Dica de carrasco do Bolívar para Tite e pontos fracos de adversário do Flamengo na Libertadores

Atuando em seu próprio campo, o Bulo Bulo saiu vitorioso por 1 a 0 no dia 14 de abril. Já na última quinta-feira (18), a equipe do técnico brasileiro Thiago Leitão empatou em 1 a 1 no Estádio Hernando Siles, local onde o Flamengo jogará, situado a uma altitude de 3.640 metros. O treinador compartilhou a estratégia adotada para conter o Bolívar, um dos clubes mais renomados da Bolívia.

— *O Bolívar possui jogadores extremamente habilidosos, especialmente do meio-campo para a frente. Destaco o volante de contenção, Justiniano, que é o responsável por iniciar todas as jogadas ofensivas, a bola sempre passa por ele. Em seguida, têm dois meio-campistas, Ramiro Vaca, um dos melhores jogadores do país, e Fernando Saucedo. Eles atuam no esquema 4-3-3 na fase ofensiva. Pelo lado esquerdo, contam com Patito Rodrigues, jogador que considero o mais perigoso da equipe. Ele jogou ao lado de Neymar no Santos. Sempre busca trazer a bola para o centro para encontrar Francisco da Costa, um jogador perigoso. Além disso, possuem outro brasileiro, Sávio* — acrescentou.

Além disso, Thiago Leitão abordou outros pontos fortes e fracos do Bolívar, tratou a questão da altitude como um desafio psicológico e não aconselha uma postura defensiva para o Flamengo no jogo desta quarta-feira (24). Por fim, o treinador brasileiro compartilhou um pouco de sua história pessoal e o desejo de retornar ao Brasil um dia. Confira a entrevista na íntegra.

*”Bom, o treinador (Flavio) Robatto tem uma predileção pelo jogo associado, priorizando sempre a posse de bola, passes entre linhas. O Bolívar conta com jogadores muito habilidosos, especialmente do meio-campo para a frente. Destaco o volante de contenção, Justiniano, que é o responsável por iniciar todas as jogadas ofensivas, a bola sempre passa por ele. Em seguida, têm dois meio-campistas, que atuam como volantes ofensivos, Ramiro Vaca, um dos melhores jogadores do país, e Fernando Saucedo*.

*Após esses três jogadores, surgem os três atacantes, que atuam no esquema 4-3-3 na fase ofensiva. Atacam com três jogadores, sendo que pelo lado esquerdo contam com Patito Rodrigues, jogador que considero o mais perigoso da equipe. Ele jogou ao lado de Neymar no Santos. É um jogador muito habilidoso e rápido. Sempre busca trazer a bola para o centro para encontrar Francisco da Costa, um centroavante perigoso. Ele define muito bem as jogadas, especialmente em bolas aéreas. E em conjunto com Patito, buscam essa parceria. Patito frequentemente chega à linha de fundo. Quando não parte para o centro, ele encara a defesa*.

*Na linha de fundo, realiza o passe para Francisco da Costa. Além disso, possuem outro brasileiro com boas habilidades, Sávio. É um jogador mais técnico, que pensa muito, tem um bom passe. Portanto, o Bolívar é uma equipe perigosa com a posse de bola. No entanto, sem ela, deixam muitos espaços. Como gostam de atacar, muito depende da estratégia do técnico Tite*.

*Quando recuperam a posse de bola, encontrarão muitos espaços, principalmente nas costas dos laterais, que têm o hábito de avançar. Em determinado momento, ambos os laterais atacam simultaneamente. Eles têm um movimento tático interessante, onde os laterais sempre iniciam as jogadas ofensivas por dentro, buscando a superioridade numérica no meio-campo. Isso visa abrir espaços nas laterais, tanto para Patito quanto para quem estiver do lado direito, seja Algarañaz, Sávio ou até mesmo Vaca, Henry Vaca, também muito habilidoso. Dessa forma, os laterais se posicionam por dentro para criar espaço para que os extremos possam receber a bola em velocidade e enfrentar os laterais, buscando a linha de fundo*.

