Em um país rico como o Qatar, dono da sexta maior renda per capita – relação entre o total de riqueza produzida e o número de habitantes – do mundo, a preocupação ao se organizar um grande evento passa longe de ser infraestrutural. Bons estádios não são um problema quando se tem dinheiro. O que mais tira o sono dos qataris a partir desta quarta-feira, quando começa a disputa do Mundial de Clubes, é a gestão de torcedores, vindos das mais variadas partes do mundo, algumas drasticamente diferentes.
A competição será o primeiro evento-teste no país de olho na Copa do Mundo de 2022. A edição deste ano calhou de ser disputada por dois clubes muito populares de dois dos países mais apaixonados por futebol: Brasil e Inglaterra. A presença de rubro-negros e torcedores do Liverpool no país aumenta a sensação dos organizadores de que, apesar da quantidade evidentemente menor, a presença de torcida no Mundial de Clubes terá perfil bem parecido com o público que costuma ir atrás das Copas do Mundo de seleções.
Para a maior parte de brasileiros e ingleses, futebol é festa, e festa pede bebida alcoólica. A segunda proposição não vale para os qataris. O consumo de álcool é proibido no país, com exceção de hoteis que vendem a bebida a preços altíssimos – R$ 50 uma caneca de 500ml. Haverá uma fan zone em Doha onde cerveja será vendida a um preço mais acessível, mas ainda caro: R$ 28. Como esse torcedor ocidental lidará com essas restrições é o que preocupa a organização do Mundial de Clubes, a mesma que realizará a Copa de 2022.
– Essa competição será um teste em muitos aspectos. Primeiramente, a respeito dos fãs. As competições acontecerão ambas em dezembro. Isso será muito benéfico, útil. Teremos a experiência do apetite das pessoas para viajar essa época do ano, como atraí-las. Vamos descobrir as considerações, as preocupações que elas têm. Os clubes desse ano têm torcedores apaixonados, iguais aos das seleções. Isso nos ajuda a identificar o perfil deles. Já hospedamos várias partidas internacionais, vários eventos, mas agora será uma experiência única, com fãs vindo de seus países. Vamos testar o aeroporto, as acomodações, os transportes dentro da cidade. A experiência com os fãs será o mais relevante para nós – afirmou Hassan Al Thawadi, secretário geral de Qatar 2022.
Por enquanto, a cerveja não entrará nos estádios qataris. O comitê organizador e a Fifa postergam ter de lidar com essa questão, tão importante que fez com que a entidade interferisse na legislação brasileira para que a bebida fosse vendida dentro das arenas na Copa do Mundo de 2014. A reação dos torcedores estrangeiros no Mundial de Clubes dará uma noção do que as partes precisarão fazer para 2022.
Para a Copa do Mundo daqui a três anos, sete dos oito estádios terão acesso via metrô. No Mundial de Clubes, o Khalifa possui uma estação bem ao lado e deve ser o principal transporte utilizado por torcedores para chegar ao local das partidas. Peculiaridades do metrô qatari, como os vagões familiares e os vagões vips, mais caros, também serão testadas na competição que começa nesta quarta-feira.
– Ter o feedback dos torcedores é muito importante. Queremos aproveitar, aprender. Não será perfeito, queremos ter uma ótima experiência, mas sabemos que estamos em um processo de aprendizado. Especialmente quando falamos de um torneio como esse – afirmou Al Thawadi.
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