A saída de Renato Gaúcho sem a conquista de nenhum título no Flamengo tira da diretoria do clube e do elenco profissional um escudo que os protegia.

O treinador, pedido pela maioria dos torcedores, diga-se de passagem, foi uma solução rápida e óbvia quando assumiu em julho, para substituir Rogério Ceni. No entanto, não havia um plano nem uma filosofia idealizada pela diretoria para enfrentar os percalços pós-pandemia.

Em três anos da gestão de Rodolfo Landim e do comando de Marcos Braz no futebol, foram 12 títulos em 14 finais disputadas, é verdade, mas apenas um trabalho completo, o de Jorge Jesus. Que ficou menos de um ano e jogou mesmo duas competições ao mesmo tempo.

Os outros quatro treinadores que percorreram o triênio tiveram passagem abreviada. Deles, os únicos que não conquistaram nada foram Renato Gaúcho e Doménec Torrent. Com Jesus, foram cinco títulos – Libertadores, Brasileiro, Supercopa do Brasil, Recopa, Carioca-, em um ciclo completo, encerrado no segundo ano, após a conquista do Estadual.

O segundo treinador que mais venceu foi Rogério Ceni, com a conquista do do Brasileiro 2020 este ano, do Estadual 2021, e novamente da Supercopa do Brasil. Abel Braga levou apenas o Carioca de 219.

Desde o começo da gestão, a diretoria investiu no elenco milionário e alternou perfis de treinadores de acordo com o sucesso da equipe. Agora, com boas chances de reeleição de Landim, o desafio é encontrar um norte com mais planejamento. E entender que, se é para brigar por três competições sempre, será necessário um nível maior de excelência.

Comando frágil

Da saída de Renato Gaúcho até o começo da próxima temporada, serão três meses pela frente. Tempo suficiente para a estruturação de um modelo de gestão de futebol menos baseado em nomes e mais baseado em processos e profissionalismo.

Sabe-se que na atual conjuntura, a governança do futebol e a do clube vivem realidades distintas. No Ninho do Urubu, jogadores experientes são as principais vozes de um departamento com comando frágil. Abaixo de Marcos Braz, o diretor Bruno Spindel, o gerente de futebol Fabinho e o gerente técnico Juan têm pouca experiência e não exercem exatamente o papel de fazer cobranças.

As renovações de Diego Ribas, Diego Alves e Filipe Luís demonstram que não há reposição de lideranças. Além destes, jogadores como Éverton Ribeiro, Rodrigo Caio e o próprio David Luiz colocam em dúvida se serão de fato soluções para um novo ciclo. Sobretudo por questões físicas. O departamento médico, que vinha em ascensão nos últimos cinco anos, vive crise clara. E não sabe mais lidar com o calendário incessante no Brasil.

A troca de comando técnico é só a ponta do iceberg de uma série de ajustes que o Flamengo precisará fazer se quiser se manter na hegemonia do futebol brasileiro. No momento, ela foi perdida para Atlético-MG e Palmeiras. Que investiram não apenas em elenco, mas também em ideias e em profissionais de alto nível fora dos gramados.