Matheus Brum: “A péssima associação do Flamengo com a política”

Salve, salve, companheiros e companheiras de Coluna do Fla. Recuperados da ressaca dos títulos? Pois é, confesso a vocês que a ficha ainda não caiu. Talvez, inclusive, demore muito tempo para chegar à compreensão do feito que conseguimos no último final de semana, com dos títulos da Libertadores e do Campeonato Brasileiro.

Pois bem, passada a euforia da conquista, quero trazer aqui um assunto, já debatido neste ano, mas que vira e mexe aparece nos círculos rubro-negros: a associação do Flamengo com a política e o palanque dado aos políticos de plantão.

Na noite desta terça-feira, foi divulgado no Portal UOL que a diretoria vai dar um título de associação de honra para o vice-presidente da República Hamilton Mourão (PRTB). A justificativa é “um reconhecimento à pessoa de um rubro-negro ilustre”, segundo o vice-presidente de Comunicação, Gustavo Oliveira, que completou dizendo que “isto [a homenagem] é muito comum nos clubes e associações”.

No último final de semana, quem esteve a bordo junto com o elenco foi o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC). Até medalha da competição – um mimo da Conmebol, segundo o governante – ele ganhou. Segundo o jornal O Dia, o convite para assistir a final da Libertadores também foi estendido ao presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), André Ceciliano (PT).

Na semana passada, durante uma ida da direção até Brasília para uma homenagem ao clube, feita pela Câmara dos Deputados, o presidente Rodolfo Landim participou a abertura de um “simbólico” gabinete rubro-negro ao lado do deputado federal Alexandre Frota (PSDB).

Ao longo de todo o ano, a marca Flamengo foi utilizada de diversas formas por políticos do alto escalão nacional. O presidente Jair Bolsonaro (Aliança pelo Brasil) e o ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro (sem partido) desfilaram em partidas do clube. O presidente até levou uma camisa para o homônimo chinês, em seu tour pela Ásia. Não compareceu à final da Libertadores, segundo o colunista do Jornal O Globo, Lauro Jardim, por temer que o time perdesse e ele ficasse com a imagem de “pé frio”.

Ao longo de diversas colunas neste site e comentários no canal do Coluna do Fla disse que acho terrível esse palanque dado pelo clube aos políticos. E pelos relatos trazidos neste texto, não há uma preferência ideológica – uma vez que os “mimos” são distribuídos a representantes da esquerda, como o presidente da Alerj, André Ceciliano do PT, e da direita, como o governador Witzel e o presidente Bolsonaro – na escolha.

Só que estes espaços são contraditórios dentro da própria política do clube. No início do ano, ao negar uma homenagem ao ex-remador do clube Stuar Angel, morto pelas forças do Estado na Ditadura Militar, a diretoria justificou “que, por ser uma verdadeira Nação, formada por mais de 42 milhões de torcedores das mais diversas crenças e opiniões, não se posiciona sobre assuntos políticos”.

O clube, oficialmente, não se posiciona sobre assuntos políticos. Mas, na prática, é bem diferente. Ao permitir que políticos utilizem da imagem do Flamengo para se autopromoverem, o clube está se posicionando politicamente. Somos, como diz na nota, uma Nação de 42 milhões de torcedores. Uma homenagem como a de Mourão; a presença em um gabinete como o de Frota; o convite a Wilson Witzel para estar no mesmo avião que os jogadores; a presença do presidente Bolsonaro no estádio, e a negativa a uma homenagem a um ex-atleta morto pela Ditadura Militar brasileira, são atos políticos.

E o futebol, principalmente o Flamengo, não precisa disso. Não precisamos destas associações para termos um grande time, uma grande torcida e ganhar títulos. Para aqueles que defendem uma aproximação com o Governo do Rio de Janeiro para ter o Maracanã, respondo: o governador precisa saber gerir um bem público, que custou mais de R$1 bi aos cofres públicos, sem precisar apelar para o lado de torcedor. O Maraca tem que ser nosso por mérito, não por politicagem.

Seja de esquerda ou de direita, qualquer alinhamento político de um clube de futebol é danoso e nefasto. Querem um exemplo? Só pegar como foi ruim para o Corinthians o atrelamento da imagem da instituição com o ex-presidente Lula (PT). O saldo disso foi um estádio cheio de problemas de corrupção e que é deficitário para o clube. O petista, inclusive, já recebeu vários presentes de administrações anteriores do Mais Querido, mostrando que esta prática, nefasta, não é algo recente ou exclusiva da gestão Rodolfo Landim.

O Flamengo não precisa de políticos! A ação do clube, institucionalmente falando, deve ser de repúdio a qualquer tentativa de utilização da marca Flamengo para fins políticos. Que a diretoria faça jus à nota oficial no caso Stuart Angel e respeite a Nação, que é formada por diferentes pensamentos ideológicos/partidários, de cor, religião e situação socioeconômica.

O Flamengo não é instrumento de fazer política!

Matheus Brum
Jornalista
Twitter: @MatheusTBrum

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Fonte: https://colunadofla.com/2019/11/matheus-brum-a-pessima-associacao-do-flamengo-com-a-politica/

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