abrisse uma sindicância interna para apurar a responsabilidade do caso. O Conselho DEliberativo respondeu que seria feito após o inquérito policial ser concluído. Para ele, a manifestão não tem viés político.
– Não temos nenhuma pretensão interna dentro do Flamengo. O ato não tem nada a ver com política interna, é externo, em memória dos garotos. Pedido que qualquer cidadão gostaria de fazer – explicou Guilherm.
Como estão as negociações com as famílias:
Sem negociação: Arthur, Bernardo, Christian, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Vitor Izaías.
Fechado com o Flamengo: Athila, Gedinho, Rykelmo pai.
Entrou na Justiça: Rykelmo mãe.
Defensoria Pública negocia com o Flamengo: Samuel.
Confira o manifesto completo do grupo:
A memória é uma importante ferramenta para sempre nos lembrarmos de que somos humanos. No dia 8 de fevereiro de 2019, um incêndio tirou a vida de 10 meninos do Clube de Regatas do Flamengo. Dez garotos com o sonho de defender as cores que amamos.
Sabemos que nada vai reparar a dor de amigos e familiares, mas exigimos justiça! E ela começa por investigações profundas, que apurem responsabilidades.
Nos últimos anos, o clube se estruturou, montou um estrelado elenco de futebol profissional e ganhou o status de milionário do esporte. Isso só aumenta nosso desejo de que crianças nunca mais precisem dormir em alojamentos improvisados ou sejam submetidas a situações que ponham em risco sua vida, dignidade, saúde ou desenvolvimento psicológico.
Que o 8 de Fevereiro se torne uma data oficial. De vergonha e memória. Que os responsáveis sejam apontados, sem blindagem. Que as famílias das vítimas recebam a reparação financeira que entendam ser justa. E que todos os envolvidos tenham acompanhamento social e psicológico pelos próximos anos.
Para nós, a grandeza do Flamengo não está na sala de troféus. Está na relação digna com seus atletas e torcedores.
O Flamengo é nossa gente – e é por isso que dizemos: nós não esquecemos.
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