Cinco anos da pior tragédia da história do Clube de Regatas do Flamengo. Cinco anos da pior dor que afetou o coração e a alma da instituição mais popular do Brasil. A data de 08 de fevereiro de 2019 não pode ser esquecida.
E a memória de Arthur Vinícius, Athila, Bernardo, Christian, Gedson, Jorge Eduardo, Pablo Henrique, Rykelmo, Samuel Rosa e Vitor Isaias precisa ser preservada, mesmo que alguns tentem apagar suas lembranças. Essa é a principal missão do livro ‘Longe do ninho’, escrito por Daniela Arbex e publicado pela editora Intrínseca, lançado no último dia 05.
Antes de denunciar as negligências no Centro de Treinamento Ninho do Urubu, o livro conta a história de cada um dos meninos que partiram, assim como de suas famílias. Daniela humaniza, como nunca antes, cada atleta. Ela nos revela os detalhes de como as famílias receberam a pior notícia de suas vidas, a reação e a dor de cada mãe, pai, avós, tios e tias…
Daniela, uma renomada autora, confessa não ter familiaridade com o futebol. Isso porque seus livros anteriores, que também denunciam situações semelhantes ao Ninho do Urubu, não abordam o tema. No entanto, quando dizemos que o esporte vai além, não estamos mentindo. A história de um clube de futebol pode ser contada fora das quatro linhas, sob qualquer perspectiva.
Se você espera encontrar um livro-reportagem repleto de documentos que comprovam a negligência do clube em relação ao alojamento, talvez possa se decepcionar. Embora o livro traga trocas de e-mails e informações inéditas, que mostram como os dirigentes do Flamengo lidavam com os problemas legais junto aos órgãos públicos, o foco está nos meninos, incluindo os sobreviventes, e suas famílias. No entanto, vale ressaltar que a autora apresenta um histórico detalhado do CT e, de forma resumida, como o clube não se adequou entre 1° de março de 2012 e 08 de fevereiro de 2019.
Arbex consegue trazer informações delicadas, como a identificação dos corpos, tarefa realizada por Gabriela Graça, diretora do IML, o trabalho dos peritos no CT logo após o incêndio, a disposição dos corpos, entre outros. No entanto, ela o faz de maneira cuidadosa e sensível, sem chocar o leitor e, acredito eu, nem mesmo os familiares. O que realmente toca o âmago dos nossos sentimentos são as histórias dos familiares antes e depois da tragédia. Destaco duas delas: a de Rosana de Souza, mãe de Rykelmo, logo no primeiro capítulo, com desdobramentos posteriores, e a de Leda e Darlei, pais de Bernardo, quando recebem a pior notícia de suas vidas, no terceiro capítulo.
Como está a preservação da memória desses meninos, vítimas fatais dessa tragédia? ‘Longe do ninho’ mostra como a torcida do Flamengo se mobilizou para, além de buscar justiça, não deixar que esse trágico evento seja esquecido. Cinco anos depois, ninguém foi responsabilizado e os envolvidos tentam se culpar mutuamente no processo. No entanto, voltando à torcida, falando especificamente do coletivo ‘Flamengo da Gente’, são eles os principais responsáveis pelas homenagens, já que o clube parece tratar o assunto com certo desinteresse.
No CT, há uma capela ecumênica discreta, com acesso restrito. No novo museu do clube, inaugurado em agosto de 2023, na Gávea, não há menção aos jovens, mesmo com a promessa de fazê-lo. O verdadeiro memorial, para muitos, está localizado na Radial Oeste, em frente ao portão F do Maracanã. O mural com o rosto e o nome das vítimas foi feito pelo artista urbano Airá Ocrespo, inclusive, é a mesma arte que ilustra a capa do livro de Daniela.
Agora, o memorial dos meninos ganhou um importante reforço. Como disse a jornalista Gabriela Moreira na quarta capa do livro: ‘As histórias contadas neste livro tocarão profundamente a alma daqueles que respiram futebol. Pela primeira vez, os dez jovens mortos no incêndio do Ninho do Urubu deixam de ser apenas números para serem vidas’. Daniela Arbex nos trouxe uma obra necessária, que nos faz refletir sobre as tragédias do nosso país, sobre a falta de justiça, a negligência das empresas e dos órgãos públicos, mas, acima de tudo, nos faz mergulhar na dor e na saudade dos familiares, amigos e sobreviventes daqueles que se foram!
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Publicado em colunadofla.com
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