Olá, companheiros e companheiras do Coluna do Fla. Infelizmente, o assunto de hoje não é legal. Assim como fiz há algumas semanas, estou aqui para falar sobre os desdobramentos do incêndio no Ninho do Urubu, que deixaram dez garotos da base mortos e vários outros feridos.
Neste sábado, se completa um ano da tragédia. E até agora, o que foi feito? Praticamente nada. A diferença entre o cenário de hoje e do último texto que escrevi sobre o tema é que a grande imprensa está relembrando o caso. Já o Flamengo continua tratando a situação da pior forma possível.
Bem, vamos aos pontos – e eles não são poucos – para entender como o clube se omite de resolver e virar a página mais triste de sua brilhante e vitoriosa história.
Há muito tempo, reclamamos que a diretoria não se posicionava sobre o caso. Em um primeiro momento, a alegação era de que o processo corria em segredo de justiça e que por isso não podia ser passado nenhum detalhe à imprensa. Entretanto, para dar uma “resposta”, o rubro-negro marcou uma “coletiva” com o presidente Rodolfo Landim e membros da alta cúpula do clube. Contudo, a entrevista foi horrenda. A começar pela ausência de repórteres. Amigos e amigas, não existe coletiva sem jornalistas. Muito menos uma entrevista realizada pela assessoria do clube. Jornalismo é jornalismo. Assessoria é assessoria. Apesar das áreas estarem no campo da Comunicação Social, são antagônicas. Enquanto uma tem como objetivo incomodar, a outra tem como função proteger. Qual o medo que a diretoria tem de encarar os repórteres? Por que não exibir a confiança esbanjada em falas após conquistas de títulos para explicar para a sociedade brasileira o que o clube está fazendo para confortar as famílias e homenagear os garotos? Sem contar a total falta de sentimento na fala dos cartolas. Claramente, uma encenação. O olhar cabisbaixo de Landim não o faria ser escolhido nem para apresentar uma peça teatral do ensino fundamental.
Depois desta péssima estratégia, a Globo exibiu uma reportagem com os pais de alguns dos garotos. Uma brilhante matéria, que deveria ter sido feita há mais tempo. Não tem como não se emocionar com o relato dos familiares, principalmente com a fala do pai do Pablo, Uelisson Cândido. E o pior é que ele tem razão. O clube adotou a postura da omissão, pelo menos externamente, e a Justiça lavou as mãos. Até porque, no Brasil, a lei não é para todos.
Na sequência dos acontecimentos, o globoesporte.com publicou que, um ano depois do incêndio, ninguém foi indiciado pelo caso. O Ministério Público retornou dois inquéritos enviados pela Polícia Civil. Em ambas, pedia mais diligências. Ou seja, o MP deixou claro que a PC do Rio de Janeiro não está sendo capaz de fazer uma investigação conclusiva. Na tarde da sexta-feira (07), em uma reviravolta surpreendente, os policiais enviaram, pela terceira vez, a conclusão do inquérito. Oito pessoas foram indiciadas, incluindo o ex-presidente – e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro – Eduardo Bandeira de Mello.
Ainda na sexta, dirigentes do clube não compareceram à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro para apurar casos de incêndio. Os deputados estaduais ficaram com raiva e ameaçam levar nossos cartolas a prestar esclarecimentos com base em condução coercitiva. Para terminar o dia de horrores, a diretoria negou que os pais de Pablo entrassem no Ninho para acender uma vela em homenagem ao filho. Depois da repercussão negativa, o CEO do clube, Reinaldo Belotti, voltou atrás da decisão e liberou a entrada.
Ainda não viu o erro do Flamengo? Calma lá que, infelizmente, ainda tem mais coisa. Na patética coletiva veiculada na Fla TV, os dirigentes explicaram que o clube tem um “teto” para pagar a indenização. E que a base de cálculo é a jurisprudência de casos similares. Ou seja, o Departamento Jurídico analisa casos parecidos, vê o valor que foi pago às vítimas/familiares e calcula quanto que cada família dos garotos deve receber. Até então, juridicamente, não tem problemas. Só que o Fla resolveu se complicar. O argumento é que será seguida a jurisprudência, só que o clube não divulga os valores. E pior, proíbe que os familiares que fizeram acordo divulguem o quanto ganharam. Então, me responda, como saberemos se a jurisprudência foi aplicada? Não dá para saber! Continuamos no escuro!
É triste, enquanto flamenguista, ver a forma como esta diretoria está conduzindo o caso. Parece que não há nenhum interesse de honrar a memória dos garotos e trazer o mínimo de alívio para as famílias. Como tivemos um 2019 maravilhoso, muitos torcedores acabam comprando o discurso do clube, ajudando, assim, a diminuir a pressão por ações a serem tomadas em prol de todos os envolvidos.
Apontar as falhas e omissões do clube não faz ninguém mais ou menos rubro-negro. Quem não tem capacidade de se colocar no lugar de cada pai, mãe, avô, avó, que sofreu com uma perda irreparável, e prefere defender um clube – formado por pessoas que amanhã ou depois vão sair da diretoria e tocar a vida normal – falhou enquanto ser humano!
E a postura fica cada vez mais clara quando outras pessoas envolvidas no incêndio começam a divulgar os bastidores destes 365 dias. Pouco mais de duas semanas atrás, o Flamengo decidiu dispensar cinco atletas que sobreviveram. Um deles, Felipe Cardoso, foi até as redes sociais e desabafou. E falou o que, cada dia, se mostra óbvio: para o clube, eles são números. Nada mais do que isso. E o pior de tudo é que ele está certo.
Entre aberrações e omissões, o tempo vai passando. O tic-tac do relógio se torna mais doloroso. Enquanto isso, continuamos sem respostas. Que a estrela dos Garotos do Ninho não deixe de brilhar no céu rubro-negro, pelo menos, até que a Justiça seja feita. Até lá, é o dever de todo flamenguista cobrar que a memória de cada um deles seja preservada, que o clube assuma suas responsabilidades e lute para que uma tragédia como esta nunca mais ocorra no país.
Matheus Brum
Jornalista
Twitter: @MatheusTBrum
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Fonte: https://colunadofla.com/2020/02/matheus-brum-365-dias-de-dor-e-falta-de-respostas/
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