A caminho de Barranquilla, o Flamengo se encaminha para um cenário muito parecido com o de 1995, ano de seu centenário. Lá como cá, um ano repleto de expectativas precisará ser salvo por meio da conquista do título continental de segunda classe, hoje chamada Copa Sul-Americana. Se passar pelo Junior, o Flamengo enfrentará coincidentemente o mesmo algoz de 1995.
O ano do centenário rubro-negro não teve disputa da Libertadores, que à época cedia muito menos vagas. O Flamengo trouxera Romário e Vanderlei Luxemburgo e iniciava o frenético ciclo de contratações midiáticas da gestão Kleber Leite, famosa por ocupar mais páginas do que pódios.
Na altura da Supercopa da Libertadores, um torneio que era disputado apenas por quem já tinha a principal taça continental, o Flamengo ostentava o candidato a melhor ataque do mundo (Romário, Sávio e Edmundo), levara três jogadores do Fluminense que o humilhou com o gol de barriga de Renato (Lira, Márcio Costa e Djair) e, para gerenciar esses egos, uma saída alucinante: a invenção do radialista Washington Rodrigues como técnico. Sem poder trazer seu preferido Joel Santana, então em sua melhor fase, Kleber Leite apelou para uma de suas maiores amizades do passado de radialista: o Apolinho contava com seu jeito bonachão e tiradas irresistíveis para cuidar das vaidades, enquanto Artur Bernardes, técnico de pouca expressão, trazia conhecimento para a prancheta.
Inacreditavelmente, tudo deu bastante certo na maior parte da Supercopa. Aquele Flamengo que irritava nos fins de semana do Brasileiro chegou às finais tendo vencido todos os seis jogos, eliminando Vélez Sarsfield, Nacional de Montevidéu e Cruzeiro. Chegou à primeira partida em Avellaneda com ares de favorito, contra um Independiente de apenas duas vitórias na campanha, mas perdeu a partida de ida por 2 a 0, com um gol precocíssimo de Mazzoni e outro de Domizzi. No Maracanã, o Flamengo teria no mínimo que devolver os dois gols de vantagem para ir aos pênaltis.
A semana não foi nada tranquila para o Flamengo. Edmundo, que teve na Gávea uma de suas passagens mais apagadas, se envolveu num acidente automobilístico no fim de semana anterior à final. Duas pessoas morreram no carro abalroado pelo jipe do atacante, que chegou a ser preso e enfrentou julgamento sob acusação de dirigir embriagado. Mas nem isso diminuiu o entusiasmo da torcida, que literalmente invadiu o Maracanã.
Foi a célebre noite das catracas destruídas, o que levou a Suderj a abrir os portões para uma multidão de rubro-negros ávidos por uma taça no centenário. O Independiente resistia bravamente, e a expulsão de Nélio, xodó de Apolinho, não ajudou. No segundo tempo, num rebote, Romário marcou um de seus gols mais bonitos com a camisa rubro-negra, mas 1 a 0 era pouco.
Como de hábito, a derrota trouxe mudanças, e a barca partiu com peso: Apolinho, que nunca pensou em durar como técnico, não emplacaria no ano seguinte. Edmundo sairia, e o sonho de consumo Joel Santana iniciaria enfim sua primeira passagem pelo Flamengo em 1996.
Enfrentar o Independiente na final da Supercopa vai despertar nos torcedores a vontade de uma épica vingança – e no clube, uma redenção para um ano em que os balanços financeiros tiveram um desempenho muito melhor do que a equipe. Mas uma coisa de cada vez e, de preferência, sem grandes expectativas de reescritura da história. Primeiro, o Junior de Barranquilla. Depois, o resto.
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