“Se Edson não é Pelé, que Arthur seja para sempre Zico”

Edson Arantes do Nascimento, Pelé. Melhor jogador da história do futebol. Maior artilheiro, 1281 gols. 3 Copas do Mundo, 6 títulos nacionais, duas Libertadores, 2 Mundiais. Mais que o suficiente para nunca ser desdenhado, questionado ou contestado. Mas é. Distingue-se o “Edson” do “Pelé” justamente por isso. Para que o inalcançável e o que “calado é um poeta” sejam postos cada um em seu devido lugar.

Não ter defendido um clube de imensa torcida – aliado ao desapego do brasileiro à Seleção – contribui, mas provavelmente o grande fator para Pelé não ser hoje tão idolatrado é sua outra face. O tal Edson Arantes do Nascimento.

Com Zico é diferente. Zico e Arthur Antunes Coimbra sempre foram a mesma pessoa. Poucos times têm tão definido seu maior ídolo como o Flamengo. Poucos jogadores são tão queridos como Zico. Amado pelos rubro-negros, estimado por todas as outras torcidas.

O Galinho nunca foi de esconder seus vieses políticos. A uns causa admiração ainda maior, a outros suave desgosto. A ninguém abala o status de indivíduo mais Flamengo da história. O contrário era tido como surreal até a semana passada. No último sábado, o candidato à prefeitura do Rio de Janeiro Pedro Paulo (PMDB) postou a seguinte foto no Facebook, divulgada posteriormente no site oficial do parlamentar:

Atravessamos um momento de caos político, vivendo na era das redes sociais. Qualquer um pode escrever o que bem entender e publicar na internet. Mentiras são compartilhadas a esmo. Perde-se os filtros, sente-se a obrigação de opinar. Por mais que não se tenha opinião.

Também se vê verdades. Ultimamente, tem sido escancarada a demasia de abuso e violência sofrida pela mulher. Desde que o mundo é mundo, em qualquer parte do planeta.

Como homem, não posso ter ideia dos medos, traumas e injustiças que fazem parte do cotidiano das mulheres. Como mulheres, inúmeras rubro-negras se sentiram desapontadas ao verem a imagem de Zico atrelada à campanha de Pedro Paulo.

O flamenguista ama Zico. Zico é sinônimo de Flamengo. Pela importância que tem, a figura do Galinho em qualquer campanha política acaba passando a mensagem de que “rubro-negro de verdade vota em X”. Isso é prejudicial demais.

Somos mais de 30 milhões. Naturalmente, votamos em X, Y e Z. Temos no Flamengo a fuga dos problemas da vida e o Flamengo tem em Zico o maior arquiteto de seu encanto. De tão grande, é tratado como rei. Tamanha é nossa devoção que nos tornamos reféns de sua majestade. Faz parte de ser rubro-negro.

Mesmo não omitindo posições políticas, Zico segue tão querido por ter conseguido se manter Zico e Arthur ao mesmo tempo. Como há de ser a todas as pessoas do mundo. A exceção é ele próprio.

O “Eu-Arthur” faz o que achar melhor, vota em quem quiser. Já o “Zico de todos” não vota. É rei e não precisa se preocupar com isso. Jamais correrá o risco de perder o trono. A não ser que, no mundo de hoje, decida votar.

Dissociando as duas partes, abre-se o caminho para que pessoas desgostem de Arthur. Enfraquecendo um lado, o outro também perde porção de seu valor. Pelé não é idolatrado como poderia por também ser Edson. Não se pode permitir que o mesmo aconteça com Zico.

Marcos Almeida

Fonte: Nosso Flamengo

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