Jogos como o desta quarta-feira, às 21h45m (de Brasília), contra o time mais popular do país futebolisticamente mais importante do continente, permitem ao quase centenário Palestino, do Chile, cumprir o que seus dirigentes entendem ser a missão do clube: levar o nome, as cores da Palestina ao mundo e, através do futebol, tentar mudar a imagem construída em torno de um povo que carrega uma história de conflitos, luta por reconhecimento e por territórios.
– Machuca muito que nos vejam como terroristas – afirma Eduardo Heresi, presidente do clube chileno. – Estamos seguros: nossa missão é levar ao mundo as cores do país, mostrar que queremos solidificar amizades através do esporte. Somos um povo que batalha dia após dia para subsistir. Nosso clube é pequeno, luta também com dificuldades. Jogar contra o Flamengo é um orgulho. Mostra que conseguimos chegar a esta instância.
Fica no Chile a maior colônia de palestinos e seus descendentes fora do Oriente Médio. Calcula-se que eles são pouco mais de 350 mil. Foi um grupo de imigrantes que fundou o clube, em 1920, ainda como uma equipe amadora. Profissionalizado nos anos 50, ganhou seu primeiro título em 1955. O segundo e, ainda hoje o último título nacional, veio em 1978, num time em que se destacava o zagueiro Elias Figueroa, que retornara ao país após se tornar ídolo do Internacional.
Embora voltado para a colônia, o Palestino não exige que seus sócios, muito menos seus torcedores, sejam descendentes. Na prática, entretanto, o clube não perdeu as características de uma associação ligada à colônia palestina. Quase todo o seu corpo de dirigentes tem raízes no país. E os jogos raramente reúnem mais de seis mil pessoas.
– Aqui não há muito dinheiro. Quem vem trabalhar pelo clube, o faz por paixão. Gostamos que pessoas sem ascendência palestina se juntem, mas não é tão comum. Nos jogos, reunimos a colônia árabe e alguns chilenos com simpatia por nós – disse Heresi.
O clube, com sua diretoria quase toda amadora, maneja números modestos. Todo o funcionamento do clube consome cerca de US$ 350 mil (cerca de R$ 1,1 milhão). Ou seja, anualmente o clube se planeja para gastar R$ 13,2 milhões. É aproximadamente o valor que entra nos cofres. Já o Flamengo estima, em 2016, receitas 35 vezes maiores.
Para fazer frente aos seus gastos, o clube conta com uma aproximação maior com o país. Recentemente, fechou contrato de patrocínio com o Bank of Palestine que, em busca de laços com a colônia palestina no Chile, exibe sua marca na camisa do time com inscrições em inglês e em árabe. Outro passo foi a recente contratação de Shadi Shaban, meia de 24 anos, nascido em Acre, cidade que pertenceu à Palestina e passou ao controle de Israel em 1948. Ele joga pela seleção palestina.
– É um orgulho estar num clube que representa o nosso povo. Foi impressionante saber que existe um clube de palestinos no Chile – disse Shaban em sua apresentação ao clube.
– A TV Al Jazeera transmite alguns de nossos jogos para a região da Palestina. Recentemente, assinamos um acordo de colaboração com o Ministro do Esporte do país – conta o presidente.
Em campo nesta quarta-feira, pelas oitavas de final da Copa sul-Americana, o Flamengo vai enfrentar um time que sofreu brutal transformação após o quarto lugar no Torneo Clausura chileno, no primeiro semestre: perdeu nove titulares. Mas manteve o treinador, o chileno Nicolás Córdova, formado técnico na Itália após cerca de dez anos jogando em clubes modestos do país.
– É um técnico moderno, que dá muita importância à tática. Deu equilíbrio a um time que era demasiadamente ofensivo – conta Claudio Herrera, jornalista do “El Mercurio”, de Santiago.
Córdova joga num 4-1-4-1, esquema similar ao da seleção brasileira de Tite. Gosta que seu time fique com a posse de bola, embora aposte em transições rápidas para o ataque. O volante Agustín Farias é considerado bom distribuidor de jogadas. Outra peça destacada pelos analistas chilenos é Leonardo Valencia, capaz de armar as jogadas pelos lados do campo e de levar perigo em bolas paradas. No ataque, o centroavante Benegas se destaca pela força física e pode ser uma arma no jogo aéreo. É um dos quatro argentinos do provável time titular. O lateral-esquerdo Cereceda, que é chileno, já jogou pelo Figueirense.
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