Algumas das maiores conquistas do Flamengo no Maracanã estão entre os 20 jogos eleitos como mais importantes do estádio em seus 70 anos de história. O GLOBO ouviu de torcedores que a viram de dentro do estádio o que sentem em relação a esses títulos .
Mais bem colocado no ranking, na décima primeira colocação, o primeiro troféu rubro-negro do Brasileiro, em 1980, se notabilizou pela superação ao favoritismo do Atlético-MG, e por dar início a anos de domínio do futebol nacional.
RANKING: Top-70 jogos do Maracanã, do 31° ao 40°
RANKING:Top-70 jogos do Maracanã, do 41º ao 50º
RANKING:Top-70 jogos do Maracanã, do 51º ao 70º
Recém-chegado ao Rio, o paraibano Antônio Ramos Brandão Pinto, o Santa Cruz, ocupava seu lugar na geral. E lembra que viu a sua primeira final “na ponta dos dedos”, em função do piso rebaixado da área popular.
—A alegria de saber que o Flamengo tinha tudo pra ser campeão brasileiro no Maracanã era grande — conta.
O Fla x Flu de 1963, decisão do Estadual, jogo em que cerca de 200 mil torcedores entraram no Maracanã, ficou na décima terceira posição. O rubro-negro Carlos César adotou a estratégia de outros torcedores para se encaixar onde não se podia mais entrar ninguém.
— Quando a entrada foi liberada, passamos pelo sufoco de não sermos esmagados contra os ferros pela multidão. O truque, quando a coisa ficava crítica, era gritar “olha a criança” .
Em seguida na lista, aparece a final do Brasileiro de 1992, contra o Botafogo, segundo título do Flamengo no torneio, mas manchado pelo queda da arquibancada, que deixou três mortos. A partida foi alçada ao posto de décima quinta do ranking. A advogada Márcia Lupetti achou que um mosaico com o “efeito domino” surgia no setor Norte, antes de se dar conta do acidente.
— Foram momentos de muita angústia, muitos torcedores tinham amigos daquele lado, inclusive eu. Eu achava que não haveria mais jogo, não tinha o menor clima, mas ninguém arredou o pé dali até o fim.
O tricampeonato sobre o Vasco, em 2001 chegou em décimo sétimo na eleição, com o inesquecível gol de falta de Petkovic. Outro torcedor geraldino, Marcelo Nuba, o Anjinho do Flamengo, precisou pegar carona em um caminhão de batata para chegar ao estádio do Maracanã, e lembra:
— O Vasco tinha um elenco melhor, e a gente vivia uma crise. Mas naquele jogo Beto e Edilson estavam inspirados , com muito tesão.
Por fim, a final do Estadual de 1978, entre Flamengo e Vasco, em que o título veio através do gol de Rondinelli aos 42 minutos, fecha a sequência na vigésima posição da lista, após colocar em evidência a base do Flamengo que ganharia quase tudo.
— A torcida já estava desesperada. Achavam que Zico ia para a área, mas ele foi bater escanteio — relata Augusto Ribeiro, que ia sempre no mesmo ponto da arquibancada para dar sorte.
Nesse dia funcionou.
Na geral a gente assistia ao jogo na ponta dos dedos, via só perna de jogador. Fizeram uma obra para aumentar o piso depois. A entrada foi 3 cruzeiros nessaa decisão. Era 1 Cruzeiro na época em jogos normais.
Foi uma festa danada. Todos os bares lotados ao redor do Maracanã. Dentro do trem todo mundo festejando enquanto chegava ao Maracanã. Ele ainda não tinha a rampa toda da Uerj. Ela só apareceu em 2014. Mas não era nem para mexer no Maracanã, né? Ele representa muito.
Antes do jogo com o Atletico-MG foi o maior carnaval. Eles eram favoritos. Mas mesmo assim o Flamengo se desdobrou em campo. Foi o primeiro título que eu vi depois de chegar ao Rio do Pará. Eram 16h e já não tinha mais como entrar ninguém.
A torcida estava confiante que íamos reverter a situação depois do primeiro jogo. A alegria de saber que o time tinha tudo pra ser campeão no Maracanã era grande. Dali seria uma arrancada para ir para Libertadores e outros títulos.
