Às vésperas da Copa do Mundo de 1982, o técnico Telê Santana passou por uma situação peculiar, quando o humorista Jô Soares popularizou a frase. Essa expressão ganhou notoriedade porque, enquanto a Seleção Brasileira contava com um elenco repleto de meias talentosos, Telê optava por não escalar pontas, priorizando, assim, a criatividade e o controle de jogo no meio-campo. Aquele time, que contava com nomes como Sócrates, Zico, Cerezo e Falcão, gerava debates e até ironias sobre a ausência de jogadores de largura no campo, como os pontas tradicionais.
Esse episódio evidencia uma característica que se firmou no futebol brasileiro ao longo das décadas: a valorização do meio-campista criativo. Com o passar do tempo, os clubes brasileiros passaram a cultivar uma cultura de produção de grandes meias, alimentando tanto as seleções quanto os campeonatos nacionais com jogadores de excepcional visão de jogo. Entretanto, após o processo de ‘europeização’ do futebol, o quadro mudou. O futebol moderno, que é mais físico e propenso a transições rápidas, resultou em uma drástica diminuição da formação de meias clássicos, especialmente nas categorias de base.
Atualmente, o número de meias clássicos no futebol brasileiro é alarmantemente reduzido. Referências como Arrascaeta, do Flamengo, Rafael Veiga, do Palmeiras, e Paulo Henrique Ganso, do Fluminense, são exceções. Outros nomes, como Matheus Pereira, do Cruzeiro, Rollheiser, do Santos, Monsalve, do Grêmio, e até Alan Patrick, do Internacional, compõem uma lista limitada de jogadores que possuem o perfil de criadores de jogo. No entanto, a grande questão persiste: qual desses jogadores (excluindo os estrangeiros, é claro) seria, de fato, um titular absoluto da seleção brasileira como meio-campista criador? A resposta é, no mínimo, incerta.
Essa falta de jogadores de meio-campo reflete-se diretamente no Flamengo. O time rubro-negro conta com Arrascaeta como seu principal maestro, mas a realidade é que o uruguaio, devido à sua idade e lesões, não estará disponível para todas as partidas. A solução, que já está sendo buscada, é a contratação de um meio-campista para competir por sua posição. Essa aposta, embora tardia, é imprescindível. Afinal, Alcaraz, que foi contratado para preencher essa lacuna, não demonstrou sua eficácia no modelo de jogo do técnico Filipe Luís.
Até algum tempo atrás, o Flamengo contava com Everton Ribeiro, outro jogador de características semelhantes, mas ele já não faz parte do elenco, tendo se transferido para o Bahia após uma longa trajetória no clube.
Diante da escassez de jogadores com as mesmas características de Arrascaeta, o Flamengo precisa se reinventar para não depender exclusivamente dele. A abertura do Campeonato Brasileiro trouxe uma abordagem interessante do treinador Felipe Luis. No primeiro tempo, o Flamengo iniciou com um esquema 4-2-4, uma formação pouco convencional, mas que se mostrou pertinente dentro das circunstâncias. A equipe, embora dominasse a posse de bola, enfrentava dificuldades para avançar no campo, já que o Internacional dificultava a saída de bola do time rubro-negro com uma barreira muito bem organizada de cinco jogadores. A solução foi recorrer a bolas longas, o que não trouxe sucesso imediato, mas permitiu ao Flamengo criar duas chances, apesar do domínio quase infrutífero.
No segundo tempo, porém, Filipe Luís ajustou o time sem realizar substituições. Os laterais Wesley e Alex Sandro foram posicionados em áreas mais centrais do campo, dificultando a marcação do Internacional. Essa movimentação abriu espaços nas laterais, e o Flamengo passou a dominar o jogo. Com Bruno Henrique jogando mais perto de Juninho, o time ganhou mais fluidez, e as jogadas passaram a fluir com mais naturalidade. O resultado foi uma pressão constante sobre o adversário e passes mais rápidos e eficazes entre os quatro jogadores da frente. O Flamengo empatou e teve oportunidades claras de virar a partida.
O desempenho no segundo tempo contra o Internacional demonstrou que, mesmo sem um meio-campista clássico, o Flamengo pode se adaptar. O esquema 4-2-4 com quatro atacantes, embora arriscado, revelou-se útil em determinadas situações. Isso indica que, enquanto o clube não encontrar um substituto para Arrascaeta, existem alternativas viáveis. No final das contas, o Flamengo precisa de mais do que apenas talento individual; é necessário um sistema de jogo que potencialize suas qualidades coletivas, seja com Arrascaeta ou sem ele. O desafio está lançado, e a solução pode não vir apenas da contratação de novos jogadores, mas também da flexibilidade tática de seu treinador.
Publicado em colunadofla.com
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