Hexa dez anos: ‘É diferente ganhar no Flamengo’, diz Marcelo Salles, auxiliar em 2009

Pouco antes de Jorge Jesus assumir o time do Flamengo, em junho, um auxiliar técnico do clube teve a missão de comandar o Rubro-Negro por quatro jogos. Marcelo Salles, conhecido como “Fera”, fez jus ao apelido e matou no peito o desafio: ganhou três de quatro jogos e entregou a equipe tinindo para o português. Hoje auxiliar permanente do clube, o profissional acumula 15 anos de Flamengo e foi auxiliar de Andrade na campanha do hexacampeonato brasileiro.

— Ganhar no Flamengo é diferente. A gente vem nesse trabalho, dez anos depois, fazendo outra caminhada, e cada vez mais reforça essa minha tese de que ganhar no Flamengo é diferente de tudo — avalia ele, ao lembrar da histórica vitória por 2 a 1 sobre o Grêmio no Maracanã, que sacramentou o título na última rodada daquele campeonato.

Apontado por Andrade como “o cara” das análises e números nas preleções, Salles é formado em educação física. Começou como estagiário e passou por todas as funções possíveis em sua área pelo Flamengo. Em 2009, era o auxiliar técnico responsável por tarefas como observação de jogos, de mercado e análise de desempenhos até Andrade assumir como técnico e escolhê-lo como seu auxiliar.

— O futebol mudou muito. Cada vez mais estão entendendo o futebol como ciência e que, como ciência, você tem que estudar. Entrei no futebol profissional em 2000 e de lá para 2009 já tinha mudado muita coisa. De 2009 para 2019, mudou muito mais. Eu já estudava muito a parte tática, observação e análise de desempenho, que em 2009 ainda estava caminhando no Brasil. Hoje, já me aperfeiçoei ainda mais nesses estudos, nessas observações e análises, sou um profissional melhor capacitado do que em 2009, na minha análise — avalia o auxiliar, relembrando a estruturação do clube carioca nos últimos anos:

— O Flamengo fez isso e evoluiu absurdamente. Há pouco tempo, vocês viram essa parte da recuperação de atletas, a evolução da parte clínica, fisioterapia, e como tudo no futebol evoluiu.

A campanha de 2009

Entre as principais recordações dos bastidores da trajetória do título, o “Fera” menciona um pen drive com músicas preferidas dos jogadores, tocado no vestiário e durante as idas do hotel para o estádio, além de um vídeo de preleção com lances de destaque da equipe ao som da canção ‘Conquistando o impossível’, da cantora gospel Jamily. Antes de uma das partidas, o vídeo teve problemas técnicos e quase não foi exibido, o que gerou lamentação geral do elenco. Para a alegria dos jogadores, Salles conseguiu exibí-lo a tempo.

— Se você perguntar para os atletas, eles vão lembrar dessa preleção, desse vídeo, do trajeto do ônibus. Tenho certeza que ficou marcado na cabeça deles — diz.

Para o “Fera”, a união e as lideranças foram alguns dos fatores que ajudaram na caminhada ao título. Segundo ele, um grupo que contava com alguns dos principais jogadores da época como Adriano, Leo Moura e Petkovic não tinha vaidades, e isso ajudou a evitar que a equipe saísse dos trilhos em determinados momentos da campanha.

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Marcelo Salles (agachado, de casaco no centro) junto à comissão técnica do Flamengo em 2009 Foto: Fernando Maia/Agência O Globo

— Eram momentos de muita integração, união, o time era muito fechado. Era muito difícil ganhar da gente porque eles nao tinham nenhum tipo de vaidade. Essa parte é fundamental para você buscar chegar em algum lugar.

Um dos principais pontos fortes daquela equipe, a escalação de três volantes no meio-campo poderia significar um time defensivo. Entretanto, não foi isso que se viu naquela temporada, e o torcedor rubro-negro, acostumado com jogo ofensivo e de entrega, pôde presenciar uma equipe no seu melhor estilo. Marcelo explica que as entradas de Claudio Maldonado e Petkovic foram essenciais para a engenharia tática da equipe:

— Quando o Maldonado entrou no time, cumpriu a função tática que faltava para nós, trazer essa bola de trás até os homens de frente para municiar o Pet, o Zé Roberto e o Adriano. Conseguimos fazer com que o Willians, que tinha uma velocidade grande pelo lado do campo, fizesse um corredor pelo lado direito, o Zé Roberto pelo lado esquerdo, o Petkovic no corredor central e o Adriano na frente. Dois volantes, com o Airton um pouco mais centralizado e o Maldonado fazendo essa ligação defesa-ataque.

Gratidão ao Flamengo e elogios a Andrade

Já com experiências como técnico, — passou por clubes como Portuguesa, Volta Redonda e Nova Iguaçu, além do período como interino no Flamengo — Salles evita fazer planos para o futuro. O profissional se diz grato ao clube da Gávea e lembra que passou 15 dos 19 anos de carreira no Rubro-Negro.

— Consegui sair de estagiário a treinador do Flamengo. Isso, dentro de uma empresa, é a maior valorização que se pode ter — diz ele, agradecendo:

— O que eu penso hoje é sempre em retribuir tudo que o clube me deu. Se o clube entender que em algum momento eu possa ajudar em alguma coisa, vou estar sempre a disposição, como estive agora.

Amigo pessoal de Andrade há 15 anos, o profissional chegou a trabalhar no Brasiliense com o ídolo rubro-negro. Salles valoriza o trabalho do amigo — eleito melhor técnico do Brasileirão de 2009 — e diz que o treinador poderia ter sido mais valorizado no mercado, com propostas de clubes da Série A e do exterior.

— Eu acho que o Andrade teve uma importância muito grande naquele trabalho, em vários momentos decisivos. Às vezes, não aparece para o torcedor os detalhes de jogo, como intervalos, substituições, preleções, o dia a dia. Isso passa despercebido para a mídia e para o torcedor, mas quem está lá sabe o quanto é importante ter o Andrade do lado, ele trocar uma ideia com o Maldonado, com o Airton, o Pet. É um cara altamente vitorioso na sua vida pessoal e profissional, tem uma família maravilhosa. Vai terminar a carreira quando decidir que quer parar e falar "tudo que eu fiz valeu a pena".

Fonte: https://extra.globo.com/esporte/flamengo/hexa-dez-anos-diferente-ganhar-no-flamengo-diz-marcelo-salles-auxiliar-em-2009-24057436.html

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