Lembro das três expulsões. A torcida vibrou. Eles protestaram. Quando expulsou os três jogadores o Flamengo já tinha vantagem, e a torcida começou a zoar a do Atletico-MG.
O pessoal fica admirado com 60 mil pessoas hoje em dia. Eram 35 mil só na geral. Claro que sinto falta da geral, do Maracanã antigo. Os grandes eventos eu não podia ir porque não tinha dinheiro. Vou fazer quatro anos ainda com direito a gratuidade. Quando não podia ir ficava pela porta, mesmo sem dinheiro. Entrava de qualquer jeito. Faziam vaquinha para eu entrar. Me levavam na bilheteria. Assim que era minha vida.
Maracanã naquela época era muito animado, agora nem se compara com o antigo. Era todo mundo amigo. Na geral do Maracanã fazia calor de 40 graus. As vezes dividia copo d`água com cinco bocas. Era 60 centavos a água. Hoje em dia a água mineral custa R$ 4,00. Disseram que iam botar um espaço pra gente, mas até hoje nada.
15 de dezembro de 1963.
Eu tinha 17 anos e foi a primeira vez em que, estando no Maracanã, vi o Flamengo ser campeão.
177.020 espectadores.
Meu irmão, alguns amigos rubro-negros e eu chegamos muito cedo ao estádio e conseguimos lugares bem perto das “baias de ferro” de acesso ao estádio, para pegarmos bons lugares.
Quando a entrada foi liberada, passamos pelo sufoco de não sermos esmagados contra os ferros pela multidão que também se esforçava pra entrar.
O truque, quando a coisa ficava crítica, era gritar “olha a criança”.
Aí, a multidão aliviava a pressão por alguns segundos e a gente conseguia entrar.
A arquibancada lotou.
Como aqueles túneis intermediários já estavam lotados de torcedores, os retardatários chegavam à arquibancada pela sua parte mais alta e, de lá, “se atiravam” sobre os torcedores que estavam sentados.
Eram, então, “rolados” sobre as cabeças, até conseguirem se encaixar em algum degrau, entre os pés dos torcedores e as costas dos que ocupavam o degrau inferior.
Cena inesquecível.
O Flamengo jogava por um empate e o jogo foi muito difícil.
Marcial, nosso goleiro, fechou o gol e ajudou muito a segurar o empate que nos deu o título.
Mas houve, também, o gol perdido pelo Escurinho, lembrança forte que ficou.
Tenho, até hoje, a imagem do momento em que o ponta esquerda tricolor recebeu a bola dentro da área, mas errou feio o chute e mandou pra fora.
E, se a memória não me falha, no último lance o Marcial encaixou uma bola e o juiz apitou o fim do jogo.
Flamengo campeão!
A primeira vez, a gente nunca esquece.
A primeira vez que vi o Flamengo ser campeão no Maraca foi no jogo Flamengo x Botafogo em 92. Foi um dia marcante, não só pelo título. Eu tinha 16 anos e como havia estado na semana anterior, no primeiro jogo da final, a expectativa era das melhores, afinal Flamengo tinha vencido por 3×0.
A entrada foi um perrengue porque do nosso grupo de 10 pessoas, 3 estavam com ingressos falsos, inclusive o meu, mas só descobrimos no momento de passar pela roleta. Após muita conversa e com a ajuda dos gritos de libera! Libera! da enorme fila impaciente atrás da gente, conseguimos entrar.
O clima estava ótimo , o Maraca enchia cada vez mais e lembro de ter a impressão de que parecia haver bem mais gente do que ele poderia comportar.
A torcida, como sempre, dando um show e mesmo antes do início do jogo não parava de cantar um minuto. Estava ansiosa para ver qual seria a surpresa prometida pela torcida para a entrada do time em campo. Como estava nas cadeiras azuis abaixo da arquibancada minha visão da Raça Rubro Negra era perfeita. E quem dera não fosse! Pois passados tantos anos consigo lembrar de cada detalhe daquele momento.
