Começo esta coluna com uma pergunta: qual foi o último grande momento vivido pelo Flamengo que vocês tem recordação? Provavelmente alguns dirão a arrancada que levou ao caneco da Copa do Brasil de 2013, e outros mais exigentes até se lembrarão do título de 2009. Os últimos anos não foram árduos para nós como o começo do milênio, e nos trouxeram importantes títulos e ídolos. Mas tudo foi bem momentâneo, pois, de fato, nunca dispusemos de grandes elencos. A história sempre se repetia: dois ou três jogadores fazendo toda a diferença, rodeados de perebas que nos faziam grandes favores quando não comprometiam.
Vocês podem dizer que o cenário de hoje é o mesmo, que Márcio Araújo está ansioso pra entregar alguma partida importante, que Rafael Vaz logo vai perder o bom momento e que nossos pontas pouco úteis irão de mal a pior. Mas eu mostro que não, que a situação de hoje é bem diferente. Como há muito não víamos, temos excelentes jogadores em todas as posições.
Vejam, por exemplo, a escalação reserva do treinamento da última quinta-feira: Paulo Victor, Rodinei, Léo Duarte e Donatti, Jorge. Cuéllar, Ronaldo e Alan Patrick, Adryan, Marcelo Cirino e Leandro Damião. Quantos desses não tem condições de serem titulares no Flamengo, bem como em qualquer outro time brasileiro? E nem paramos por aí. Nem estão mencionados Diego, Éderson e Vizeu, por exemplo.
E é sobre isso que gostaria de falar com vocês. Temos qualidade de sobra pra variar entre duas ou três formações táticas diferentes. Inclusive a atual, apesar das críticas, pode funcionar muito bem, já que devemos reconhecer a evolução pós-Muricy. Porém, a partir de quando entra a questão técnica, e termina a tática?
Hoje, por exemplo, vemos dois dos jogadores mais lúcidos e técnicos do elenco brigarem por uma posição, enquanto outros contestados são intocáveis no time. Me refiro a Mancuello e Alan Patrick, que simplesmente não conseguem suplantar jogadores limitados como Cirino e Fernandinho. E se isso já é um problema agora, imaginem quando Diego tiver condições de jogo?
É o sonho de consumo da maioria absoluta da Nação um meio-campo com os três meias, no lugar dos dois pontas. Algo próximo ao 4-5-1, com Arão e Cuéllar (Márcio Araújo?) mais recuados. Mas será essa a opção de Zé Ricardo? Os jogadores devem se adaptar ao esquema, ou o esquema deve privilegiar os melhores?
Fico com a primeira hipótese. Primeiro pois não faz sentido gastar elevadas quantias em jogadores que não farão a diferença no elenco. Segundo, porque acredito que mesmo o mais importante papel tático que um jogador possa cumprir não pode esconder o fato de que este é ruim, que perde gols absurdamente e que se encontra em um momento técnico terrível.
Aos que acreditam no trabalho a longo prazo e na integridade do esquema, a estes eu só tenho a dizer que o futebol é dinâmico demais para termos medo de mudanças. Aliás, quem não se adapta, fica pra trás. E se não nos adaptamos ao que temos de melhor, com medo de perdermos o progresso feito até aqui, certamente deixaremos passar uma grande oportunidade de ser muito mais. Ser Flamengo é ser grande.
Rodrigo Coli
Fonte: http://colunadoflamengo.com/2016/08/qualidade-ou-esquema-tatico/
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