Guerrero dobra média de cartões e vira desafio para psicologia no Fla

Calmo, discreto e tímido fora de campo, Guerrero muda dentro das quatro linhas. O fenômeno não é raro entre jogadores de futebol, que geralmente afloram a personalidade e transformam a fúria em gols e boas jogadas, mas, no pior cenário, também alimenta um ciclo vicioso de faltas, discussões, cartões e suspensões. Suspenso pelo terceiro amarelo em apenas cinco jogos no Brasileiro, ele desfalca o time contra o Atlético-MG no domingo em Brasília. Em um ano de Flamengo, ele tem 17 cartões – 16 amarelos e um vermelho – em 42 partidas. É a maior média da carreira, o que representa um cartão a cada dois jogos e um tempo (precisamente 2,47 partidas). O dobro do que recebia de cartões nos tempos de Corinthians – quando era suspenso a cada cinco partidas, na média dos seus 126 jogos de tempos paulistas.

Coincidência ou não, os dois jogos e meio de média para um cartão bateram exatamente contra o Corinthians. Guerrero voltou bem contra o Fluminense, fez gol, deu passe para Ederson marcar contra o Internacional e chegou a incomodar contra o ex-time – deu, por exemplo, ótima enfiada de bola para William Arão. No fim da partida, debaixo de muitas vaias toda a partida e gritos de “olé” do adversário, deu tranco em Paulo Henrique, discutiu com o garoto e os dois levaram amarelo na polêmica arbitragem de Heber Roberto Lopes na Arena paulista.

A instabilidade emocional de Guerrero preocupa o maior investimento do caro elenco do Flamengo. O jogador mostra dificuldade de controlar os impulsos nervosos e cai, constantemente, em provocações de adversários, quando não perde a cabeça e reage com violência nos jogos – o exemplo da cotovelada em Rodrigo, zagueiro do Vasco, no primeiro tempo do clássico no Campeonato Carioca. Naquela partida, Guerrero cometeu seis faltas, sendo o atleta mais faltoso em campo.

Coordenador de psicologia e treinamento mental, um dos sistemas do recém-criado Centro de Excelência em Performance, Fernando Gonçalves reconhece que os números elevados de cartões de Guerrero são “um fato”. O que não quer dizer, porém, que o jogador não siga à risca ao programa de treinamento mental que a sua área faz para cada atleta. No entendimento de Gonçalves, o jogador passou por duas partidas “altamente concentradas” contra Fluminense e Internacional, quando pouco se queixava de marcação adversário ou decisões da arbitragem.

– Ele é mega profissional. Dos mais interessados que já conheci e convivi. Atento a cada detalhe da vida profissional e tem plena noção de que esse dado é ruim. Isso (controle) está envolvido nesse treinamento que fazemos, que não é um treino de chute, cabeceio. São diferenças sutis. Requer tempo. Discutimos metas quando ele voltou da Copa América, inclusive. Mas tem um detalhe, ele é muito visado e tem a violência que a câmera capta e aquela que o juiz não vê e a câmera não capta. Não justifica, ele sabe que precisa melhorar nesse aspecto. Mas tem essa questão – diz Gonçalves, admitindo que o cartão contra o Corinthians quebrou o objetivo de sequência sem cartões do jogador para evitar suspensão.

O coordenador do departamento de psicologia do Flamengo acredita em coincidência nas altas taxas de cartão de Guerrero no clube, em comparação a outras passagens da carreira. Na versão do peruano, o cartão contra o Corinthians foi completamente injusto. Ele disse que reagiu a um xingamento do jogador corintiano, que ele viu começar a treinar no clube do Parque São Jorge. No lance anterior, Guerrero fez falta em Paulo Henrique. Após a agressão verbal, o rubro-negro pediu respeito ao jovem adversário. O Corinthians vencia o Flamengo por 4 a 0.

– Talvez pela performance estar abaixo da média pode ter impacto, pode existir essa correlação, o que não é garantido, porém. Mas o relevante e o mais interessante é que ele tem essa consciência e está totalmente engajado em melhorar.

No treino dessa quarta-feira, o técnico Zé Ricardo saiu ao lado de Guerrero, conversando e gesticulando ao lado do atacante. O jovem treinador, que tem a primeira experiência entre os profissionais, procura dar atenção especial ao peruano e mostra preocupação com o tema, como deixou claro após a derrota por 4 a 0 para o Corinthians.

– Ele tem um jogo de contato muito grande. Vinha conversando com ele. Nas últimas partidas, se manteve controlado até no que diz respeito a falar com a arbitragem e conseguiu não tomar cartão. Mas acabou se desentendendo com um jogador – lamentou o treinador.

Veja a média de cartões e de gols do jogador na carreira:*

Flamengo

42 jogos – 14 gols – 16 cartões amarelos – 1 vermelho

Média de cartão: uma advertência a cada 2,47 jogos

Corinthians

126 jogos – 52 gols – 23 amarelos – 2 vermelhos

Média de cartão: uma advertência a cada 5,04 partidas.

Hamburgo

163 jogos – 46 gols – 20 amarelos

Média de cartão: um a cada 8,15 jogos.

Bayern de Munique

21 jogos – 5 gols – 3 amarelos

Média de cartão: um a cada 7 jogos.

* Pela seleção peruana, em cerca de 70 jogos – com 27 gols, tem média de um cartão a cada quase cinco partidas.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/times/flamengo/noticia/2016/07/guerrero-dobra-media-de-cartoes-e-vira-desafio-para-psicologia-no-fla.html

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