Se a eliminação na Libertadores incomodou a torcida do Flamengo, a dor foi ainda maior para Gustavo Sette Campos. Aos 92 anos, o mineiro de São João del Rei, fanático pelas cores rubro-negras, sentiu-se mal no dia seguinte. Foi hospitalizado com crise de hipertensão que encadeou um princípio de edema pulmonar. Liberado na semana passada, garante estar sem restrições quando o assunto é ver futebol. Não que fosse adiantar alguma coisa:
— Se tiver essa orientação médica eu vou ter que rejeitar, né? — comenta Seu Gustavo, em tom de travessura.
Gustavo passou 12 dias no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) segundo uma de suas filhas, Regina Campos, que também mora em São João del Rei. Provocado a abandonar seu hábito de ver os jogos, no entanto, Seu Gustavo reage com firmeza.
— E as alegrias? Se eu adoeci de decepção, no sábado seguinte o Flamengo ganhou de 3 a 0 — afirma, referindo-se à vitória sobre o Atlético-GO, em 20 de maio.
Pai de sete filhos, com 16 netos e sete bisnetos, Seu Gustavo faz questão que a família não abandone a paixão pelo Flamengo. Um de seus filhos, Paulo Campos, teve uma parada cardíaca e faleceu em 2002, aos 47 anos, enquanto esperava pelo início de um Flamengo x Atlético-MG, no Mineirão, vencido pelo rubro-negro por 3 a 0. Sereno, Gustavo explica que a morte do filho não teve a ver com futebol. Mesmo no seu caso, depois de sair do hospital, ele pondera que há outros motivos:
— Eu já estava meio adoentado, com falta de ar. O Flamengo começou forte na Libertadores, mas chegou naquele jogo contra o San Lorenzo, toma um gol aos 47 do segundo tempo e acaba eliminado. Aquilo foi um choque muito grande — frisa.
PAIXÃO MAIOR A PARTIR DOS ANOS 40
A paixão pelo Flamengo vem desde a infância e ganhou força na década de 40, quando veio morar no Rio para fazer faculdade de Medicina. Ele recorda com detalhes das conquistas que acompanhou, desde o título carioca de 1939, com Domingos da Guia e Leônidas da Silva, nos tempos do rádio, até os títulos de Libertadores e Mundial em 1981, na geração de Zico, Leandro e Júnior, já pela televisão. A estadia no Rio foi abreviada por uma tuberculose. Voltou para São João del Rei, tornou-se professor em uma escola técnica na cidade e até atacou de jogador e dirigente de um clube da cidade, o Social. Só a preferência rubro-negra ficou inalterada:
— Aqui em casa todo mundo é Flamengo. Quando eu morava no Rio, um tio que torcia pelo Fluminense ia comigo aos jogos. Eu é que tentava convencê-lo a mudar de time. Meu pai era botafoguense, mas admirava muito o Zico.
O momento do Flamengo desperta otimismo, ainda que moderado. Seu Gustavo elogia a gestão de Eduardo Bandeira de Mello e reconhece que a Ilha do Urubu ganhou cara rubro-negra, embora não seja um “estádio à altura”. A chegada de Éverton Ribeiro animou Gustavo, mas sem tanta empolgação.
— O time atual ainda não é o conjunto ideal. É difícil dar entrosamento. Acho que o Flamengo é candidato ao título do Brasileiro. E a gente tem que admirar o Corinthians — destaca o veterano torcedor.
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