Sopa de Letrin… opa! Sopa de Números

Em meados dos 70s, fui presenteado com um “Manual do Zé Carioca” e tive meu primeiro contato com as táticas do futebol. Lá aprendi (ensinamento hoje contestado) que o primeiro esquema da era moderna do esporte bretão era o… WM! “Ué, Jorge, mas não era uma sopa de números?” Pois é, mas começamos mesmo com letras. Numa nomenclatura atual ele seria um 2-3-3-2. De lá pra cá tivemos mudanças, evoluções e, sem o contexto pejorativo, “invenções”.

Para ilustrar um pouco dessa História, vou falar da Seleção/70, Holanda/74 (na verdade o seu começo, lá no Ajax) e do nosso amado e saudoso Flamengo/81 (iniciando em 79/80): em 1970 a seleção foi formada, do meio pra frente, basicamente de “camisas 10”. Gérson, Pelé, Jairzinho, Tostão e Rivelino eram todos armadores ou pontas-de-lança em seus times. Mas Zagallo convocou e escalou o que tinha de melhor e “inventou” um novo esquema tático, pois se formos colocar (de maneira bem minimalista) em números o Brasil jogava num inacreditável 4-6-0. Mas que também se transformava num improvável 4-1-5 (só Clodoaldo tinha características defensivas neste meio de campo).

A Holanda de 74 teve sua origem quando Rinus Michels treinava o Ajax e começou a desenvolver os conceitos que surpreenderam o mundo na Copa da Alemanha. Para ilustrar como ele pensava o futebol, vou deixar trechos de uma anotação, um questionamento e a solução que ele teve ao assistir a final da Copa dos Campeões de 1968 entre Internazionale e Celtic (vencida pelo time italiano com uma sólida defesa – o famoso Catenaccio – formada por um líbero por trás de três defensores): "Uma defesa com bons zagueiros e bem posicionada só poderia ser quebrada com ondas de ataques massivos." "Como fazer uma boa estrutura defensiva sofrer com essas ondas?" "Tentei arranjar maneiras de conseguir quebrar aquelas barreiras […] Eu tinha que fazer jogadores de meio e de defesa participarem das ações ofensivas para poder complicar a vida deles. Parece fácil dizendo, mas é um longo caminho a percorrer, já que o mais difícil não é ensinar um lateral a atacar – eles gostam disso – mas sim arranjar e convencer alguém da frente a cobrir o espaço que ele gerou atrás." Muito interessante, não?!

Já o nosso Flamengo, Supercampeão, embora muita gente pense e afirme que jogava num 4-3-3, lembrava um pouco o Brasil/70, pois nosso ataque era formado por dois camisas 10 e um 9. Tita e Lico eram pontas-de-lança de origem, mas no esquema do Fla era falsos pontas direita e esquerda que tinham função de fechar o meio para minimizar o espaço dado por um time altamente ofensivo. Essa formação foi efetivada por… Carpegiani! Que me perdoem os críticos experts que dizem o contrário, mas Coutinho saiu do Fla em 80, sendo substituído por Dino Sani (que chegou a escalar o Adílio de ponta-esquerda matando por um breve período o futebol extraordinário do Neguinho) e só então entrou o Paulo César. E o Flamengo nunca tinha sido escalado com essa formação.

Pra não verem nisso uma crítica ao Coutinho, revelo que, dos que eu vi, ele era um dos maiores estrategistas da História. Como prova cito o que aconteceu entre 79 e 80 em dois jogos contra o Palmeiras. No primeiro o fortíssimo Flamengo foi goleado e eliminado pelo time de Telê Santana por 4×1 dentro do Maracanã. Quis o destino que eles se encontrassem novamente no ano seguinte e na semana o Couto armou o time reserva como jogava o Palmeiras num coletivo. Resultado: 6×3 pros reservas. Ele quebrou a cabeça, colocou o Andrade no lugar do Adílio, reforçando e acertando a marcação, anulou o Palmeiras e fez 4×0 no primeiro tempo. Resultado final: 6×2 pra nós.

Pra finalizar meu pensamento a respeito de esquemas táticos, digo que gosto de treinadores sem um conceito firmado. Acho que tudo passa pelo conhecimento do elenco e adaptações do sistema aos jogadores que tem disponíveis. Treinador que chega dizendo que pro time andar precisa desse ou daquele jogador com essa ou aquela característica me incomoda, pois num momento de contusões ou suspensões ele já está entregando que não conseguirá remontar o time. Prefiro os que tenham conhecimento dos diversos esquemas táticos existentes ou mesmo fazer as “invenções” de sistema de acordo com a necessidade e o adversário.

Por isso não entendo essa eterna questão sobre a nossa falta de laterais. Ok, hoje nós não temos jogadores que consigam ser eficientes nessa posição, então… Por que não um esquema sem laterais? É mais fácil você adaptar um jogador a fazer o lado do campo, sem muitas obrigações defensivas, que encontrar um lateral numa emergência. No que penso? Um 3-5-2! Ou, para facilitar o entendimento atual, um 3-2-3-2. Um terceiro zagueiro mais veloz (mesmo que jovem, pois terá os dois experientes no apoio), dois volantes (um bem marcador e um com boa saída), três meias (se alternando entre o centro e a escapada pelas laterais) e dois atacantes (um de área, prendendo os zagueiros adversários e um segundo atacante que poderia flutuar pelos dois lados fazendo jogadas de fundo com os meias ou vindo por trás do centroavante para tabelas e finalizações). É assim que acho que o Flamengo poderia ser montado.

Mas essa É SÓ A MINHA OPINIÃO!

Saudações Rubro-Negras!

(PS: palpite pra hoje? kkkkk Mengão 4×0! Guardem esse placar…)

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