O que faz um profissional do futebol trocar o Flamengo, que paga em dia e tem boa estrutura da base ao profissional, pelo Botafogo, em vias de mais um rebaixamento e com dificuldades financeiras enormes? Eduardo Freeland, apresentado ontem como diretor de futebol alvinegro, cargo que ocupa pela primeira vez na carreira, não respondeu diretamente, mas uma análise de sua trajetória ajuda a entender a escolha.
Desde meados de 2018 na base do Flamengo, após passagens pelo Cruzeiro e pelo próprio Botafogo, o profissional não tinha perspectivas de ser utilizado na estrutura da equipe principal rubro-negra, para a qual se qualificou. E optou pelo novo desafio, com salário e pressão maiores.
Leia mais: Caso Gerson, do Flamengo, expõe despreparo de entidades para lidar com racismo
Contratado pela gestão anterior do Flamengo, Freeland foi alçado ao cargo de gerente após a ida de Carlos Noval para o profissional, em 2019, para cuidar da transição de atletas entre as categorias. Bem avaliado, ajudou o clube em diversas conquistas na base, exceto a Copa do Brasil sub-20 e a Copa SP de Juniores.
No entanto, era subordinado a uma vice-presidência própria da categoria inferior, e tinha contato esporádico com os dirigentes da cúpula do futebol, que não tinham planos de promovê-lo. Era a hora de dar o salto. Profissionais com funções semelhante dizem que a decisão é pessoal, mas nem todos fariam o mesmo.
No Botafogo, as relações longevas foram um facilitador para o pontapé inicial na carreira em outro patamar. Freeland já conhecia o atual presidente, Durcesio Mello, que investiu na base do clube nos últimos anos. O tempo de casa foi um dos principais quesitos na escolha do clube, segundo informações da diretoria.
Outro ponto importante foi a experiência na base em um momento em que a prata da casa deverá ser valorizada ainda mais. O novo diretor havia sido técnico de categorias iniciantes, coordenador técnico, gerente técnico e gerente geral. Faltava o profissional.
Com bom relacionamento com o técnico Eduardo Barroca e com o ex-integrante do comitê gestor do futebol, Manoel Renha, Freeland tem boa entrada com as diversas correntes do clube, o que também pode lhe ajudar no processo de reformulação em curso.
— Participar da reconstrução de um clube como o Botafogo é muito sedutor. Eu me sinto preparado. Pelo tempo que passei aqui, entendi como um momento ótimo para fazer essa transição — disse Freeland na sua apresentação.
Formado em Educação Física, o diretor tem especializações na área de gestão esportiva. E a gestão será justamente sua primeira tarefa. Freeland terá a prerrogativa de decidir o futuro do atual gerente de futebol, Tulio Lustosa, e do treinador, Eduardo Barroca. E o recado foi claro para todos:
— Preciso avaliar a equipe, o elenco, para ter as ações imediatas para a temporada que está por vir. O Barroca entra nessa estrutura, Tulio está no mesmo cenário. Ninguém está garantido e ninguém está fora. A palavra de ordem é profissionalismo. Quem fizer sentido permanecer, vai ficar. Se a avaliação for diferente, vamos fazer alterações — avisou, deixando claro que ainda terá conversas com os profissionais para avaliar a decisão.
O clube deu carta branca.
— Ele vai ter total autonomia e liberdade para fazer tudo no futebol do Botafogo — afirmou o presidente Durcesio Mello.