Carta Aberta ao Juninho

Caro Antônio Júnior,

Venho por meio dessa, humildemente, lhe fazer um pedido. Porém, antes de fazê-lo é preciso tempo para expor a angústia. Essa que me toma o peito quase todas as vezes que você decide expressar o seu recalque desmedido.

Lembra daquele dia que você se comparou ao Zico batendo faltas? Naquele dia você se justificou dizendo que o Galinho nunca tinha batido faltas na Champions league. Pior que é verdade. Mas mesmo sem ter certeza de quão inteligente você é, nós, eu e você, sabemos que quando a bola passa por sobre a cabeça do homem-base da barreira, nem Buffon, nem Yashin, nem o maior de todos, o Galo-Cego: goleiro do grande Preciso Footbal Club (G.F.C) da Rua Ferreira Pontes, no Grajaú, vai pegar. Você, que nem era um batedor de falta ruim, sabe, melhor que muitos, que para ser gol de falta, não é quem é o goleiro e nem onde ele está, é simplesmente onde a bola vai. Se a gordinha for certo, é gol, tanto na Champions, tanto no Brasileiro, e provavelmente até no gol do Precioso. Talvez na França possa ter sido diferente, quando você jogava por lá, o campeonato era pior do que é hoje. Dá para dizer que a França era a segunda divisão da Europa? Bastava chutar que era gol, eu imagino o quão sem ambição deve ser um jogador que fica encostado por anos a fio, em um campeonato de menor envergadura, sentado em sua própria certeza, e choramingando por não ir à seleção. Mas até aí, vou deixar de pegar no seu pé, diremos apenas que você simplesmente falou demais quando estava falando do galinho.

Lembra quando o menino enjoado, de futebol gaiato, com dribles de outrora, um jogador folgazão, fez um golaço em um clássico e simulou um chororô ainda mais caçoísta? Naquele dia você o repreendeu com ar e moralidade superiores. Talvez você tivesse em mente aqueles jogadores sem moral, caráter ou coragem que pelas costas, longe das vistas dos árbitros, mostram o dedo do meio a torcida adversária. Não me lembro o que você disse naquele dia que um jogador assim o fez, mostrou o dedo na hora de cobrar o escanteio. Será que você colocou o menino ainda na juvenilidade e o jogador de carreira internacional no mesmo balaio? O menino do chororô carrega consigo a esperança de mantermos o beautiful sport (é assim que chamam o futebol fora do Brasil – esporte maravilhoso) e fez uma brincadeira singela e pueril. Confesso que me surpreendi como você dando bola ao garoto.

Outro dia, também fiquei estupefato quando ouvi o que você falou sobre o Diego, o menino do gel do cabelo. Depois de quase apanhar da torcida, o mancebo correu para abraçar a massa, se curvou diante dos arquibaldos, e selou a paz (pelo menos por um tempo) com o seu povo. Claro, entendo que ele poderia condenar a violência quando teve o microfone na sua frente, mas ele foi muito mais inteligente, despiu-se de ódio e orgulho e envergonhou aqueles que o atacaram. O Diego fez os agressores parecerem estúpidos, revoltados sem causas, e pouco inteligentes (na verdade o que eles realmente são). Se o rapaz do gel do cabelo tivesse feito o que você sugeriu, ainda estaria as turras com a torcida. Enquanto a maioria que já perdoava o camisa 10 do flamengo, ainda o adorava mais, você decidiu estabelecer uma crítica rasa, sem suporte nenhum, sem pensar nos desdobramentos e que provavelmente prejudicaria a relação do jogador com a torcida.

Outro dia, vendo o jogo do Flamengo, me surpreendi com a falta de qualidade de um dos nossos laterais. Passes errados, cruzamentos poucos e ruins, e até falhas na marcação onde teoricamente ele seria bom. Ouvindo os seus comentários, quase tive um infarto. Não acreditei que você teve coragem de chamar essa torcida de racista ou bairrista. Tivemos tantos ídolos do nordeste, negros, estrangeiros! Somos o time da massa, nos orgulhamos de sermos mulambos, ser torcedor do flamengo é: aceitar-se um igual; criados em uma arquibancada de preço único, sentados colados pelos ombros, sem medo, nos abraçamos ao mais nauseabundo dos maltrapilhos, dividindo a alegria naquele gol. Nos orgulhamos de nossa simplicidade. Nos chamar de preconceituosos é de uma simplificação sem tamanho, triste, amarga, vingativa, coisa de perdedor. O mais triste é pensar que o que você quis dizer apenas gera apenas mais ódio, divisão, polarização e tristeza; fecha um ciclo “disvirtuoso” de rancor, uma sanha desnecessária.

Naquele dia na televisão, quando você destilou fel sobre setoristas, confesso que não entendi. Lembrei-me da nossa setorista, que apesar de não a conhecer pessoalmente, nunca recebi dela nenhuma linha que não fosse baseada em fatos. Ora, será ela na sua visão a única setorista de bom caráter? Não pode ser. Você no fundo sabe que em todas as profissões, de lavadeiras a diretores de empresa, de juízes a jogadores há aqueles bons e outros ruins. Há aqueles que fazem gols e celebram com deboche e outros que mostram o dedo do meio pelas costas.

Sabe Antônio, as vezes eu penso que você pega no pé do Flamengo porque você descobriu que é mais fácil achar um inimigo, muito maior do que você, para poder virar uma vítima. É mais fácil se vitimar do que estudar e melhorar. Se transformar em uma marionete de você mesmo. Você vem seguindo o hábito de usar exceções para justificar as regras e provar o seu ponto de vista. O que quero dizer é que você, por exemplo, usou o mau setorista que cruzou a sua vida para justificar o que você pensa. Todos os setoristas são… Generalizações são terríveis. Nessas horas entende-se porque jornalistas defendem a profissão, dá-se uma metralhadora na mão de um macaco e espera-se o que? Diplomacia? Um jogador senta em uma mesa, com um microfone e uma câmera, e sem nenhuma idéia de ética, ou limite, simplesmente começa a falar. Ali, pensa um jornalista, poderia estar alguém que pelo menos leu algum código de ética em algum lugar em algum momento da vida profissional.

No fundo você sabe que não era melhor batedor de faltas do que o Zico, que o Vinícius Junior estava apenas sendo debochado, que a grande parte dos setoristas são decentes, que o Diego fez o certo, que o Renê está tendo problemas porque é um jogador fraco e não por ser do nordeste. Mas você, por ser diminuto e limitado, está se segurando na televisão criando um tipo que cria polêmica para ganhar espaço, uma versão menos caricaturada do Neto, mas ainda assim uma caricatura. Infelizmente, cada vez que você abre a sua boca com uma provocação temos, por ordem do ofício, reportar. Reportamos as suas fraquezas e deficiências e com um regozijo discreto, por conta de ter dito tudo o disse, também reportamos quando você é humilhado através de uma mensagem contradizendo as bobagens que você, sem pensar, discorreu. Naquele momento vimos através de sua cara um vazio intelectual, moral, um abismo cheio de frustrações… falando nisso, talvez a sua grande frustração de não ter ido a Copa, não tenha sido pelo seu futebol, mas talvez por conta do seu caráter.

Mas lembra que iria lhe pedir um favor? Desisti, você não entenderá, apenas mulambos entenderão!

Faça uma força e quem sabe a carta não chega onde tem que chegar?!

Twitter: @fafochicca

Fonte: http://colunadoflamengo.com/2018/05/carta-aberta-ao-juninho/

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