Prioridade x sonho: ex-Fla quer Europa, mas projeta encerrar a carreira no Rio

Humildade e
timidez aliadas ao dom de fazer gols. Sem alarde, Eduardo da Silva chega a mais
uma janela de transferências embasado por boa temporada recente com a camisa do
Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, e carinho do torcedor brasileiro – em especial do
Flamengo. Livre no mercado após decisão de não renovar com o clube ucraniano, o
atacante viu o nome ganhar força nos bastidores de equipes do Brasil, mas definiu
a prioridade atual: continuar na Europa.

Na
tranquilidade de seu condomínio na Zona Oeste do Rio de Janeiro, Eduardo
recebeu o GloboEsporte.com e deixou o lado família à mostra desde o primeiro
contato. Ao lado durante todo o momento, o fiel escudeiro Matheus Eduardo, de 8
anos, esbanjou carisma e foi apontado, juntamente com a irmã mais velha Lorena
Eduarda, como principais motivos para uma decisão visando a estabilidade
financeira para o futuro.

– É por isso
(pelos filhos) que estou pensando… Recebi várias sondagens, conversei com
vários clubes. Vou decidir o mais rápido por causa dos meus filhos, minha filha
já maior, meu filho menor. Quero investir neles, por isso tenho que pensar bem.
Minha prioridade hoje é a Europa, mas as coisas podem mudar de uma hora para a
outra. Estou negociando com dois clubes de lá, estou próximo do acerto, nenhum brasileiro fez proposta
oficial. Espero até semana que vem já saber. Sou brasileiro, nasci aqui, se
tivesse boa oportunidade ficaria no Brasil, mas me vejo mais valorizado lá
fora.

A notícia de
que não renovaria contrato com o Shakhtar rapidamente ganhou as redes sociais. Os
pedidos e lembranças da passagem do jogador de 33 anos com a camisa do Flamengo
não foram poucos (confira abaixo alguns dos gols com a camisa do Rubro-negro). Saulo Guerra, assessor e amigo do atacante – também presente
durante a entrevista -, confirmou há uma semana o interesse e sondagem do
Atlético-PR, mas a negociação não foi adiante. O carinho e admiração, mesmo com
pouco menos de um ano atuando no país durante a carreira, fazem Eduardo
guardar boas memórias, mas também uma frustração por não ter conquistado
títulos.

– O pouco tempo
que tive aprendi muita coisa no futebol brasileiro, apesar de ser carioca. Aprendi
a ter o carinho da torcida. Infelizmente cheguei no Flamengo naquela fase
difícil, brigando para não cair. Olhando hoje em dia, sinto um pouco por não
estar lá e não ter lutado para ser campeão. Por todos os clubes que passei lá
fora sempre briguei por títulos, essa é minha mentalidade. Uma pena, mas quem
sabe um dia, talvez até não no Flamengo, não sei, mas possa brigar por títulos
aqui no país.

Numa trajetória
profissional iniciada na Croácia – para onde viaja na noite desta quarta-feira
-, Eduardo conquistou o mundo, ganhou os holofotes no Arsenal, da Inglaterra,
superou adversidades, como a grave lesão no tornozelo em 2008, e colecionou
conquistas. O caminho, segundo ele, o torna realizado na profissão. Pensando na reta final da carreira, apenas uma
coisa o faria ainda mais realizado.

– Praticamente
realizei a maioria dos meus sonhos. Talvez (meu sonho) seja jogar aqui no Rio
de Janeiro e conquistar um título importante. Apesar de não estar muito
preparado para voltar ao Brasil, dou prioridade para o Rio de Janeiro por ser
daqui, mais próximo da família e amigos. Talvez no fim da carreira possa optar.
Mas faço 34 anos agora, não tenho data prevista para encerrar. Quero jogar
muito futebol ainda.

Confira outros trechos da entrevista de Eduardo da Silva

Nova passagem pelo Shakhtar, com direito a premiação

– Quando eu saí
do Flamengo, no meio de 2015, eu recebi um convite para voltar ao Shakhtar.
Fiquei um ano e meio, a primeira temporada foi ótima. Fomos bem na Liga Europa,
chegamos na semifinal, não avançamos por detalhes. Consegui jogar bem a
temporada e fui escolhido o jogador da temporada do clube. Reconhecimento muito
importante para mim. A temporada 2016/17, que praticamente falta meio ano para
o contrato, mudou o treinador, chegou com outra visão, que faz parte. Cheguei a
jogar menos. Quando muda o treinador muda tudo, o conceito, o estilo. O (Mircea) Lucescu
é um grande treinador, passou 12 ou 13 anos no Shakhtar, conquistou troféus
importantes. É difícil comparar com ele pelo estilo ofensivo de jogar. O Paulo
Fonseca é diferente, é ofensivo, mas gosta do trabalho muito tático.

Experiência no Flamengo

– O que tive no
Flamengo foi uma grande experiência. Quando recebi esse convite para jogar no
Flamengo foi difícil de recusar, um grande clube brasileiro, qualquer jogador
tinha que pensar. Abri mão de muita coisa para jogar aqui, mesmo na época em
condições ruins, em último, mas era meu sonho vir para o Brasil. Me adaptei
muito rápido, achei desgastante só mesmo as viagens, aeroporto, corpo arriado.
Tudo prolongado, diferente do que era lá fora, avião particular, tudo rápido,
simples. Pequenos detalhes.

Espelho em Zé Roberto e Ibrahimovic

– Eu me sinto
bem fisicamente. Alguns param por causa da saúde, por algum problema. A maioria
dos jogadores gostariam de jogar o máximo que pode. Nesse último Brasileiro
tivemos exemplo de jogadores experientes. O Zé Roberto é um caso, consegue
jogar em alto nível e é bom para espelhar nesses caras quando chega na casa dos
30, 31 anos. Lá fora o Zlatan Ibrahimovic, com 36 anos, já joga há mais de 15
nesse nível. Gosto de me espelhar nesses caras.

Mercado que gostaria de jogar

– Se eu
pudesse, tivesse outra oportunidade, voltaria a disputar a Premier League. É o
melhor do mundo, de força, de tudo. Quando eu cheguei lá batiam em mim, eu
caía, ficava com raiva, mas aprendi que não funcionava daquele jeito. Era ficar
de pé, revidar e segue o jogo, mas tudo honesto. Lá se você fizer palhaçada em
campo, se jogar, simular, fica marcado pela torcida toda vez que você dominar a
bola. São dois, três jogos até esquecerem.

Fonte: http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2017/01/prioridade-x-sonho-ex-fla-quer-europa-mas-projeta-encerrar-carreira-no-rio.html

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