Não é só no League of Legends que o Flamengo está sendo representado nos esportes eletrônicos. O tradicional clube carioca, indiretamente, passou a ter neste ano uma equipe de Tom Clancy's Rainbow Six Siege. Tudo por conta de cinco Rubro-Negros que moram na Europa e batizaram de Flamengo Stars o time com o qual estão disputando a segunda temporada da principal competição espanhola da modalidade, a Spain Nationals, em homenagem ao time de coração.
A história da equipe começou quando Pedro "Thuunder", Arthur "Arthur", Yaman "Sora" e Gabriel "Almeida" ainda defendiam a organização portuguesa K1ck. Atuando por ela conquistaram diversos torneios locais.
– Após deixar uma equipe italiana, pensei na possibilidade de criar um time com jogadores que falavam português, de preferência brasileiros. Na busca que realizei, vi o Sora jogando um torneio espanhol. Jogamos algumas vezes e tivemos a ideia de formar a equipe. Foi quando eu chamei o Arthur, que estava em um time português, e o Almeida, que também é de Portugal. Naquela época o nosso objetivo era entrar na Challenger League europeia – conta Thuunder.
A mudança para o Flamengo Stars aconteceu ao término das seletivas para o Six Invitational 2020, nas quais os brasileiros – ainda como K1ck e já com Luann “Couto” no lugar de Sora, que se tornou o treinador – terminaram na 12ª colocação e sem a sonhada vaga. O resultado foi comemorado pelo fato do time ter ido bem contra adversários mais estruturados, mesmo, segundo os jogadores, não tendo muito tempo para treinar.
– Jogamos apenas uma seletiva inteira porque não podíamos dar mais W.O na liga portuguesa pois seríamos desclassificados. Essa colocação foi obtida só com a participação em um classificatório e isso nos motivou porque fomos melhores que outras equipes que jogaram todos os qualificatórios – apontou Couto.
De acordo com o jogador, depois das disputas, os brasileiros decidiram tentar a sorte nas seletivas para o Spain Nationals, a maior liga da Europa. Mas, para isto, o time precisou deixar a organização de Portugal e procurar dois atletas espanhóis para se adequar ao regulamento da competição.
– Eu sou hispano-brasileiro e eu só podia trazer mais dois brasileiros comigo e chamar outros dois da Espanha porque tem a norma de três integrantes do time terem a nacionalidade da liga. Montamos outra formação com Arthur, Thuunder, o Sora de coach e o Almeida na reserva. Foi assim que surgiu o Flamengo Stars. Na época a equipe ainda não tinha esse nome, mas o elenco estava montado – explicou.
A estratégia deu certo. O caminho da equipe até o Spain Nationals começou nas seletivas. Na primeira, o time não foi tão bem. Contudo, na seguinte o quinteto conseguiu se classificar para o Relegation da segunda temporada ao vencer Raison no confronto valendo a vaga. Flamengo Stars também teve sucesso na repescagem, avançando para a liga após terminar a competição em quarto lugar
– (A escolha do nome) foi feita na época em que o Flamengo estava ganhando tudo e decidimos por Flamengo Stars. Foi um pouco depois do título da Libertadores, para pegarmos um pouco de sorte também – revela Couto.
Os brasileiros que integram o Flamengo Stars garantem que todos no time foram em busca de uma organização antes do início da liga, tendo, inclusive, entrado em contato com o Flamengo com o objetivo de serem contratados pela divisão de eSport do clube. Porém, sem êxito.
– Tentamos procurar o Flamengo porque ia ser incrível. Mandei um e-mail pelo site do clube para ver se conseguia contato com o departamento de eSports. Mas nunca chegaram a responder. Tentei entrar em contato logo quando soubemos que nos classificamos para a liga espanhola – afirmou Sora.
Enquanto não encontram uma organização, a equipe vai “defendendo” o Flamengo, mas no sacrifício já que parte do time precisa conciliar a competição com estudo ou trabalho, o que reduz o tempo de treino.
Segundo Couto, a equipe conversou com o comitê organizador do Spain Nationals para explicar a situação e os organizadores se comprometeram a ajudar até que o time encontrasse uma organização, dando ao Flamengo Stars a quantia referente ao marketing da participação na liga.