A torcida parecia ter criado um efeito dominó , de cima pra baixo, e por um instante, muito rápido, achei genial. Mas foi quando percebi que na verdade se tratava de uma tragédia, e as peças do dominó eram pessoas voando da arquibancada. Foi um choque! Aquela alegria toda foi tomada por um desespero, pânico geral.
Ninguém sabia o que estava acontecendo e as poucas notícias que chegavam eram pelo rádio de torcedores próximos. Foram momentos de muita angústia, muitos torcedores tinham amigos daquele lado, inclusive eu. Eu achava que não haveria mais jogo, não tinha o menor clima, mas ninguém arredou o pé dali e algum tempo depois soubemos que os times entrariam em campo. No buraco da arquibancada apenas uma fita e alguns policiais.
Jogo rolando, o clima esquisito e eu não conseguia tirar o olho da arquibancada. Flamengo fez 2×0 e as comemorações nem de longe lembravam as do primeiro jogo. Estávamos apáticos. O time também parecia estar e levamos o empate. Mas quando o jogo terminou parecia que todo aqueles sentimentos ruins que até aquele momento pairavam sobre nós se dissiparam e podemos extravasar e gritar “É Campeão!!!”
Falar do Flamengo me deixa emocionado. Tudo começou na antiga geral. Em 2001, Flamengo e Vasco, gol do Pet. Até hoje vem a retrospectiva. A emoção nas alturas, porque era uma logística grande chegar no Maracanã. Bolamos uma estratégia louca, fomos em cima do caminhão de batata na Avenida Brasil.
Os vascaínos mexiam com a gente e a gente jogava batata neles. Chegando no Maracanã, tinha vários personagens. Tinha o Seu Santa Cruz, Batman, Robin, o Carranca. Ficamos na concentração para pegar o Vasco, que tinha um elenco melhor, e a gente vivia uma crise. Mas naquele jogo o Beto e o Edilson inspirados, e deixaram o Pet ficou mais solto. Fomos coroados com aquela cobrança de falta sensacional.
A torcida do Vasco já gritava vice é o c… O gol do Pet foi carnaval fora de época. Aquela atmosfera do templo sagrado, a gente comemorando, trenzinho na geral. A torcida do Vasco se transformou em um clarão. Foi inesquecível. Só alegria nesses 70 anos do Maracanã, minha história começou na geral e lá é minha segunda casa.
Na hora do gol já estava todo mundo desesperado’
Gostava de ir ao Maracanã sozinho. É diferente, com mais gente você se destrai. E no Maracanã você não podia ir ao banheiro porque corria o risco de perder o lugar. E eu tinha um lugar fixo na arquibancada, para dar sorte. Era o décimo segundo túnel, oitavo degrau. Naquele jogo de 1978 eu estava no mesmo lugar. Era o meu cativo.
Sozinho ou não, a alegria era a mesma. Maracanã lotado com 130, 150 mil pessoas. Tinha que sair 12h para entrar no jogo de 17h. Se saísse 15h30 não entrava mais, era um sufoco. E eu morava a 15 minutos a pé do estádio. Se chegasse cedo na arquibancada dava pra ficar. Se não, não sentava na arquibancada, ficava de lado, de pé.
Eu tinha 21 anos. O estádio estava lotado, a torcida do Flamengo foi em peso, para variar. A torcida do Vasco foi bastante, mas não chegou perto. O Flamengo jogava pelo empate. Na hora do gol já estava todo mundo desesperado.
Aos 42 minutos o Rondinelli cabeceou em cima do Abel (Braga). O Leão pulou, não conseguiu pegar. Aquele time foi a base do Flamengo que depois ganhou tudo. Foi o jogo que deu início a era de ouro do Flamengo. O Zico já era o maior de todos. Em 78 ele já era consagrado.
Pessoal pensava que ele ia para a área e ele foi cobrar escanteio. Normalmente ele não batia, era o Tita ou Lico ou Andrade. A torcida sempre esperava alguma coisa do time. Estava todo em cima do Vasco, que tentou se defender. Foi um jogo sofrido, mas bom. No fim eu abracei um cara que nem sabia quem era.