Muitos ídolos permearam a minha infância e adolescência. Ídolos que nem vi jogar e Silva, o Batuta, aliás, Seu Silva como eu o chamava, era um deles. Apaixonado pela história do Flamengo, foi fácil encontrar seu nome em muitas revistas e livros. Aliás, antes de Zico, era uma dos maiores que vestiu a camisa 10.
Mais tarde, bem antes da internet, pude ver seus gols e suas jogadas com o Manto Sagrado. Um salve ao saudoso Canal 100. No título Carioca de 1965, a conquista veio com uma vitória por 2 a 1 sobre o maior rival, o Fluminense, com gol de Silva. Aquele time ainda contava com Paulo Henrique e Carlinhos.
No meu coração Rubro-Negro, aquele nome me soava perfeitamente: BA-TU-TA. Nunca imaginei que uma dia teria a honra de estar com um craque como Silva. Vale lembrar que ele fez história em outras equipes. Foi pra Copa de 66, jogou com Pelé, jogou com Zizinho, outro ídolo do Mais Querido e marcou seu nome nos rivais, mas o nosso querido Walter, nome de batismo, nasceu e predestinado foi para ser do Flamengo. Sim, do Flamengo. Cigano no futebol mundial com passagens ainda por Barcelona e Racing, virou funcionário do clube.
Podia ser rotineiro encontrá-lo na Gávea, mas eu o olhava e pensava: “Caramba, olha o Silva Batuta. O Silva Batuta”. Cumprimento era sempre com “Tudo bem, Seu Silva?”, afinal, respeito sempre. E mais além, é um ídolo. Em 2013, junto com meu amigo Gilson Lima, fizemos uma homenagem a ele. E que bom que fizemos essa homenagem em vida, ficou nítida a sua emoção ao receber a nossa singela placa e ao falar do clube. Olha que definição, aliás, a ‘não-definição’ ao falar do Flamengo:
“A gente precisa estar preparado para as coisas. O Flamengo sempre causa uma emoção diferente. Uma vez me pediram para falar do Flamengo e eu disse: “Nem os grandes poetas souberam falar do Flamengo, quem sou eu… O Flamengo é tudo, você não consegue decifrar“”, disse ele naquela ocasião. Você pode ver a homenagem no vídeo abaixo.
No ano seguinte, o escritor Marcelo Schwob publicou a biografia de Silva. 600 páginas com toda história do craque com mais de 200 fotos. O livro traz passagens marcantes da sua carreira. A infância em Ribeirão Preto, os primeiros passos no São Paulo, os anos de glória no Flamengo, o caso de racismo que sofreu quando jogava no Barcelona pelo presidente Enric Llaudet. Motivo que o fez voltar ao Brasil. Eu estive lá para acompanhar a felicidade de Seu Silva e sua família.
Em 2017, um fato marcante. Há uma rara foto do grandioso Silva Batuta batendo foto com uma menino loirinho e franzino. Esse menino era Zico. 50 anos depois, o projeto Fla Nação, através de Sandro Rilhó, recriou a imagem. “O Galo era criança, na época ele era pré-mirim e a gente ficava trocando passes e nesse sábado agora, eu dei o pontapé inicial justamente com o Galo. Foi uma foto cinquenta anos depois“, se derreteu na época.
Uma perda! Não verei mais Seu Silva pela sede da Gávea! Sempre gigante e com sua aura de ser um dos maiores nomes da nossa história. Já sem a sua batuta, o Batuta se foi para ser maestro em outros planos. Ficam as lembranças, os lances, os títulos, as jogadas e a história escrita. Fora, a enorme simpatia de um homem que se dedicou quase que uma vida inteira ao futebol e ao Flamengo. Me resta agradecer! Obrigado por tudo, Seu Silva! O senhor é eterno!
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