Ele chegou sob desconfiança, seja pela breve e mal sucedida passagem pela Europa ou pela reputação de ter um temperamento difícil.
Apesar de ter começado com um treinador mediano, de quem um certo comentarista chegou a dizer que ‘não pediu Gabigol’, logo ele caiu nas mãos do renomado Jorge Jesus.
Com o novo treinador, veio a glória. Dentro de um time que jogava de forma brilhante, até os gols perdidos, que já eram frequentes, pareciam não ter importância, pois ele sempre estava lá para decidir, principalmente nas finais históricas como a virada épica sobre o River Plate em Lima e a conquista da Libertadores após 38 anos.
Tudo estava dando certo e mesmo sem a técnica de um Arrascaeta ou a frieza de um Bruno Henrique, Gabigol se tornou rapidamente um fenômeno nacional. Desde crianças até idosos, de flamenguistas a torcedores de outros times, todos se encantavam com o jogador e repetiam sua comemoração com o ‘muque’ para cima.
A consolidação de uma carreira e o início de uma idolatria unânime entre a torcida do Flamengo, certo? Errado.
A personalidade forte que o tornou decisivo nos momentos cruciais também o levou a ultrapassar limites e a se sentir invencível. Gabigol começou (ou passou a mostrar ainda mais) a acreditar que poderia fazer qualquer coisa, até mesmo desafiar o clube e a torcida que o elevaram ao topo, sem sofrer as consequências.
Vestindo a camisa de um dos principais rivais (a quem já havia se oferecido antes) e em seguida mentindo, dizendo que era montagem.
Estes foram apenas alguns dos principais erros de um jogador que, por se considerar ‘predestinado’, iludiu a si mesmo, pensando que era intocável e que todos aceitariam suas atitudes mimadas e infantis. Um egocentrismo que o afastou até da própria Seleção.
Ele desperdiçou uma trajetória que combinou talento (mérito seu) com estar no lugar certo, na hora certa, algo que provavelmente não se repetirá em sua carreira.
Ele trocou a admiração de uma torcida apaixonada por momentos passageiros de teimosia e satisfação temporária de seus desejos superficiais.
Ele errou e teve a chance de se redimir, mas optou por não fazê-lo. A mesma falta de humildade que o impediu de reconhecer suas deficiências técnicas em áreas como cabeceio e perna direita, e tentar melhorá-las.
Gabigol não ‘deu’ nenhum título ao Flamengo. Ele não jogou sozinho; ele era parte de um time e apenas correspondeu ao que foi muito bem remunerado para fazer. Por um tempo, é claro.
O Flamengo sim, lhe proporcionou visibilidade e uma oportunidade única na vida. O Flamengo lhe deu uma história marcante e cedeu muitas vezes às suas vontades.
Uma história que foi bela por um breve período, mas que, devido às suas atitudes infantis e escolhas equivocadas, será sempre lembrada com um asterisco no final.
Publicado em colunadofla.com
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