Quando saíram de casa naquela quinta-feira 13 de dezembro de 2007 para acompanhar o segundo jogo da decisão do Campeonato Estadual masculino de basquete, entre Flamengo e Vasco, os 1.479 torcedores presentes ao ginásio do Maracanãzinho – apenas 52 deles não pagantes – mal podiam imaginar que teriam de esperar quase nove anos para ver os dois maiores vitoriosos da modalidade no Rio de Janeiro se enfrentarem novamente dentro de uma quadra. No longínquo duelo que terminou com a terceira das 11 conquistas consecutivas do Flamengo, o ala Marcelinho Machado já era o camisa 4 da Gávea. O clube de São Januário foi representado pelo então campeão brasileiro Brasília, que à época contava com nomes de peso, como Valtinho, Arthur, Estevam e Márcio Cipriano. E o cestinha daquela vitória rubro-negra por 75 a 73 atualmente defende o rival.
Mas o armador Hélio, responsável por 30 pontos naquela quinta-feira à noite, não foi o único que mudou de lado. Recém-contratado do Mogi das Cruzes, o pivô Wagner é outro que levantou o troféu pelo Flamengo em 2007 e atualmente defende o clube de São Januário. Além da dupla vascaína e do capitão rubro-negro, só o supervisor e o fisioterapeuta do Flamengo, André Guimarães e Ricardo Machado, também estarão presentes no reencontro oficial entre os dois times, dia 3 de outubro, pela última rodada do primeiro turno do Campeonato Estadual deste ano. Antes disso, os rivais vão disputar um quadrangular amistoso em Fortaleza com Basquete Cearense e Vitória, dias 25, 26 e 27 de setembro.
Destaque daquela conquista, Hélio lembra da atuação marcante naquele 13 de dezembro como se fosse hoje. Embora já tenha enfrentado o antigo clube diversas vezes desde que deixou a Gávea, o armador vascaíno reconhece que a rivalidade dos gramados faz com que esse reencontro seja diferente dos anteriores.
– Nós tínhamos acabado de chegar no clube e foi nosso primeiro título. Lembro que vim do banco e entrei bem demais, foi aquele dia que deu tudo certo e parecia que todo mundo estava um segundo atrás de mim. Foi marcante porque foi numa decisão e contra um grande rival. Espero que a história se repita, mas agora do outro lado (risos). Já enfrentei o Flamengo e o Marcelo algumas vezes, mas o clima por conta do futebol é diferente. Nós tentamos não pensar muito nisso, até para não colocar uma carga a mais de pressão, mas existe a rivalidade e todo mundo quer ganhar. A disputa tem que ser apenas dentro da quadra e que vença o melhor – disse o cestinha da conquista rubro-negra, que não esconde sua admiração pelo antigo companheiro.
– Conheço bem o Marcelo e sei que ele vai querer entrar para ganhar de qualquer jeito. É um cara que se dedica demais, que tem uma força mental muito forte e isso sobressai. É claro que temos que nos cuidar fisicamente, mas quando a cabeça está boa a idade é só um detalhe. O Marcelinho é a prova disso.
Principal contratação do Flamengo naquele ano, Marcelinho Machado começava a escrever ali seu nome na história do seu clube do coração. Com 17 pontos no jogo decisivo, o então capitão da seleção brasileira havia marcado 31 na vitória do dia anterior por 92 a 74, na primeira da decisão, e foi um dos responsáveis pelo tricampeonato rubro-negro. Agora com 41 anos, o ala busca na memória as lembranças daquele título, comemora o retorno do adversário à elite e espera que Fluminense e Botafogo sigam o mesmo caminho.
– Eu lembro, mas pelo visto muito mal, pois na minha lembrança o Hélio tinha sido o cestinha do primeiro jogo, mas fui pesquisar e vi que ele foi do segundo (risos). Na verdade nós jogamos duas finais contra eles naquele ano e não perdemos nenhum jogo. Vencemos as duas partidas do Estadual e as três do Brasileiro, quando eles voltaram a defender o Brasília. Quanto mais equipes com investimento, melhor para o basquete. O Flamengo dá um exemplo hoje de como se fazer um investimento no esporte olímpico, a modalidade é auto-sustentável na Gávea e seria importante que outros clubes seguissem o mesmo caminho. Lembro do final dos anos 90 quando os quatro times de camisa do Rio tinham equipes fortes disputando o Campeonato Nacional. Fico feliz de ver o Vasco se reestruturando e espero que Fluminense e Botafogo façam o mesmo e também voltem – afirmou Marcelinho Machado, que fala com carinho da parceira com os agora rivais Hélio e Wagner.
– Vai ser engraçado enfrentá-los, porque jogamos juntos muito tempo na Gávea e hoje eles estão do outro lado. Mas tenho certeza de que eles farão tudo para ajudar o Vasco a ganhar, assim como eu farei o mesmo pelo Flamengo. Sempre me dei muito bem com eles, e o fato de nós termos conquistado muitos títulos importantes pelo clube, como o primeiro título nacional do Flamengo, o primeiro NBB e a Liga Sul-Americana, criamos um vínculo e um carinho ainda maior. Passamos por momentos difíceis naquela época, mas superamos com muito profissionalismo, e isso nos uniu demais.
Coordenador das categorias de base do Flamengo e técnico do time sub-19 rubro-negro, Paulo Chupeta não estará na capital cearense em setembro quando os dois rivais se reencontrarem, mas lembra bem o título que abriu as portas para uma sequência vitoriosa da equipe comandada por ele no banco de reservas
– Eu lembro muito da última bola quando o Vidal mandou abrir os cinco jogadores e pediu para o Valtinho decidir em cima do Hélio no um contra um. Mas o Hélio conhecia bem ele, o marcou bem, o tempo estourou e ele não conseguir ir para cesta. Foi o primeiro título daquele time que depois veio a conquistar o brasileiro e o NBB. Acho muito importante o retorno do Vasco, espero que isso sirva de motivação para outros clubes de camisa, como Fluminense, Botafogo, Palmeiras e Corinthians, voltarem ao cenário nacional – disse Paulo Chupeta, técnico do Flamengo em 2007.
Ficha técnica:
FLAMENGO 75 x 73 VASCO
Local: Ginásio Gilberto Cardoso (Maracanãzinho), Rio de Janeiro (RJ).
Data: 13/dezembro/2007 (quinta-feira).
Árbitros: Rafael Serour, Eduardo Augusto. Vander Júnior.
Público: 1.428 pagantes (1.479 presentes).
FLAMENGO: Fred, Marcelinho (17), Amiel (9), Coloneze (3) e Alírio (7); entraram Hélio (30), Wágner (4), Fernando Mineiro (4) e Duda (1). Técnico: Paulo Chupeta
VASCO: Valtinho (20), Arthur (17), Jeferson (7), Márcio Cipriano (9) e Estevam (2); entraram Rossi (9), Luís Fernando (9) e Brasília. Técnico: José Carlos Vidal.
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