*Portanto, acredito que quando recuperarem a bola, o time do Flamengo poderá aproveitar esses contra-ataques rápidos, buscando a velocidade e explorando os lados onde encontrarão muitos espaços. Nas bolas paradas também, o Flamengo pode se beneficiar, devendo aproveitar ao máximo essa oportunidade, uma vez que a altitude torna mais difícil criar chances de gol. Geralmente, as equipes que não estão acostumadas à altitude adotam uma postura defensiva e encontrar o gol adversário se torna complicado. Portanto, é crucial aproveitar as bolas paradas com determinação. O Flamengo é amplamente superior. No entanto, é preciso correr. Se não correr, a altitude terá um preço. O Bolívar pressionará alto e, o técnico Tite precisa saber como sair da pressão com o goleiro, encontrar um jogador livre mais à frente e escapar da marcação para impedir que o Bolívar recupere a bola perto de seu gol. O Flamengo precisa adotar uma abordagem inteligente. Em La Paz, adotei uma linha defensiva de cinco para restringir a amplitude e profundidade do Bolívar. Além de uma linha de quatro para bloquear os passes. Eles não conseguiram conectar, cometeram muitos erros, e essa foi uma vantagem nossa. Não sei se o Professor Tite pode extrair alguma lição disso*.

*Sem dúvida, nossa classificação contra um adversário do calibre do Bolívar, que hoje é muito respeitado em toda a América do Sul. O Bolívar é uma equipe que cresceu significativamente com o apoio financeiro de Marcelo Claure, um multimilionário, que investiu na construção de um centro de treinamento avançado, com cinco ou seis campos bem cuidados e uma infraestrutura impressionante. Remunera muito bem seus jogadores, tendo atletas que recebem salários de 50, 60, 70 mil dólares, equivalentes aos pagos na Série A do Brasil*.

*Assim, é um clube muito forte, porém no futebol sabemos que dentro de campo, aqueles que não correm, que não se dedicam, acabam ficando para trás. Eles foram bastante pressionados pela eliminação contra um time que subiu no ano anterior, nosso time subiu no ano passado. Estamos realizando uma campanha maravilhosa. Ontem (terça-feira), vencemos o primeiro jogo da semifinal por 6 a 1 e agora jogaremos com essa vantagem no jogo de volta para buscar a classificação à final. Isso nos garante uma vaga na Copa Sul-Americana, se ficarmos em segundo lugar, ou na fase de grupos da Copa Libertadores, se conquistarmos o título. Isso representa um benefício econômico significativo para a Bolívia, com 3 milhões de dólares, além de contratos de patrocínio, vendas de ingressos e outros ganhos. Portanto, estamos lutando para conquistar o título, para validar nosso bom trabalho e acompanhando de perto os clubes brasileiros na Copa Libertadores, com agora o Flamengo vindo jogar em altitude*.

*Acredito que simplesmente se defender não traz resultados. Quando enfrentamos o Bolívar, optamos por uma linha defensiva de cinco jogadores. Movíamos um volante de contenção entre os dois zagueiros para liberar nossos laterais e restringir a amplitude. No entanto, quando recuperávamos a posse, procurávamos explorar os espaços deixados pelo Bolívar, principalmente atrás, onde os defensores são mais lentos*.

*Assim, aproveitamos esses espaços e pressionamos também no campo adversário. Quando o Bolívar tinha um tiro de meta, avançávamos as linhas, pressionávamos alto e cortávamos qualquer conexão que tentassem na saída de bola. Isso prejudicou muito o funcionamento do Bolívar. Conseguimos marcar 1 a 0 em La Paz e mantivemos essa vantagem por mais de 90 minutos, sendo que eles nos empataram no tempo adicional. Conseguimos o empate e a classificação. Acredito que o Flamengo, com os jogadores que possui, mesmo utilizando jogadores não considerados titulares, deve partir para cima, em busca do resultado, pois é amplamente superior ao Bolívar*.

*Temos uma certa vantagem por termos treinado em Cochabamba. Nossos jogadores residem aqui, treinamos aqui, onde temos 2.500 metros de altitude, não tão elevado quanto os 3.600 de La Paz, mas estamos preparados para jogar em altitude, também fisicamente bem preparados, então não sofremos muito com a altitude. Considero que o desafio da altitude é mais psicológico*.

