A minissérie ‘O Ninho: Futebol e Tragédia’ transporta o espectador para o fatídico dia 08 de fevereiro de 2019, considerado o dia mais sombrio da história do Flamengo. Nessa data, um incêndio devastador consumiu o alojamento destinado às categorias de base do clube no Centro de Treinamento George Helal, conhecido como Ninho do Urubu.
A obra é intensa, comovente e indispensável. Em diversos momentos, somos tomados por emoções intensas, sentindo compaixão pelas famílias das vítimas, consternados ao reviver o incêndio, indignados com a negligência do clube diante da tragédia.
No primeiro episódio, intitulado ‘Sonho’, somos introduzidos ao universo de jovens aspirantes a jogadores de futebol profissional. Conhecemos a jornada de alguns dos meninos que vieram a falecer na tragédia, bem como a de um sobrevivente, Filipe Chrysman. Depoimentos de ex-jogadores como Vanderlei Luxemburgo e Zico enriquecem a narrativa, revelando a história de vida desses jovens e a paixão envolvida em jogar pelo Flamengo, o clube mais popular do Brasil.
A segunda metade do episódio nos transporta para o cenário do Centro de Treinamento, mostrando as condições de vida dos garotos e os eventos que culminaram no incêndio. A narrativa se desenrola a partir do dia 06 de fevereiro, quando uma forte chuva atingiu o Rio de Janeiro, antecedendo a tragédia. A dinâmica do incêndio é detalhada com base nos relatos de sobreviventes e do ex-segurança do Flamengo, Benedito Ferreira.
No segundo episódio, intitulado ‘Pesadelo’, somos apresentados aos primeiros momentos pós-tragédia, marcados pela angústia das famílias diante das informações desencontradas, da postura inicial do Flamengo e das irregularidades do Centro de Treinamento. Destaca-se a falta de empatia da diretoria do clube, evidenciada em situações como a reunião de mediação em que o presidente Rodolfo Landim não compareceu, deixando os familiares desamparados.
Detalhes da investigação são revelados, incluindo evidências fotográficas, laudos periciais e e-mails internos do Flamengo que apontam para a ciência da alta cúpula do clube sobre os riscos na parte elétrica do alojamento. O terceiro episódio, ‘Despertar’, emociona ao trazer à tona os desdobramentos da investigação e a CPI realizada pela ALERJ. O ex-presidente Eduardo Bandeira de Mello figura entre os réus, alegando desconhecimento das irregularidades durante sua gestão.
As famílias revisitam os campos onde seus filhos sonharam em se tornar jogadores, expressando a busca por justiça. As homenagens prestadas pelos torcedores e pelo Fluminense a uma das vítimas destacam-se como momentos emocionantes. O documentário não busca sensacionalismo, mas sim lança luz sobre a prevenção de tragédias e a responsabilidade do Flamengo perante as vítimas e sobreviventes.
Pedro Asbeg, Renato Fagundes e o UOL, responsáveis pela minissérie, oferecem uma valiosa contribuição ao debate público e à sociedade, ao abordarem de forma sensível e necessária um episódio marcante na história do futebol brasileiro. A memória dos meninos deve ser preservada e a justiça deve prevalecer, mesmo diante da morosidade do sistema judiciário. O legado dessas vidas perdidas não pode ser esquecido.
Publicado em colunadofla.com
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