Rodrigo Coli: “Contratar pra revolucionar”

A chegada de Jorge Jesus ao Flamengo trouxe consigo um mix de sentimentos, inovações e, também, de responsabilidades.

Por um lado, a contratação de um treinador europeu de sucesso e com mercado em seu continente mostra como foi enorme a revolução ocorrida no Flamengo nos últimos anos sob os pontos de vista financeiro e estrutural. O clube chegou de fato a outro patamar, sendo respeitado não só como time mas como instituição nos principais centros do mundo. Com isso, ganham o próprio Flamengo, sua torcida e também o futebol brasileiro de um modo geral, mais aberto e bem-visto aos olhos do exterior. Nosso campeonato é mais forte e nossos clubes mais organizados. Nunca antes fora tão nítido que estruturação administrativa e planejamento financeiro são alicerces fundamentais para o sucesso desportivo a médio prazo.

Dentro dos escritórios, vamos bem. Dinheiro em caixa, contas em dia e o cenário cada vez mais otimista. O dinheiro flui normalmente e os investimentos dão retorno. Nosso poder de compra está cada vez maior, e aos poucos todo esse progresso foi entrando em campo, respaldado pelas contratações de peso e pelas reformulações do Ninho do Urubu. Em meio a esse turbilhão de mudanças, tantas das quais nunca vistas por sofridos rubro-negros acostumados com as salvações de papai Joel e com as efervescências de heróis momentâneos e improváveis a la Obina, Hernane Brocador e Angelim, talvez não nos recordemos com a frequência necessária de que a cultura existente no clube é fator determinante para qualquer ambição desportiva. E nós temos essa consciência?

Primeiramente, o Flamengo é, por essência, um time ofensivo. Abrir mão da possibilidade de vitória e da proposição de jogo e se acovardar é uma característica completamente oposta a nossa história, e isso vai de encontro com o que Jorge Jesus pensa sobre futebol. Foi uma contratação certeira da diretoria, mas o passo seguinte é saber até quando irão aturá-lo. De momento, estão creditando e contratando jogadores de acordo com suas demandas. As tratativas por Balotelli em um time com o setor ofensivo potencializado são uma prova disso. Recordemos que, há meses atrás, foram investidos dezenas de milhões em Arrascaeta que pouco jogava por opção do então treinador, Abel Braga, numa demonstração clara de descompasso entre investimento e ambição.

Mas o que será de Jorge Jesus quando a primeira sequência ruim chegar? A realidade brasileira é a de demissão sumária, não importando tempo de casa, controle do vestiário e ideias combinadas. Culturalmente, temos que nos certificar de que todo investimento necessita de confiança e de planejamento. O míster deve ser cobrado, mas blindado em momentos de baixa. A montagem de um elenco em torno das ideias de um treinador é pode se tornar em um grande problema quando se demite com frequência, visto que as opções do seguinte certamente serão diferentes. E essa é deve ser a maior preocupação do Flamengo dentro de campo.

Não somente apoio o alinhamento de contratações e reformulações de acordo com os pensamentos do treinador como acredito que isto seja fator primordial para o sucesso dentro das 4 linhas. Mas para que isso funcione precisamos garantir sua estabilidade. Já somos pioneiros na revolução do futebol nacional. Que, auxiliados e abençoados por Jesus, sejamos também em outras frentes. Vida longa a Jesus no Flamengo!

Fonte: https://colunadofla.com/2019/08/rodrigo-coli-contratar-pra-revolucionar/

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