*Se o jogador estiver bem preparado, passando por um bom momento, diversos exemplos de seleções e clubes que vieram jogar contra a Bolívia e saíram com resultados positivos, demonstram que a questão é mais psicológica. É necessário saber o momento certo para contra-atacar, manter a posse de bola e contar com a qualidade técnica dos jogadores brasileiros, que é amplamente superior. Portanto, acredito que a qualquer momento o Flamengo pode explorar os espaços e marcar os gols para sair de La Paz com uma vitória*.

*A altitude requer preparação. Os atletas de hoje contam com uma preparação muito mais avançada do que na minha época. Estamos falando de 2003, mais de 20 anos atrás, e a preparação física evoluiu consideravelmente. Acredito que os jogadores não sintam tanto os efeitos da altitude. Podem experimentar alguns sintomas como dor de cabeça, enjoo, mas dentro de campo, o metabolismo dos jogadores, a preparação física faz com que não sintam muito esses efeitos. Vemos resultados positivos de equipes jogando na Bolívia, Peru, Chile e outros países com altitude elevada, demonstrando que a condição técnica das equipes brasileiras e argentinas prevalece. A altitude já não é mais um fator tão temido, é preciso jogar de igual para igual e buscar o resultado, sem receios*.

*Portanto, minha meta como treinador do San Antonio é fazer com que nossa equipe cresça. Estamos em uma semifinal com boas chances de chegar à final. Vencemos o primeiro jogo da semifinal por 6 a 1 em casa, o que nos dá uma vantagem para a partida fora. No domingo, às 18h, jogaremos em Sucre, na capital da Bolívia, buscando chegar à final. Desejamos conquistar o título para garantir nossa vaga na fase de grupos da Copa Libertadores se vencermos ou na Copa Sul-Americana se ficarmos em segundo lugar. Esse é um objetivo traçado desde a pré-temporada. Não esperávamos chegar tão longe nesse primeiro campeonato, mas estamos preparados e determinados a buscar o título. Acredito que temos uma equipe forte, que pratica um futebol alegre, com foco no ataque e na pressão para recuperar a bola rapidamente e retornar ao ataque. Além disso, contamos com uma defesa sólida e um goleiro de 21 anos, ágil e competente, que sabe jogar com os pés e defender bem, especialmente em pênaltis*.

*Sou natural de Campinas, comecei minha carreira jogando na Ponte Preta desde os 10 anos, me tornando profissional no clube. Tivemos uma equipe forte, com jogadores como Ronaldão, Zé Carlos, Fabinho, Mineiro, Dionisio, Wander, Claudinho, todos de destaque. Em 2003, vim para a Bolívia, para o Jorge Wilstermann. Na minha primeira temporada, tive um desempenho excepcional, classificamos para a Copa Libertadores e fomos vice-campeões nacionais. Marquei 33 gols em uma temporada, ficando em segundo lugar como maior artilheiro da América do Sul e décimo segundo do mundo, à frente de grandes nomes como Ronaldo Fenômeno e Thierry Henry. Fui me desenvolvendo em clubes como Oriente Petrolero, Bolívar, The Strongest e encerrei minha carreira no Sport Boys de Warnes. Após me aposentar, estudei para me tornar treinador e desde então venho atuando em diversos clubes, buscando sempre evoluir e aprender como treinador. Meu sonho é retornar ao Brasil um dia e ter a oportunidade de treinar um clube no meu país. Estou preparado e espero que quando a oportunidade surgir, eu esteja pronto para assumir essa responsabilidade e fazer o meu melhor como treinador*.

*Sem dúvida, retornar ao Brasil é um sonho para mim. Como treinador, quem sabe um dia terei a chance de trabalhar em um clube brasileiro, o que seria muito gratificante para minha carreira. Estudei e me capacitei bastante. Atualmente possuo a licença pró, tanto da Federação Boliviana quanto da Conmebol, o que me habilita a treinar em qualquer clube do mundo, inclusive seleções. Estou pronto, sou um treinador jovem que deseja continuar aprendendo e melhorando. Conto com uma equipe técnica capacitada ao meu lado. Tudo tem seu momento e acredito que a oportunidade certa chegará, e quando isso acontecer, espero estar bem preparado para assumir essa grande responsabilidade e dirigir um clube no Brasil ou em qualquer outro país que ofereça as condições necessárias para trabalhar da melhor forma possível*.

Publicado em colunadofla.com

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