– Estamos buscando ainda [um clube]. A única coisa que a organização do campeonato consegue nos ajudar é com marketing e publicidade. Basicamente os números que conquistarmos nas redes sociais e nas transmissões, ao final do campeonato, voltará de algum jeito para nós. Talvez, de forma monetária. Mas em questão de salário somo um dos únicos times [da liga] que não recebemos – explica Sora.
Porém, por mais que a equipe ainda não tenha encontrado uma organização, o quinteto se diz tranquilo, já que a liga espanhola é a maior da Europa em questão de investimento e visualização.
– Essa liga é grande por causa do marketing e todo mundo assiste. Nossa estreia teve mais de 1 mil espectadores e é por isso que temos esperança que algum clube nos contrate, ainda mais um brasileiro. Se a gente não encontrar uma organização, vamos manter o nome. O que temos pensando é: fazer o nosso, tentar chegar o mais longe possível para, na próxima temporada, achar uma casa – afirmou o jogador.
OBJETIVOS
A expectativa do Flamengo Stars para a segunda temporada do Spain Nationals, de acordo com Couto, é se classificar para o mata-mata para depois sonhar em uma semifinal.
Até o momento, o Flamengo Stars disputou quatro séries, e o retrospecto do time não é bom: um empate e três derrotas. Campanha esta que colocou a equipe na lanterna da fase de pontos.
Sora e Couto sabem que o título é difícil visto o nível dos outros participantes, que são mais bem estruturados que o Flamengo Stars, mas falam que não é impossível. Os jogadores, inclusive, brincam com a possibilidade de usarem a camisa Rubro-Negra caso a equipe avance para o mata-mata.
– É possível irmos para a LAN com a camisa do Flamengo, se nos classificarmos. O sonho do título tá aí. É difícil, mas vamos lutar contra esses gigantes – afirmou Couto.
Quando questionados sobre o que representaria conquistar o Spain Nationals, os jogadores falaram que estariam mostrando a todos a força que o Brasil tem no Rainbow Six e que, indiretamente, estariam fazendo história para o Flamengo.
– Só de vencer um campeonato desse sem uma organização, já seria histórico. Com o Flamengo, ainda mais. A gente ficou surpreso porque antes do primeiro jogo revelaram as formações dos participantes e tinha muita gente que ou era torcedor do futebol ou da equipe de LoL nos desejando boa sorte. O fator Flamengo, se a gente ganhar, ficaria marcado na história do R6 na Europa – garantiu Sora.
A possibilidade do time vir para o Brasil competir não passa pela cabeça dos jogadores, já que todos têm como objetivo mostrar a força do país em solo europeu, fora o custo da mudança.
– A gente não pensa [em ir para o Brasil] porque o custo é muito grande. Nosso foco é representar o Brasil aqui fora – afirmou Arthur.
– Eu prefiro continuar na Europa porque é diferente representar o Brasil fora do continente, no continente dos outros. Quero continuar aqui para seguirmos fazendo nossa história. É a primeira vez que brasileiros estão jogando uma liga internacional. Fazer o que estamos fazendo tem um peso muito maior – completou Couto.
RELAÇÃO COM O FLAMENGO
Há uma divisão no Flamengo Stars quando o assunto é a relação de cada integrante com o Rubro-Negro. Thuunder e Arthur são os jogadores que são flamenguistas desde pequenos, enquanto Couto e Sora passaram a torcer para o clube após deixarem o país. Muito por conta do sucesso recente obtido no gramados.
– Eu sai do Brasil e escolhi o Flamengo porque ele vem muito forte – afirmou Couto.
– Sou torcedor desde pequeno. Praticamente toda minha família é também, menos o meu pai que é vascaíno – revelou Arthur
O QUE OS LEVARAM PARA EUROPA
Diversos foram os motivos que levaram os jogadores do Flamengo Stars para a Europa.
Couto, de 18 anos, chegou na Espanha há dois anos e a mudança aconteceu por causa do trabalho do pai e a violência presente no Brasil.
Os estudos levaram Arthur (20) e Thuunder (18) para o continente europeu. O primeiro está em Portugal, país pelo qual o segundo também passou, mas que atualmente se encontra na Suíça.
Já Sora nasceu em terras lusitanas, contudo se mudou quando ainda era criança para o Brasil, onde ficou por 16 ano até ir para a Inglaterra para estudar.