Foram apenas nove dias de trabalho de Jorge Jesus no campo, mas na vitória por 3 a 1 sobre o Madureira no jogo-treino, sábado, na Gávea, já foi possível ver um pouco dos planos e da influência do novo treinador. A mais flagrante foi a mudança tática com a presença de apenas um volante de ofício e dois atacante de mobilidade, além de homens abertos pelos cantos. Mas houve também alterações mais sutis de posicionamento e estratégia nas bolas paradas. A impressão foi positiva, apesar da fragilidade do adversário.
Na prática, Jesus escalou o Flamengo em um 4-1-3-2. Rodinei, Léo Duarte, Rodrigo Caio e Renê atrás. Arão como único volante. A linha de meio com Lucas Silva na direita, Diego no meio e Vitinho na esquerda. Bruno Henrique e Gabigol mais avançados. E muita movimentação. O Flamengo abortou, ao menos contra o Madureira, o 4-3-3 usado há anos no clube e comum no futebol brasileiro. Ao mesmo tempo, ficou claro que o time ainda tem muito a assimilar.
Formação que o Flamengo iniciou o jogo-treino contra o Madeureira — Foto: Globo Esporte
Arão por muitas vezes ficou quase como um terceiro zagueiro. Diego foi quem tentou recuar mais vezes e auxiliar na saída de bola e marcação, uma espécie de segundo volante, como o próprio classificou após o jogo. Bruno Henrique ficou com menos obrigação de marcar o lateral adversário até o fim.
– Depois de uma semana de trabalho, era para colocar em prática aquilo que fizemos. Acho que foi um bom treino. Ainda temos coisas a corrigir e melhorar, mas nos identificamos cada vez mais como equipe. Viemos ao coração do Flamengo, a Gávea, que era uma coisa que eu pretendia, juntar a torcida ao time. Todos juntos, vamos conseguir os objetivos – disse o técnico à Fla TV.
Durante o tempo que os titulares estiveram em campo, Lucas Silva e Vitinho chegaram a inverter os lados. A partir do início do segundo tempo, Jesus começou a fazer muitas mudanças no time. Lincoln, Ronaldo, Piris, Dantas, Thuler, João Lucas, Pará, Rafael Santos, Berrío e Hugo Moura entraram.
Estilo enérgico do Mister
Assim como é nos treinos, Jorge Jesus foi bastante participativo à beira do campo. Orientou, gritou, andou muito e não se privou de brigar quando achou necessário. Em uma função nova, William Arão foi um dos mais lembrados pelo treinador.
– Atenção, Arão! Tá mal, Arão! Tá mal, Arão!
Jesus também se mostrou bastante enérgico ao fim da partida. O clima na Gávea era de confraternização, com a presença da torcida, mas, assim que soou o apito, o português ignorou o ambiente festivo, entrou em campo gesticulando muito, deu uma bronca em Dantas – provavelmente pela falha no gol do Madureira – e em seguida cobrou Berrío e Piris da Motta. O capitão Diego garantiu que o grupo aprova o estilo exigente do treinador.
– É o técnico que mais exigiu do time até agora. Vamos abraçar, comprar a ideia. Sabemos a oportunidade que temos. Todos estão cansados, mas muito motivados. Também queremos excelência. É promissor. Expectativa muito boa. A reação tem sido boa da equipe. Falam como se o elenco não estivesse preparado. Que fique claro que não temos problemas em trabalhar – afirmou o capitão.
Vitinho aproveita bem a oportunidade
Ainda sem os jogadores que estão com suas seleções, casos de Trauco, Arrascaeta e Cuéllar, além de Everton Ribeiro (machucado) e Rafinha (recém-integrado), Jesus iniciou o jogo-treino com alguns atletas que não vinham sendo titulares, casos de Vitinho, Rodinei e Lucas Silva. Autor de dois gols, Vitinho foi quem melhor aproveitou. Não apenas pelos gols, mas pela movimentação e participação.
Vitinho marcou dois gols e, ao lado de Rodrigo Caio, foi o destaque do Flamengo — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Rodinei também ganhou pontos, mas a tendência é que saia do time quando Rafinha tiver em boas condições físicas. Rodrigo Caio também manteve o nível das atuações antes da parada da Copa América. Gabigol, menos centralizado, alternou bons lances com erros bobos.
Diego mantém posto de capitão
Diego jogou um pouco mais recuado e foi mantido como capitão do time — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
O novo treinador manteve o camisa 10 como capitão da equipe. Diego fez um bonito gol e tentou se adaptar na função de dar mais auxílio na marcação, já que Arão era o único volante. Apesar de o Madureira não ter exigido muito, se saiu bem.
Após o retorno de Arrascaeta, resta saber se Jorge Jesus o vê como um concorrente direto de Diego ou vai encontrar algum outro posicionamento para o uruguaio.
Rafinha: por enquanto, espectador
O lateral-direito ficou junto com os demais companheiros no banco de reserva em boa parte do jogo-treino, mas não entrou. Ainda está em processo de recondicionamento físico. Além dele, apenas Gabriel Batista, Klebinho e Rhodolfo não foram observados. Sinal de que o zagueiro, titular nos primeiros jogos do ano com Abel Braga, perdeu ainda mais espaço com Jesus.
Rafinha treinou na Gàvea, mas não entrou em campo contra o Madureira — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Everton Ribeiro, que se recupera de uma lesão no tendão de Aquiles, fez uma atividade física separado.
Gávea vive dia de festa para torcida e corneta para Gabigol
Bruno Henrique fala com torcedores. Muitas crianças foram à Gávea neste sábado — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Horas antes do jogo-treino a sede do clube já estava cheia. Foram filas grandes para os sócios e seus convidados entrarem para acompanhar a atividade. O cálculo é de que cerca de 500 pessoas assistiram ao 3 a 1 sobre o Madureira. Guardas precisaram organizar o trânsito no entorno da Gávea, ambulantes circulavam pelo local… Resumindo, o jogo-treino ganhou ares de jogo oficial.
Proximidade entre jogadores e torcedores gerou cenas curiosas — Foto: Alexandre Vidal / Flamengo
Lá dentro, os rubro-negros aproveitaram a oportunidade para gritar os nomes dos ídolos e pedir fotos. Mas também teve espaço para cornetadas.
Com a proximidade do gramado, os jogadores conseguiam ouvir perfeitamente elogios e críticas da torcida. Em determinado momento, alguns torcedores ficaram na bronca com Gabigol, que optou por servir Bruno Henrique e não finalizou após bela jogada de Vitinho" Não é Gabigol? Então chuta, p.." O camisa 9 aparentemente não curtiu, mas ficou em silêncio.
Jorge Jesus foi um dos mais festejados. No intervalo do jogo, um grupo gritou "Jesus, Jesus!". O treinador sorriu e levantou o dedo indicador para o céu. No fim, repetiu o gesto para um grupo de crianças que foi cumprimentá-lo.